“Um grão de poesia basta para perfumar todo um século.”
– José Martí, em “Páginas escolhidas”.
.
Meu cavaleiro
De manhã cedo
meu pequerrucho
me despertava
com um grande
beijo.
Logo montado
sobre meu peito
freios forjava
com meus cabelos.
Ébrios de gozo
tanto eu como ele
me esporeava
meu cavaleiro:
que suave espora
seus dois pés
frescos!
E como ria
meu cavaleiro!
Como eu beijava
seus pés pequenos
dois pés que cabem
juntos num beijo!
.
Mi caballero
Por las mañanas
Mi pequeñuelo
Me despertaba
Con un gran beso.
Puesto a horcajadas
Sobre mi pecho,
Bridas forjaba
Com mis cabellos.
Ebrio él de gozo,
De gozo yo ebrio,
Me espoleaba
Mi caballero:
iQué suave espuela
Sus dos pies frescos!
iCómo reía
Mi jineuelo!
Y yo besaba
Sus pies pequeños,
iDos pies que caben
En solo un beso!
– José Martí [tradução Henriqueta Lisboa]. no livro “Henriqueta Lisboa: poesia traduzida”. (organização, introdução e notas Reinaldo Martiniano Marques e Maria Eneida Victor Farias). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
– José Martí, Poesía completa, 2ª ed., La Habana: Letras Cubanas, 1993.
§
Duas pátrias
Duas pátrias eu tenho: Cuba e a noite.
Ou as duas são uma? Nem bem retira
sua majestade o sol, com grandes véus
e um cravo à mão, silenciosa
Cuba qual viúva triste me aparece.
Eu sei qual é esse cravo sangrento
que na mão lhe estremece! Está vazio
meu peito, destruído está e vazio
onde estava o coração. Já é hora
de começar a morrer. A noite é boa
para dizer adeus. A luz estorva
e a palavra humana. O universo
fala melhor que o homem.
Qual bandeira
que convida a batalhar, a chama rubra
das velas flameja. As janelas
abro, já encolhido em mim. Muda, rompendo
as folhas do cravo, como uma nuvem
que obscurece o céu, Cuba, viúva, passa. . .
.
Dos patrias
Dos patrias tengo yo: Cuba y la noche.
¿O son una las dos? No bien retira
su majestad el sol, con largos velos
y un clavel en la mano, silenciosa
Cuba cual viuda triste me aparece.
¡Yo sé cuál es ese clavel sangriento
que en la mano le tiembla! Está vacío
mi pecho, destrozado está y vacío
en donde estaba el corazón. Ya es hora
de empezar a morir. La noche es buena
para decir adiós. La luz estorba
y la palabra humana. El universo
habla mejor que el hombre.
Cual bandera
que invita a batallar, la llama roja
de la vela flamea. Las ventanas
abro, ya estrecho en mí. Muda, rompiendo
las hojas del clavel, como una nube
que enturbia el cielo, Cuba, viuda, pasa…
– José Martí [tradução Olga Savary]. in: PAZ, Octavio. Os filhos do barro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1974.
– José Martí. Poesia completa. Madrid: Alianza Editorial, 2001.
§
Homens de mármore
Sonho com claustros de mármore
onde em silêncio divino
repousam heróis, de pé.
De noite, aos fulgores da alma,
falo com eles, de noite.
Estão em fila; passeio
Por entre as filas; as mãos
de pedra lhes beijo; entreabrem
os olhos de pedra; movem
os lábios de pedra; tremem
as barbas de pedra; choram;
vibra a espada na bainha!
Calada lhes beijo as mãos.
Falo com eles, de noite.
Estão em fila; passeio
por entre as filas; choroso
me abraço a um mármore. — “Ó mármore,
dizem que bebem teus filhos
o próprio sangue nas taças
envenenadas dos déspotas!
Que falam a língua torpe
dos libertinos! Que comem
reunidos o pão do opróbrio
na mesa tinta de sangue!
Que gastam em parolagem
as últimas fibras! Dizem,
ó mármore adormecido,
que tua raça está morta!
Atira-me à terra súbito,
esse herói que abraço; agarra-me
o pescoço; varre a terra
com meus cabelos; levanta
o braço; fulge-lhe o braço
semelhante a um sol; ressoa
a pedra; buscam a cinta
as mãos diáfanas; da peanha
saltam os homens de mármore!
.
XLV – Versos sencillos
Sueño con claustros de mármol
Donde en silencio divino
Los héroes, de pie, reposan:
¡De noche, a la luz del alma,
Hablo con ellos: de noche!
Están en fila: paseo
Entre las filas: las manos
De piedra les beso: abren
Los ojos de piedra: mueven
Los labios de piedra: tiemblan
Las barbas de piedra: empuñan
La espada de piedra: lloran:
¡Vibra la espada en la vaina!
Mudo, les beso la mano.
¡Hablo con ellos, de noche!
Están en fila: paseo
Entre las filas: lloroso
Me abrazo a un mármol: “¡Oh mármol,
Dicen que beben tus hijos
Su propia sangre en las copas
Venenosas de sus dueños!
¡Que hablan la lengua podrida
De sus rufianes! ¡Que comen
Juntos el pan del oprobio,
En la mesa ensangrentada!
!Que pierden en lengua inútil
El último fuego! ¡Dicen,
Oh mármol, mármol dormido,
Que ya se ha muerto tu raza!”
Échame en tierra de un bote
El héroe que abrazo: me ase
Del cuello: barre la tierra
Con mi cabeza: levanta
El brazo, ¡el brazo le luca
Lo mismo que un sol!: resuena
La piedra: buscan el cinto
Las manos blancas: ¡del sólo
Saltan los hombres de mármol!
– José Martí [tradução Henriqueta Lisboa]. no livro “Henriqueta Lisboa: poesia traduzida”. (organização, introdução e notas Reinaldo Martiniano Marques e Maria Eneida Victor Farias). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
– José Martí. “Poesía completa”. 2ª ed., La Habana: Letras Cubanas, 1993.
BREVE BIOGRAFIA
José Martí (1853-1895): Poeta, escritor, orador e jornalista é cultuado em Cuba como o grande mártir da independência do país em relação à Espanha. Para ele, a luta deveria ser uma verdadeira transformação cubana em todos os aspectos: econômico, político e social. Os ideais de Martí, junto com o marxismo-leninismo, guiam a política de Cuba até hoje.
Filho de José Julián Martí y Perez, espanhol de Valencia, e Leonor Pérez Cabrera, das Ilhas Canárias, José Martí é natural de Havana.
Aos 16 anos, influenciado pelas idéias separatistas de seu professor, o poeta Rafael Maria de Mendive, publica seu primeiro drama patriótico em versos, o Abdala, no único número do jornal La Pátria Libre. Este período é marcado pelo início da primeira luta pela soberania de Cuba, que ficou conhecida como a Guerra dos Dez Anos (1868-1878), a qual Martí apóia publicamente.
Martí foi preso por seus ideais revolucionários e condenado a seis anos de trabalhos forçados por sua participação política. Durante seis meses fica retido em uma pedreira perto de Havana.
Devido a sérios problemas de saúde agravados no cárcere e por conta dos esforços de sua mãe, consegue o indulto e é deportado para a Espanha em 1871, aos dezoito anos. Publica El Presídio Político en Cuba, o primeiro de muitos manifestos sobre a independência onde conta os horrores que passou nos presídios da ilha. Passa a articular com outros cubanos que estão fora da ilha e levanta o tema da independência na imprensa espanhola. Matricula-se ne Universidad Central, mas termina seus estudos na Universidad de Zaragoza, onde em 1874 é licenciado em Direito, Literatura, Filosofia e Letras. Muda-se para a França e em 1875 para o México, onde casa com Carmen Zayas Bazón. Em 1877 vai para a Guatemala, onde leciona na Universidad Nacional. Volta a Cuba em 1878, com o fim da Guerra dos Dez Anos, mas é novamente deportado no ano seguinte por suas atividades revolucionárias na chamada Guerra Chiquita, que durou até 1880. Vai para os Estados Unidos e vive entre 1881 e 1895 em Nova Iorque.
Fundou o Partido Revolucionário Cubano, sendo eleito para a organização pela luta da independência. No mesmo ano funda seu jornal diário separatista contra a dominação espanhola, o Patria. Dois anos depois é nomeado cônsul do Uruguai, mas logo após renuncia por causa de sua atividade política.
Neste período – início do imperialismo norte americano – percebe a urgência em formar uma identidade americana e passa a usar o termo Nuestra América. No ano seguinte escreve – junto com o general Máximo Gómez, herói da independência – o Manifiesto de Monticristi, na ilha de Santo Domingo, onde propõe a guerra sem ódio. Volta a Cuba para articular a luta. A segunda etapa da guerra, iniciada em 1895, foi liderada por José Martí, Antônio Maceo e Calixto García. A luta ganhou força e fez com que os espanhóis buscassem soluções conciliatórias. Em fevereiro de 1878 fora assinado pelos revoltosos e pelas autoridades coloniais o Pacto de Zangón. O documento previa maior liberdade nas atividades comerciais em relação à Espanha e a abolição da escravatura. As decisões do acordo não foram cumpridas e o processo reformista ganhou força mais uma vez. José Martí encarregou-se de reagrupar os revoltosos. A luta armada é coordenada por Máximo Gomes e Antônio Maceo. Os combates são muito violentos. José Martí morre lutando em 19 de maio de 1895 após seu pequeno contingente de revoltosos deparar-se com as tropas espanholas no vilarejo de Dos Ríos. É mutilado pelos soldados e exibido à população. É sepultado em Santiago de Cuba.
Fonte: Associação Cultural Guantanamera
Saiba mais sobre José Martí:
Biografía | Portal José Martí
José Martí | Los Poetas
José Martí (1853—1895) – Literatura.us
“A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço.”
– José Martí, em “Discursos”.
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