Armstrong sonhou com um mundo melhor. E o fez, com aquele gogó dourado, capaz de trazer aspereza ao jazz, gênero que só existe da forma que o conhecemos hoje porque, no primeiro ano do século 20, em um 4 de agosto, nascia Louis Armstrong.
O muralista brasileiro Eduardo Kobra entregou no dia 4 de agosto (2019), em New Orleans, Estados Unidos, um mural sobre o cantor e trompetista Louis Armstrong (4/8/1901 a 6/7/1971), grande ícone do jazz. A obra, com 13 metros de altura por 12,65 metros de largura, se insere no contexto das comemorações do aniversário do músico, que nasceu na cidade. De acordo com Kobra, o trabalho foi realizado em cinco dias.
“O trabalho, que fica em uma área central, que foi importante para o desenvolvimento do jazz na cidade, foi extremamente desafiador e complexo, já que o painel tem cerca de 10 janelas, além de portas”, afirma Kobra, que acrescenta: “tenho muita conexão com a música e por isso fiz murais inspirados em mestres como Muddy Water, em Chicago; Bob Dylan em Minneapolis (ambos nos Estados Unidos) e Arthur Rubinstein em Lodz, na Polônia. Queria muito vir para New Orleans e aprovei o pouco tempo livre aqui na cidade para conhecer os lugares históricos e relevantes para o jazz”.
Kobra, que no ano passado pintou 20 murais nos EUA, 18 deles em Nova York, recebeu 42 convites para fazer obras no Exterior em 2019. “Fiz no primeiro semestre em Mônaco um painel sobre Aquecimento Global e agora pela primeira vez realizei obras em Buffalo e New Orleans. Ainda estou estudando cada convite e decidindo onde e quais os temas que abordarei nas cidades escolhidas”, diz o muralista, que tem cerca de 50 murais realizados nos EUA. O muralista chegou hoje em Miami, onde ficará cerca de uma semana antes de retornar para o Brasil.
Eduardo Kobra entregou, em 25 julho do mês passado, um mural de 11,5 metros de altura por 16,25 metros de largura na parede de um prédio na 1188 Hertel Av., região que vem sendo revitalizada na cidade de Buffalo, no estado de Nova York, Estados Unidos. O muralista brasileiro mostra a amizade de Mark Twain com o afrodescendente John T. Lewis. Como de hábito, Kobra destaca a diversidade, o que se insere na sua luta contra todas as formas de preconceito. “O racismo é um tema constante na obra do escritor e infelizmente ainda nos tempos atuais nos EUA e no mundo inteiro”, afirma.
O mural mostra Mark Twain sentado nos degraus de um alpendre cercado de vinhas. Ao lado, está um de seus melhores amigos, o já citado John T. Lewis, que era agricultor e criador de porcos. Nesse trabalho, sobre a cabeça de Twain, há uma referência ao cometa Halley, que passou nos anos do nascimento (1835) e da morte (1910) do escritor. Twain não nasceu em Buffalo, mas viveu dois anos na cidade, que foi marcante em sua trajetória. Segundo destacou Colin Dabkowski, do jornal “The Buffalo News”, “o par improvável de amigos, que estão enterrados próximos um do outro no Cemitério Woodlawn de Elmira, encontrou uma nova vida no mural repleto de cores caleidoscópicas na 1188 Hertel Avenue”.
A arte foi feita em seis dias, em 14 horas de trabalho diário, por Kobra acompanhado dos artistas Agnaldo Brito e Marcos Rafael, se insere ainda no contexto, iniciado há cinco anos, do renascimento da arte de rua de Buffalo. Nos últimos dois anos, é o nono mural pintado na Hertel Av. e também o carro-chefe para transformar a região Norte de Buffalo em um destino para turistas. O muralista conta que foi à cidade a convite da Albright-Knox Art Gallery.
No último dia 22 de julho, o artista brasileiro foi surpreendido com uma homenagem dada pela cidade de Búffalo, por iniciativa do vereador Joel P. Feroleto: “agora, todo 22 de julho será aqui na cidade o Dia do Eduardo Kobra (Eduardo Kobra Day). Há quatro ou cinco anos quase não havia murais em Buffalo, e agora temos o maior artista de mural do mundo inteiro aqui na cidade, na Avenida Hertel”, diz Feroleto.
Fonte: Estado de Minas | G1/O Globo.