Yara de Novaes dirige Cleide Queiroz e Plínio Soares em peça que fala de amor na terceira idade, da marginalização e do apagamento dos nossos idosos. Espetáculo estreia em 13 de abril no Sesc Pinheiros.
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Envelhecer no Brasil é um processo que pode ser doloroso, com enfrentamento de preconceitos, dificuldades financeiras e da busca pelo aplacar da solidão. Esses são alguns dos temas para os quais o dramaturgo Victor Nóvoa olha em seu novo espetáculo, Mãos Trêmulas. Com direção de Yara de Novaes, a peça estreia em 13 de abril no Sesc Pinheiros e fica em cartaz até 6 de maio, com sessões de quinta a sábado.
Protagonizada por Cleide Queiroz e Plínio Soares, a peça foi premiada pela II edição do prêmio dramaturgias em processo do TUSP e com proponência da produtora Catarina Milani foi contemplada pela 15ª edição do Prêmio Zé Renato. Neste retrato delicado, mas político, Nóvoa quis jogar luz sobre as histórias de idosos e idosas operárias e periféricas que sofrem a espoliação de sua lembrança.
A peça apresenta uma mulher e um homem que, por conta de suas mãos trêmulas e idade avançada, são descartados pela sociedade. Na trama, ela é uma costureira que trabalhava com produções teatrais e ele um ajudante de cozinha. Os dois se encontram na vida após perderem seus trabalhos, por serem considerados velhos demais. Morando juntos, mas sem perspectivas financeiras, vão criar estratégias para evitar mais um processo de despejo.
Para criar a dramaturgia, Nóvoa, primeiro, foi instigado por histórias próximas: experiências da mãe, dos tios e das tias. Depois, passou a estudar o tema e encontrou no livro Memória e sociedade: Lembranças de velhos, de Ecléa Bosi, conceitos que o ajudariam a contar estas histórias.
“Há um recorte social e periférico que atravessa essas experiências da minha família. Então, eu fui pesquisar socialmente sobre o tema. E a partir da relação mais íntima, comecei a questionar a estrutura: como a nossa sociedade capitalista do desempenho e da eficiência trata os nossos velhas e velhos, em especial de pessoas periféricas. Quando se pensa nos corpos e nas memórias, como mercadorias, eles se tornam descartáveis. Então essa pulsão do íntimo ao estrutural foi importante”, explica o dramaturgo.
Colocar a potência do texto em cena foi um desafio e um prazer para a diretora. “O texto é muito teatral porque consegue alterar o tempo e fazer experiências com a realidade. É uma dramaturgia que dialoga com a atuação, a cena, o Brasil, ficciona o real e gera afetos muito importantes nesse momento. A minha concepção se ancora na ideia de que estamos todos o tempo todo em grandes e imprescindíveis metamorfoses. Não há quem ou o que nesse mundo não esteja em movimento e envelhecer é uma estação desse percurso”, declara.
Cleide Queiroz e Plínio Soares são os únicos atores em cena e Novaes celebra a escolha da dupla de protagonistas que, além da sensibilidade, também carrega uma história intimamente ligada ao teatro. “Eles são os artistas perfeitos para fazerem esse trabalho, pois são pessoas que reconhecem no teatro um lugar em que o poético se encontra com o político e pode criar pequenas e grandes revoluções”, elogia.
A peça estreia em um momento em que o etarismo está pautado na mídia e nas discussões sociais. Para Nóvoa, a coincidência do timing escancara uma realidade que sempre aconteceu longe dos holofotes. “Isso acontece há muito tempo e continua acontecendo. Então é muito importante colocar luz sobre esse fato pra gente refletir e entender como nossa sociedade descarta e faz cobranças sobre os corpos. E isso também é ligado à identidade. Acho que o texto busca tratar da potência da vida. Já que eles são descartados, vivem, na intimidade: o amor, o afeto, a sexualidade e o acolhimento”, diz o autor.
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Ficha técnica
Direção: Yara de Novaes. Assistência de Direção: Ivy Souza. Dramaturgia: Victor Nóvoa. Colaboração Dramatúrgica: Salloma Salomão. Elenco: Cleide Queiroz e Plínio Soares. Preparação Corporal: Ana Vitória Bella. Figurinos: Fábio Namatame. Cenário: André Cortez. Iluminação: Marisa Bentivegna. Trilha Sonora: Raul Teixeira. Direção Audiovisual: Julia Rufino. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Registro fotográfico: Noelia Nájera. Direção de Produção: Catarina Milani. Assistência de Produção: Paula Praia.
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Serviço:
Mãos Trêmulas estreia dia 13 de abril no Sesc Pinheiros
Temporada: de 13 de abril a 6 de maio. Quinta a Sábado, às 20 horas. Dia 21/04 às 18h.
Duração: 60 minutos.
Classificação: 16 anos
Sesc Pinheiros – Auditório – 3º andar
Rua Paes Leme, 195, Pinheiros
Ingressos: R$10,00 credencial plena. R$15,00 meia. R$30,00 inteira
https://www.sescsp.org.br/programacao/maos-tremulas
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