quinta-feira, dezembro 19, 2024

Mario Benedetti – poemas

Por que cantamos
Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos
se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha
você perguntará por que cantamos
se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro
você perguntará por que cantamos
cantamos porque o rio está soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino
.

Por que cantamos
Si cada hora viene con su muerte
si el tiempo es una cueva de ladrones
los aires ya no son los buenos aires
la vida es nada más que un blanco móvil

usted preguntará por qué cantamos
si nuestros bravos quedan sin abrazo
la patria se nos muere de tristeza
y el corazón del hombre se hace añicos
antes aún que explote la vergüenza
usted preguntará por qué cantamos
si estamos lejos como un horizonte
si allá quedaron árbores y cielo
si cada noche es siempre alguna ausencia
y cada despertar un desencuentro
usted preguntará por qué cantamos
cantamos porque el río está sonando
y cuando suena el río / suena el río
cantamos porque el cruel no tiene nombre
y en cambio tiene nombre su destino
– Mario Benedetti, no livro “Antologia poética”. [tradução de Julio Luís Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
– Mario Benedetti.’Retratos y canciones’.

§

Amor de tarde
É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são quatro
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis.
Você podia chegar de repente
e dizer “e aí?” e ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono.
.

Amor de tarde
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme «¿Qué tal?» y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
Mario Benedetti, en “Poemas de la oficina” (1953-1956).

§

Em pé
Continuo em pé
por pulsar
por costume
por não abrir a janela decisiva
e olhar de uma vez a insolente
morte
essa mansa
dona da espera

continuo em pé
por preguiça nas despedidas
no fechamento e demolição
da memória

não é um mérito
outros desafiam
a claridade
o caos
ou a tortura

continuar em pé
quer dizer coragem

ou não ter
onde cair
morto
.

En pie
Sigo en pie
por latido
por costumbre
por no abrir la ventana decisiva
y mirar de una vez a la insolente

muerte
esa mansa
dueña de la espera

sigo en pie
por pereza en los adioses
cierre y demolición
de la memória

no es un mérito
otros desafían
la claridad
el caos
o la tortura

seguir en pie
quiere decir coraje

o no tener
donde caerse
muerto
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
– Mario Benedetti.’A ras de sueño’. 1967.

§

Sou meu hóspede
Sou meu hóspede noturno
em doses mínimas
e uso a noite
para despojar-me
da modéstia
e outras vaidades
procuro ser tratado
sem os prejuízos
das boas-vindas
e com as cortesias
do silêncio
não coleciono padeceres
nem os sarcasmos
que deixam marca
sou tão-só
meu hóspede
e trago uma pomba
que não é sinal de paz
mas sim pomba
como hóspede
estritamente meu
no quadro-negro da noite
traço uma linha
branca
.

Soy mi huésped
Soy mi huésped nocturno
en dosis mínimas
y uso la noche
para despojarme
de la modestia
y otras vanidades

aspiro a ser tratado
sin los prejuicios
de la bienvenida
y con las cortesías
del silencio

no colecciono padeceres
ni los sarcasmos
que hacen mella

soy tan solo
mi huésped
y traigo una paloma
que no es prenda de paz
sino paloma

como huésped
estrictamente mío
en la pizarra de la noche
trazo una línea
blanca
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
– Mario Benedetti. ‘La vida ese parentesis’.

§

Só enquanto isso
Você volta, dia de sempre,
rompendo o ar justamente onde
o ar tinha crescido feito muros.

Você porém nos ilumina brutalmente
e na simples náusea da sua claridade
sabemos quando nos cairão os olhos,
o coração, a pele das recordações.

Claro, enquanto isso
há frases, há pétalas, há rios,
há a ternura como um vento úmido.
Só enquanto isso.
.

Sólo mientras tanto
Vuelves, día de siempre,
rompiendo el aire justamente donde
el aire había crecido como muros.

Pero nos iluminas brutalmente
y en la sencilla náusea de tu claridad
sabemos cuándo se nos caerán los ojos,
el corazón, la piel de los recuerdos.

Claro, mientras tanto
hay oraciones, hay pétalos, hay ríos,
hay la ternura como un viento húmedo.
Sólo mientras tanto.
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.

§

A ponte
Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um pais

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país
.

El puente
Para cruzarlo o para no cruzarlo
ahí está el puente

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país

traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar

vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
las tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra

nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco

ahí está el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar
sin prevenciones

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país.
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
– Mario Benedetti. ‘Preguntas al azar’. 1984-1985.

§

Virar a página
É meu lugar
meu céu
meu travesseiro
meus insultos

sou quem sou porque os outros são
há uma história em cada amanhecer
e em cada transparência do crepúsculo

estive doze anos sem virar esta página
esperando sua letra suas estampas
imaginando coisas que não diz
mas que eram igualmente certas

sem virar esta página
ninguém pode ser alguém

pode somar paisagens
espigões torrentes
multidões fronteiras
pode colecionar amores e sabores
aplausos e vaias
manjares e esmolas
os rumos os atalhos
as diferenças as indiferenças
a solidariedade e o exorcismo
as ofertas saborosas os escândalos
os dedos que assinalam e os braços abertos
as decepções e as recompensas
as recusas e as convocatórias
e no entanto é verdade
sem virar esta página,
ninguém pode ser alguém.
.

Volver lá página
Es mi lugar
mi cielo
mi almohada
mis insultos

soy el que soy porque los otros son
hay una historia en cada amanecer
y en cada transparencia del crepúsculo

estuve doce años sin volver esta página
esperando su letra sus estampas
imaginando cosas que no dice
pero que eran igualmente ciertas

sin volver esta página
nadie puede ser alguien

puede sumar paisajes
rascacielos torrentes
muchedumbres fronteras
puede coleccionar amores y sabores
aplausos y abucheos
manjares y limosnas
los rumbos los atajos
las diferencias las indiferencias
la solidaridad y el exorcismo
las ofertas sabrosas los escándalos
los dedos que señalan y los brazos abiertos
los escarmientos y las recompensas
los portazos y las convocatorias
y sin embargo es cierto
sin volver esta página
nadie puede ser alguien
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.

§

Lento mas vem
Lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem

hoje está mais além
das nuvens que escolhe
e mais além do trovão
e da terra firme

demorando-se vem
qual flor desconfiada
que vigila ao sol
sem perguntar-lhe nada

iluminando vem
as últimas janelas

lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem

já se vai aproximando
nunca tem pressa
vem com projetos
e sacos de sementes

com anjos maltratados
e fiéis andorinhas

devagar mas vem
sem fazer muito ruído
cuidando sobretudo
os sonhos proibidos

as recordações dormidas
e as recém-nascidas

lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem

já quase está chegando
com sua melhor notícia
com punhos com olheiras
com noites e com dias

com uma estrela pobre
sem nome ainda

lento mas vem
o futuro real
o mesmo que inventamos
nós mesmos e o acaso

cada vez mais nós mesmos
e menos o acaso

lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem

lento mas vem
lento mas vem
lento mas vem
.

Lento pero viene
Lento viene el futuro
lento
pero viene

ahora está más allá
de las nubes ramplonas
y de unas cimas ágiles
que aún no se distinguen
y mas allá del trueno
y de la araña

demorándose viene
como una flor porfiada
que vigilara al sol

a lo mejor es eso
la vida cotidiana
prepara bienvenidas
cierra caldos de usura
abre memorias vírgenes

pero él
no tiene prisa
lento
viene
por fin como su respuesta
su pan para la hambruna
sus magullados ángeles
sus fieles golondrinas

lento
pero no lánguido

ni ufano
ni aguafiestas
sencillamente
viene
con su afilada hoja
y su balanza
preguntando ante todo
por los sueños
y luego por las patrias
los recuerdos yacentes
y los recién nacidos

lento
viene el futuro
con sus lunes y sus marzos
con sus puños y ojeras y propuestas
lento y no obstante raudo
como estrella pobre
sin nombre todavía
convaleciente y lento
remordido
soberbio
modestísimo
ese experto futuro que nos inventamos
nosotros
y el azar
cada vez más nosotros
y menos el azar.
– Mario Benedetti “Antologia poética”. [tradução Julio Luiz Gehlen]. Rio de Janeiro: Record, 1988.
– Mario Benedetti. ‘Cotidianas’. 1978-1979.

§

Um chegar e incorporar-se o dia
Dois respirar para subir a ladeira
Três não jogar-se em uma só aposta
Quatro escapar da melancolia
Cinco aprender a nova geografia
Seis não ficar-se nunca sem a sesta
Sete o futuro não será uma festa e
Oito não assustar-se ainda
Nove vai a saber quem é o forte
Dez não deixar que a paciência ceda
Onze cuidar-se da boa sorte
Doze guardar a última moeda
Treze não tratar-se com a morte
Catorze desfrutar enquanto se pode.
.

Uno llegar e incorporarse el día
Dos respirar para subir la cuesta
Tres no jugarse en una sola apuesta
Cuatro escapar de la melancolía
Cinco aprender la nueva geografía
Seis no quedarse nunca sin la siesta
Siete el futuro no será una fiesta
Y ocho no amilanarse todavía
Nueve vaya a saber quién es el fuerte
Diez no dejar que la paciencia ceda
Once cuidarse de la buena suerte
Doce guardar la última moneda
Trece no tutearse con la muerte
Catorce disfrutar mientras se pueda.
– Mário Benedetti. tradução de Maria Teresa Almeida Pina.

§

Minha tática é…
Minha tática é
olhar-te
aprender como tu és
querer-te como tu és

minha tática é
falar-te
e escutar-te
construir com palavras
uma ponte indestrutível

minha tática é
ficar em tua lembrança
não sei como nem sei
com que pretexto
porém ficar em ti

minha tática é
ser franco
e saber que tu és franca
e que não nos vendemos
simulados
para que entre os dois

não haja cortinas
nem abismos

minha estratégia é
em outras palavras
mais profunda e mais
simples
minha estratégia é
que um dia qualquer
não sei como nem sei
com que pretexto
por fim me necessites.
.

Mi táctica es…
Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos

no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple
mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.
– Mario Benedetti. tradução de Maria Teresa Almeida Pina.

§

Façamos um trato
Companheira
você sabe
que pode contar
comigo
não até dois
ou até dez
senão contar
comigo

se alguma vez
percebe
que a olho nos olhos
e um brilho de amor
reconheces nos meus
não alerte seus fuzis
nem pense que deliro
apesar do brilho
ou talvez porque existe
você pode contar
comigo

se outras vezes
me encontra
intratável sem motivo
não pense que fraquejara
igual pode contar
comigo

porém façamos um trato
eu quisera contar
com você
é tão lindo
saber que você existe
um se sente vivo
e quando digo isto
quero dizer contar
embora seja até dois
embora seja até cinco
não já para que acuda
pressurosa em meu auxílio
senão para saber
a ciência certa
que você sabe que pode
conta comigo.
.

Hagamos un trato
Compañera
usted sabe
que puede contar
conmigo
no hasta dos
o hasta diez
sino contar
conmigo

si alguna vez
advierte
que la miro a los ojos
y una veta de amor
reconoce en los míos
no alerte sus fusiles
ni piense qué delirio
a pesar de la veta
o tal vez porque existe
usted puede contar
conmigo

si otras veces
me encuentra
huraño sin motivo
no piense qué flojera
igual puede contar
conmigo

pero hagamos un trato
yo quisiera contar
con usted
es tan lindo
saber que usted existe
uno se siente vivo
y cuando digo esto
quiero decir contar
aunque sea hasta dos
aunque sea hasta cinco
no ya para que acuda
presurosa en mi auxilio
sino para saber
a ciencia cierta
que usted sabe que puede

contar conmigo.
– Mario Benedetti. tradução de Maria Teresa Almeida Pina.

§

Ah as primícias
Ah as primícias / como envelheceram
como o azar se converteu em castigo
como o futuro se esvaziou de pobres
como os prêmios colheram prêmios
como desamoraram os amores
como a façanha terminou em suspeita
e os oráculos emudeceram

tudo afunda na névoa do esquecimento
porém quando essa névoa se dissipa
o esquecimento está cheio de memória
.

Ah las primicias
Ah las primicias / cómo envejecieron
cómo el azar se convirtió en castigo
cómo el futuro se vació de humildes
cómo los premios cosecharon premios
cómo desamoraron los amores
cómo la hazaña terminó en sospecha
e los oráculos enmudecieron

todo se hunde en la niebla del olvido
pero cuando la niebla se despeja

el olvido está lleno de memoria
– Mario Benedetti, poema “Ah as primícias/Ah las primicias”. [tradução Dalila Teles Veras]. publicado ‘A Cigarra’ – revista literária, Santo André|SP, n. 35, junho 2000.

§

Esse grande simulacro
Cada vez que nos dão lições de amnésia
como se nunca houvesse existido
os ardentes olhos da alma
ou os lábios da pena órfã
cada vez que nos dão aulas de amnésia
e nos obrigam a apagar
a embriaguez do sofrimento
convenço-me de que meu território
não é a ribalta de outros

Em meu território há martírios de ausência
resíduos de sucessos / subúrbios enlutados
mas também singelezas de rosa
pianos que arrancam lágrimas
cadáveres que ainda olham de seus hortos
lembranças imóveis em um poço de colheitas
sentimentos insuportavelmente atuais
que se negam a morrer no escuro

O esquecimento está tão cheio de memória
que às vezes não cabem as lembranças
e rancores precisam ser jogados pela borda
no fundo o esquecimento é um grande simulacro
ninguém sabe nem pode / ainda que queira / esquecer
um grande simulacro abarrotado de fantasmas
esses romeiros que peregrinam pelo esquecimento
como se fosse o caminho de santiago

o dia ou a noite em que o esquecimento estale
exploda em pedaços ou crepite /
as lembranças atrozes e as de maravilhamento
quebrarão as trancas de fogo
arrastarão afinal a verdade pelo mundo
e essa verdade será a de que não há esquecimento
.

Ese gran simulacro
Cada vez que nos dan clases de amnesia
como si nunca hubieran existido
los combustibles ojos del alma
o los labios de la pena huérfana
cada vez que nos dan clases de amnesia
y nos conminan a borrar
la ebriedad del sufrimiento
me convenzo de que mi región
no es la farándula de otros

en mi región hay calvarios de ausencia
muñones de porvenir / arrabales de duelo
pero también candores de mosqueta
pianos que arrancan lágrimas
cadáveres que miran aún desde sus huertos
nostalgias inmóviles en um pozo de otoño
sentimientos insoportablemente actuales
que se niegan a morir allá en lo oscuro

el olvido está tan lleno de memoria
que a veces no caben las remembranzas
y hay que tirar rencores por la borda
en el fondo el olvido es un gran simulacro
nadie sabe ni puede / aunque quiera / olvidar
un gran simulacro repleto de fantasmas
esos romeros que peregrinan por el olvido
como si fuese el camino de santiago

el día o la noche en que el olvido estalle
salte en pedazos o crepite /
los recuerdos atroces y los de maravilla
quebrarán los barrotes de fuego
arrastrarán por fin la verdad por el mundo
y esa verdad será que no hay olvido
– Mario Benedetti, poema “Esse grande simulacro/Ese gran simulacro”. [tradução Dalila Teles Veras]. publicado ‘A Cigarra’ – revista literária, Santo André|SP, n. 35, junho 2000.

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Mario Benedetti, por Sketchoholic

BREVE BIOGRAFIA DE MARIO BENEDETTI
Mario Benedetti, o poeta uruguaio do compromisso e cronista dos sentimentos, morreu em Montevidéu aos 88 anos. Romancista, contista, ensaísta, dramaturgo e crítico, foi um resistente que viveu e lutou contra o exílio e a doença. Os seus livros de contos, novelas e poemas são uma referência para os leitores da América do Sul e da Europa, sobretudo Espanha. Benedetti foi o mais prolífico expoente da literatura uruguaia, com obras traduzidas em vários idiomas.

Deixou mais de 80 livros. A juventude para quem escrevia era também um dos seus temas preferidos. “Tinha a esperança que os jovens se lembrassem de mim. A juventude atual sempre esteve presente. Quando leio poemas nos teatros metade da sala é ocupada por jovens”, declarou numa entrevista antiga.

Iniciou a carreira literária em 1949. Durante anos dividiu a sua vida entre Montevidéu, Maiorca e Madri para escapar do úmido inverno uruguaio que afetava sua asma crônica. O autor tinha um estado de saúde bastante delicado e estava em sua casa, na capital uruguaia, quando morreu. No ano passado, o escritor foi hospitalizado quatro vezes em Montevidéu devido a diversos problemas físicos.

O autor ficou famoso em 1956 a sua obra poética mais conhecida o livro “Poemas de escritório”.
Fonte: USP.

Obra poética de Mário Benedetti em português
:: Antologia poética. Mario Benedetti. [seleção, apresentação e tradução de Julio Luís Gehlen]. Rio de Janeiro: Editora Record, 1988.

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:: Mario Benedetti – Poesia Latina
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© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


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