10 dez hokku (haikai) de Matsuo Bashô em tradução de Gustavo Frade
.
OUTONO
見送りのうしろや寂し秋の風
miokuri no / ushiro ya sabishi / aki no kaze
.
(1688)
.
Na despedida
as costas! Solitário
vento de outono.
.
旅に飽きてけふ幾日やら秋の風
tabi ni akite / kyō ikuka yara / aki no kaze
.
(1688)
.
Cansei da viagem
hoje faz quantos dias?
Vento de outono.
INVERNO
.
冬の日や馬上に氷る影法師
fuyu no hi ya / bashō ni kōru / kagebōshi
.
(entre 1687 e 88)
.
O sol de inverno:
a cavalo congela
a minha sombra.
.
霜を着て風を敷き寝の捨子哉
shimo o kite / kaze o shikine no / sutego kana
.
(entre 1662 e 1669)
.
Veste geada
e se forra de vento
bebê na rua.
PRIMAVERA
.
蝶鳥の浮つき立つや花の雲
chō tori no / uwatsuki tatsu ya / hana no kumo
.
(entre 1684 e 1694)
.
Borboletas e
aves agitam voo:
nuvem de flores.
.
なほ見たし花に明け行く神の顔
nao mitashi / hana ni ake yuku / kami no kao
.
(1688)
.
Quero ainda ver
nas flores no amanhecer
a face de um deus.
VERÃO
.
ほととぎす今は俳諧師なき世哉
hototogisu / ima wa haikaishi / naki yo kana
.
(entre 1681 e 1683)
.
Vozes das aves.
Nessas horas, um poeta
não tem mais mundo.
.
わが宿は蚊の小さきを馳走かな
waga yado wa / ka no chiisaki o / chisō kana
.
(1690)
.
Na minha casa
pernilongo pequeno
é o que ofereço…
.
五月雨に鶴の足短くなれり
samidare ni / tsuru no ashi / mijikaku nareri
.
(1681)
.
Chuva de verão
perna de garça
então se torna curta.
SEM ESTAÇÃO
.
月花もなくて酒のむ独りかな
tsuki hana mo / nakute sake nomu / hitori kana
.
(1689)
.
Que lua, que flor
nada, bebo umas doses
aqui sozinho.
.
– Matsuo Bashô. dez hokku (haikai).. [tradução Gustavo Frade]. in: FRADE, Gustavo. Dez poemas de Matsuo Bashô. in: Em Tese, Belo Horizonte, v. 20 n. 2 maio-ago. 2014, p. 137-146. Disponível no link. (acessado em 12.8.2016.
BREVE BIOGRAFIA DE MATSUO BASHÔ
Matsuo Bashô, samurai e poeta mais famoso do período Edo no Japão e considerado o primeiro e maior poeta japonês do estilo haikai (ou haiku), morre em Osaka no dia 28 de novembro de 1694. Sua poesia é reconhecida internacionalmente e, no Japão, muitos dos seus poemas são reproduzidos em monumentos e locais tradicionais. Foi ele quem codificou e estabeleceu os cânones do tradicional haikai japonês, forma poética caracterizada pela concisão o objetividade.
Nascido em Tóquio em 1644, Bashô, adotou a simplicidade tanto na vida como na criação poética. Foi introduzido à poesia em tenra idade e, depois de integrar-se na cena intelectual de Edo, rapidamente se tornou conhecido em todo o Japão. Ganhava a vida como professor, mas renunciou à vida urbana e social dos círculos literários e ficou inclinado a vagar por todo o país, rumo ao oeste, leste e distante ao deserto do norte para ganhar inspiração para seus escritos e haiku. Seus poemas são influenciados pela experiência direta do mundo ao seu redor, muitas vezes englobando o sentimento de uma cena em alguns poucos elementos simples.
O haikai deriva de uma forma anterior de poesia, em voga no Japão entre os séculos IX e XII, designada por tanka; tinha cinco versos, de cinco e sete sílabas, que tratavam temas religiosos ou ligados à corte. São dois os elementos de conteúdo, em não mais do que duas frases: uma percepção sensorial, particular e imediata, e uma percepção sugestiva de maior amplitude circunstancial ou semântica. A separação entre os dois elementos é feita por uma palavra ou sinal gráfico, o kireji.
No século XV, os muitos concursos de poesia “tanka” deram origem a um jogo de escrita de longos poemas: a primeira estrofe, de três versos com cinco, sete e cinco sílabas, era sugerida por um poeta e as restantes iam surgindo e associando-se, num jogo competitivo entre vários poetas. Este tipo de poesia era a renga, de temática clássica, e os primeiros três versos, os mais importantes, pois serviam de mote, designavam-se por hokku.
No século XVI, tornou-se mais popular o haikai-renga, de temática humorística.
Rapidamente a estrofe inicial de três versos acabou por se tornar uma forma independente de poesia. Mas só no século XIX, o mestre Masaoka Shiki lhe atribuiu um nome, haiku.
Enriqueceu o haikai, superando a artificialidade de poetas anteriores e tornando-o artistica e socialmente aceito. A par de poemas de carácter lúdico, começou a valorizar o papel do pensamento no haiku, imprimindo-lhe o espírito do budismo zen.
Versátil, os seus poemas sugeriam os mais variados estados de espírito: humor, depressão, euforia, confusão, propiciando uma consciência da grandiosidade da natureza humana. Este caminho / Ninguém já o percorre, / Salvo o crepúsculo. / De que árvore florida / Chega? Não sei. / Mas é seu perfume.
Shiki, crítico de Bashô, considerava que sua poesia carecia de pureza e tinha demasiados elementos explicativos: o haikai deveria ser a partilha de um momento e não a sua explicação, privilegiando a descrição visual e o estilo conciso.
O haikai é mais do que uma forma de poesia; é uma forma de ver o mundo. Cada haikai capta um momento de experiência; um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida.
A percepção sensorial parte de um vocábulo associado a um elemento da natureza e, amiúde, às estações do ano. Não apresenta objetividade, mas a subjetividade expressa provém sempre de uma objetividade captada pelos sentidos. Uma sensação concreta – visual, auditiva, tátil – permite associações, sentimentos, memórias.
É uma forma de poesia breve, depurada, bela, simples e fluente. E também uma reação estética minimalista à crescente consciência humana do caos. Exige uma atenção aos mínimos eventos da natureza objetiva e imediata, uma permanente atitude de espanto diante do fenômeno da natureza.
De referir que, no Oriente, o conceito de união entre o homem e a natureza é diferente do ocidental: o homem também é a natureza, por isso, o conceito de união remete para aquele momento específico em que o homem reconhece essa natureza a que ele também pertence.
O haiku foi absorvido por outras culturas e línguas, tendo ganho popularidade em diversas regiões do mundo durante o século XX, nomeadamente no Brasil, América, Canadá, França, Índia e alguns países dos Balcãs. Frequentemente designado por haikai pelos poetas de expressão portuguesa, chegou ao Ocidente, quer pela via da imigração japonesa, quer pelo fascínio que o Oriente foi gradualmente exercendo sobre os ocidentais.
Fonte: Opera Mundi
.
mais sobre bashô
BOSCATTO, Eli. bashô e os haicais – pequenas doses de emoção. in: Obvious. Disponível no link. (acessado em 13.8.2016).
E havia luz demais para seus olhos. De repente um repuxão; ajeitavam-no, mas ele não…
Estavam na casa de campo, ele e a mulher. Iam todos os fins de semana.…
Não é a primeira vez que escrevo meu nome, Renato Valenzuela, e o vejo como…
Um dos mais inventivos e prolíficos artistas de sua geração, cantor e compositor maranhense Negro…
Aos 82 anos, Guiga de Ogum, um dos grandes nomes do samba e da música…
“A Farsa do Panelada” com a missão de fazer o público rir através do texto…