Narrativa clássica ganha contornos feministas no espetáculo Memórias do Mar Aberto: Medeia conta sua história. Texto da brasileira Consuelo de Castro é montado no Teatro Paiol Cultural com idealização de Roberta Collet e direção de Reginaldo Nascimento
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Em 1997, a dramaturga Consuelo de Castro (1946-2016) publicou sua versão de Medeia, com a ideia de desconstruir sua imagem – na mitologia grega é a mulher que mata os filhos para se vingar da traição de seu marido, Jasão. A montagem de Memórias do Mar Aberto: Medeia conta sua história, idealizada por Roberta Collet, que também está no papel principal, e dirigida Reginaldo Nascimento, estreia dia 17 de fevereiro e segue em cartaz até dia 24 de março, aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 19h, no Teatro Paiol Cultural (R. Amaral Gurgel, 164 – Vila Buarque).
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“Sempre quis montar Medeia e convidei o diretor Reginaldo para embarcar nessa ideia comigo. Mas ele preferia atualizar o original, para se conectar com questões do nosso tempo. Assim, durante nossa pesquisa encontramos a dramaturgia da Consuelo, que se casava perfeitamente com o que queríamos”, conta Roberta.
O texto de Consuelo mostra Medeia por outros ângulos: na trama, ela tem ideais políticos e chefia a expedição dos Argonautas no lugar de Jasão. De acordo com o mito, a missão desses navegantes era ir à Cólquida buscar o Velocino de Ouro, um presente dos deuses cujo poder era atrair prosperidade.
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Medeia lutava para garantir a paz entre os povos do Ocidente e do Oriente. Por esse motivo, foi traída não só pelo amor de Jasão a uma outra mulher, mas por uma aliança política dele com o rei Creonte.
Para abordar todas essas dimensões no espetáculo, a encenação coloca o poder feminino a partir dos atos finais de vida, mortes e renascimentos que atravessam o caminho de Medeia. Ela representa a luta de tantas outras pela paz ao longo da história.
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A traição aparece em cada desejo inescrupuloso dos homens que a cercam no desenvolvimento da tragédia. “Ela é deslegitimada pelos deuses, pelos oráculos e pelo próprio Jasão. Em sua visão, todos esses agentes matam as pessoas que a ajudam e roubam seu direito de ser rainha”, comenta o diretor Reginaldo Nascimento.
SOBRE A ENCENAÇÃO
Medeia conta sua história de uma maneira diferente. Por isso, de acordo com o diretor Reginaldo Nascimento, a concepção do espetáculo se pauta em uma encenação limpa. “Nosso foco está na força das palavras e na potência das interpretações. Dessa maneira, o cenário é minimalista e a trilha sonora serve apenas para ambientar o espectador”, comenta.
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Na proposta cênica, todos os personagens já estão mortos – exceto Medeia, pois ela se tornou um símbolo. “Como minha ideia é que ela esteja expurgando os pecados, a narrativa acontece em retrospecto, como um filme. Ou seja, o palácio já foi queimado e os filhos já estão mortos. Assim, quero que os atores e atrizes estejam chamuscados pela poeira do fogo e do tempo – e o figurinista Chriz Aizner vai viabilizar isso”, detalha o diretor.
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Em relação à sonoplastia, Reginaldo Nascimento pensou em utilizar apenas músicas instrumentais. Haverá também a projeção de um mar, com o barulho constante de água, raios e trovões, dando o clima de uma tragédia grega.
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Os intérpretes são Roberta Collet, Felipe Oliveira, Haroldo Bianchi, Joca Sanches e Rodrigo Ladeira. A peça foi montada com recursos próprios, sem o apoio de leis de incentivo.
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“Para nós, é uma alegria montar esse texto no Teatro Paiol Cultural, que abriu as portas em 1969, justamente com um texto de Consuelo de Castro”, afirma Nascimento.
SINOPSE
Versão livre do mito de Medeia, no texto da dramaturga brasileira Consuelo de Castro, a personagem-título toma o lugar de Jasão e chefia a expedição dos Argonautas, não por amor a ele, mas pelo ideal de paz entre os povos do Ocidente e do Oriente. Na peça, ela é traída não só pelo amor de Jasão a uma outra mulher, mas por uma aliança política dele com o rei Creonte.
A AUTORA
Dramaturga, roteirista e publicitária. Nasceu em Araguari, MG, em 1946 e faleceu em São Paulo (SP), em 2016. Estudou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Participou ativamente do movimento estudantil dos anos 60. Escreveu seu primeiro texto em 1968, À Prova de Fogo, proibida pela censura e premiada em 1974 pelo Serviço Nacional de Teatro. A peça estreou em 1993, com direção de Aimar Labaki. Em 1969, escreveu seu segundo texto, À Flor da Pele, o primeiro a ser montado, e que recebeu o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos Teatrais (APCT). Na década de 70 escreveu Caminho de Volta, dirigida por Fernando Peixoto, em 1974, que recebeu os prêmios Milière e APTC. Em 1975, escreveu A Cidade Impossível de Pedro Santana, ganhadora do Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro e O Grande Amor de Nossas Vidas, montada por Gianni Rato, em São Paulo, em 1979 e no Rio de Janeiro, em 1980. Na década de 80 escreveu as peças Louco Circo do Desejo; Stript-Tease; Marcha à Ré; Mel de Pedra e Uma Caixa de Outras Coisas. Escreveu também as peças: Memórias do Mar Aberto, Medeia conta sua história; Making Off e Only You, entre outras.
O DIRETOR
Ator e diretor teatral, Mestre em Artes Cênicas na Unesp-SP. Criou o Teatro Kaus Cia. Experimental junto com a atriz e jornalista Amalia Pereira, em 1998. Desde 1993 se dedica especificamente a direção teatral e a pesquisa do teatro de grupo, tendo assinado a direção dos espetáculos: Havia um país aqui antes do Carnaval, de Rudinei Borges; Chuva de Anjos, de Santiago Serrano; Contrarrevolução, de Esteve Soler; Hysterica Passio e O Casal Palavrakis, ambas de Angélica Liddell; O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal; Infiéis, de Marco Antonio de la Parra; A Revolta, de Santiago Serrano; El Chingo, de Edílio Peña; Vereda da Salvação, de Jorge Andrade; Homens de Papel e Oração para um pé de chinelo, ambas de Plínio Marcos; entre outras. Organizou e editou três publicações sobre dramaturgia de língua hispânica: o livro Cadernos do Kaus – O Teatro na América Latina (Programa de Fomento ao Teatro/2007); a revista Hysterica Passio (Prêmio Zé Renato de Teatro/2016); e o livro Cadernos do Kaus – Teatro Kaus, Da América Latina à Espanha, 10 anos de dramaturgia hispânica (Programa de Fomento ao Teatro/2018). Em parceria com o Instituto Cervantes realizou a Mesa de Debates Um Certo Arrabal, evento que trouxe a São Paulo o dramaturgo Fernando Arrabal (agosto de 2009). Fora do Teatro Kaus dirigiu os espetáculos: A Palavra Progresso na Boca de Minha Mãe Soava Terrivelmente Falsa, de Matéi Visniec; Marat – Sade (A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat), de Peter Weiss; Pigmaleoa, de Millôr Fernandes; Cala a Boca Já Morreu, de Luís Alberto de Abreu; e A Boa, de Aimar Labaki.
FICHA TÉCNICA
Autora: Consuelo de Castro | Direção: Reginaldo Nascimento | Diretora assistente: Amália Pereira | Elenco: Roberta Collet, Felipe Oliveira, Haroldo Bianchi, Joca Sanches e Rodrigo Ladeira | Desenho de espaço cênico e sonoplastia: Reginaldo Nascimento | Cenário e figurinos: Chris Aizner | Lighting design: Wagner Pinto | Costureira: Judite Gerônimo de Lima | Assessoria de imprensa: Daniele Valério / Canal Aberto | Fotógrafo: Ronaldo Gutierrez | Produção executiva: Amália Pereira | Direção de produção: Reginaldo Nascimento | Designer: Patricia Collet
SERVIÇO
Memórias do Mar Aberto: Medeia conta sua história
De 17 de fevereiro a 24 de março, aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 19h
Local: Teatro Paiol Cultural – R. Amaral Gurgel, 164 – Vila Buarque (estações de metrô: Santa Cecília e República. Estacionamentos conveniados: Rua Marquês de Itu, 401 e 436). Telefone: (11) 2364-5671. Bilheteria: de quinta a domingo, das 14h às 20h.
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia)
Classificação: 14 anos | Duração: 90min
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