Morreu no início da tarde no Rio de Janeiro um dos maiores escritores do Brasil, Rubem Fonseca.
A menos de um mês de completar 95 anos, Fonseca sofreu um infarto hoje, perto da hora do almoço, em seu apartamento, no Leblon. Foi levado imediatamente ao hospital Samaritano, onde morreu.
Talvez o maior cronista brasileiro da segunda metade do século XX, Rubem Fonseca é autor, entre outros, de “Feliz ano novo” (1976), “A cólera do cão” (1963), “O cobrador” (1979). Seu último livro de contos inéditos foi lançado há dois anos, “Carne crua”.
Em 2015, ao receber o Prêmio Machado de Assis, entregue pela Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto da obra, Rubem Fonseca citou seu livro de estreia, escrito aos 17 anos.
Ele também falou sobre como a obra chocou o primeiro editor a quem ela foi oferecida. O “problema” teria sido, justamente, a presença de palavrões no texto.
Questionado sobre o fato de Machado de Assis e Eça de Queiroz, algumas de suas inspirações, não usarem palavrões em seus textos, Fonseca afirmou que as palavras não devem ser discriminadas.
“Eu escrevi 30 livros. Todos cheios de palavras obscenas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras. Não tem sentido um escritor dizer: ‘Eu não posso usar isso’. A não ser que você escreva um livro infantil. Toda palavra tem que ser usada”, disse ele.
Biografia
José Rubem Fonseca (Juiz de Fora, Minas Gerais, 1925). Contista, romancista e roteirista. Nasce em Juiz de Fora e, aos 8 anos, vai morar com a família no Rio de Janeiro. Forma-se na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil em 1948. No fim de 1952, inicia carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Até o fim de 1954, atua nas ruas, em seguida, trabalha como relações-públicas da corporação. Entre 1953 e 1954, integra o grupo de dez policiais escolhidos para um curso de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, período em que também estuda administração de empresas na New York University (NYU). Ao regressar, recebe licença para estudar e lecionar na Fundação Getúlio Vargas. É exonerado da polícia em 1958 pela impossibilidade de acumular o cargo com a docência e com o trabalho como relações-públicas da empresa Light – duas atividades mantidas até se dedicar somente à literatura. Em 1963, estreia com o livro de contos Os Prisioneiros e, dois anos depois, lança A Coleira do Cão.
Nas décadas de 1960 e 1970, dedica-se ao gênero conto, especificamente o policial, e publica seu primeiro romance em 1973, intitulado O Caso Morel. O segundo deles, A Grande Arte (1983), recebe o Prêmio Jabuti. Com Agosto (1990), retoma episódios vividos durante o trabalho na polícia, numa mistura de ficção e realidade em que se relatam os fatos responsáveis pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). Como roteirista, é premiado pelos longas Relatório de um Homem Casado (1974), adaptado do conto Relatório de Carlos e dirigido por Flávio Tambellini (1927-1976), e A Grande Arte (1991), dirigido por Walter Salles (1956). Em 1991, recebe o Kikito de Ouro no 18º Festival de Gramado, pelo roteiro de Stelinha (1990), dirigido por Miguel Faria Jr. (1944). Avesso a entrevistas e a qualquer divulgação de sua imagem, Rubem Fonseca tem seus livros reeditados a partir de 2010, quando, após 20 anos publicando pela Companhia das Letras, assina contrato com a editora Agir, do grupo Ediouro.
Fonte: Lauro Jardim/O Globo | Itaú Cultural
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