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Morre o sambista Almir Guineto, fundador do grupo Fundo de Quintal

O músico estava internado para tratamento de uma pneumonia no Hospital do Fundão

RIO — O sambista Almir Guineto, fundador do grupo Fundo de Quintal, faleceu nesta sexta-feira aos 70 anos. Ele estava internado para tratamento de uma pneumonia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o Hospital do Fundão, na Zona Norte do Rio, desde março. Segundo nota enviada pela família, o músico morreu após complicações cardíacas e insuficiência renal. Na tarde de ontem (4), ele teve uma parada cardíaca, foi reanimado e respirava com ajuda de aparelhos.

Em junho do ano passado, o sambista já havia informado por meio de um comunicado que estava tratando uma insuficiência renal crônica, motivo que o obrigou a se afastar dos palcos.

Um dos maiores representantes do samba de raiz, o carioca Almir Guineto ajudou a fundar o grupo Fundo de Quintal no final da década de 1970, e deixou importantes sucessos como “Mordomia”, “Mel na boca”, “Caxambu”, “Saco cheio” e “Lama nas ruas”.

Sua contribuição para a história do samba é ainda maior por ter inserido no gênero o banjo com afinação de cavaquinho, instrumento quase inevitável hoje. “Agora tem mais de 400 mil banjos por aí”, ironizava sobre a popularização do instrumento na cena musical.

Grupo Fundo de Quintal

— Almir herdou o talento do pai, seu Iraci Serra, um dos maiores violonistas do samba em seu tempo — contou Nei Lopes, dos principais compositores e estudiosos do samba ao GLOBO. — E levou para o fundo de quintal do Cacique de Ramos a palhetada no banjo criada por seu tio Mazinho, também um velho baluarte salgueirense. Nas mãos de Almir, o banjo virou um misto de instrumento de harmonia e percussão, como se fosse um “reco-reco harmônico”. Ele ainda difundiu no samba a magia do jongo, aprendida com Geraldo do Caxambu, seu tio, e a malícia do partido-alto, no estilo de Geraldo Babão, mestre de nós todos.

Tijucano, viveu no Morro do Salgueiro até 1970. Ali aprendeu a gostar de samba, a tocar instrumentos, e passou a venerar o pavilhão da Acadêmicos do Salgueiro. Depois, passou a evitar o morro, que o trazia “lembranças ruins”, onde um de seus filhos foi assassinado.

Em 2012, quebrou o hiato de 11 anos longe dos estúdios com o CD “Cartão de Visita”. O último trabalho homenageava a cidade do Rio, com músicas inéditas que balançavam o público do eixo Rio-São Paulo ao lado dos clássicos “Caxambu”, “Mel na boca”, “Jiboia”, “Insensato destino” e “Lama nas ruas”. “É igual a andar de bicicleta. A gente não perde as técnicas”, contou ao GLOBO, em entrevista de dezembro de 2013.

REI DO PAGODE

O carioca é cultuado no mundo do samba, com a inconfundível voz rouca, de dicção por vezes incompreensível, movida no passado por doses de álcool e drogas. Além do banjo, que fazia soar como “reco-reco harmônico”, ele difundiu a magia do jongo e a malícia do partido-alto, segundo o estudioso Nei Lopes explicou em entrevista de 2012. Seu pai, Iraci Serra, era um dos maiores violinistas do samba em seu tempo. Sua avó, jongueira vinda de Minas Gerais. Desde pequeno, participava da Folia de Reis vestido a caráter e batucando em latas.

Com o amigo Mussum, o compositor integrou o grupo Originais do Samba a partir de 1969. Mas o banjo de Guineto ganharia eco nas rodas do Cacique de Ramos, nos anos 1970, aliado ao tantã e ao repique de mão. Foi naquelas reuniões que se tornou Cacique ídolo de jovens como Arlindo Cruz, a quem ensinou a tocar banjo, e Zeca Pagodinho. O novo som seria consagrado pelo Fundo de Quintal, cuja primeira formação trazia o tijucano.

Ao estourar com “Caxambu”, em 1986, Guineto lançou-se a 62 shows mensais. Acabou internado. Com a renda do sucesso, comprou um tríplex em Copacabana e deu festas que duravam até três dias. Batizou o apartamento de “favela”.

Em 2002, sua mulher da época o convenceu a se mudar para Tupã, a 435km de São Paulo, para tirá-lo do meio de drogas. Ele considerou que a estratégia deu certo: largou os narcóticos e passou a beber apenas suco e água. Mas o casamento acabou e, em 2011, ele voltou ao Rio, de onde só saía para shows no eixo até São Paulo.

Almir deixa a mulher, Regina Caetano, 3 filhos (Almirzinho Serra, Walmir Serra e Hugo Serra) e 4 netos.

Fonte: O Globo

Revista Prosa Verso e Arte

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