Em imagens e textos, a “Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo” tece olhares que nos revelam a singularidade, a genialidade e a amplitude deste pernambucano que por inúmeras vezes foi consagrado como o mais importante percussionista do mundo. A obra organizada por Augusto Lins Soares reúne mais de 200 fotografias para contar toda a trajetória musical do artista
Naná Vasconcelos, o homem que fez do berimbau uma extensão do seu corpo, costumava se definir como “O Brasil que o Brasil não conhece.” A notável trajetória do artista está na Fotobiografia Naná: Do Recife para o Mundo, organizada pelo designer e jornalista Augusto Lins Soares, publicada pela Cepe Editora, celebra a vida e carreira de Naná, reconhecido como um dos melhores percussionistas do mundo.
.
O livro tem 240 páginas e apresenta Juvenal de Holanda Vasconcelos (Naná Vasconcelos) em mais de 200 fotos de 50 fotógrafos, aproximadamente, numa linha do tempo desde Naná criança até o artista consagrado, vencedor de prêmio Grammy e eleito o melhor percussionista do mundo pela revista norte-americana de jazz Downbeat, por nove vezes consecutivas, de 1983 a 1991. As imagens são intercaladas por textos biográficos com relatos de fases da vida de Naná, a partir das cidades onde ele viveu: Recife (a terra natal), Paris, Nova York e Recife de novo. Obras de arte criadas para o livro por 12 artistas com atuação em Pernambuco, num tributo ao músico, encerram a fotobiografia.
“Comecei a pesquisa em junho de 2023 e finalizei em outubro de 2024, minhas fontes são o acervo do artista, os bancos de imagens (públicos e privados) e os acervos dos fotógrafos brasileiros e estrangeiros”, declara Augusto Lins Soares. “Há várias imagens pertencentes a acervos privados que nunca foram publicadas ou são pouco divulgadas, como, por exemplo, Naná na Banda Municipal do Recife (atual Banda Sinfônica do Recife) nos anos 1960 e Naná tocando berimbau no Mercado Modelo, em Salvador (BA), na presença de Jorge Amado, nos anos 1980”, observa.
.
Na faceta americana, ele aparece tocando berimbau em seu “escritório”, o Washington Square Park, em Nova York, e num momento de folga com o gato de estimação. Da fase europeia, em Paris, Naná é flagrado em hora de lazer, brincando de esconde-esconde numa rua e num café com amigos. No Recife, é fotografado nas inesquecíveis e memoráveis noites de abertura do Carnaval, ao congregar batuqueiros de diversas nações de maracatu. O artista aparece ao lado de vários parceiros musicais, mostrando sua diversidade, como os norte-americanos Collin Walcott e Don Cherry (integrantes da banda Codona, com Naná), os brasileiros Egberto Gismonti, Geraldo Azevedo e Gal Costa, e o argentino Agustín Pereyra Lucena; e também em momentos com as filhas.
“Busco selecionar as imagens mais icônicas, impactantes, artísticas, reveladoras, históricas, inéditas, jornalísticas e sedutoras. Ou seja, imagens que contam ao leitor fatos importantes da vida da pessoa fotobiografada”, afirma Augusto Lins Soares, que lançou pela Cepe O Santo Revelado – Fotobiografia Dom Helder Camara, em 2019, e Sonia em Fotobiografia, dedicada à atriz Sonia Braga, em 2022. Nos textos do livro, ele destaca informações pouco conhecidas do público, como a participação do artista no curta-metragem Berimbau, de Toby Talbot (New Yorker Films, 1971), e a produção do disco Amazonas (Philips, 1973), feita pelo cantor e compositor Raimundo Fagner.
.
A história de Naná no documentário de Toby Talbot é narrada pelo professor de Etnomusicologia na Tulane University, Daniel B. Sharp, no artigo “Pop Star em Nova York”. O curta, segundo ele, “mostra como Naná transformou o berimbau, expandindo o seu papel tradicional de acompanhamento da capoeira e tornando-o um instrumento solista virtuoso por si só. As imagens de um jovem Naná tocando no filme nos deixam vislumbrar sua considerável habilidade com o berimbau, mesmo no início de sua carreira”, registra Daniel B. Sharp. A produção do disco Amazonas, o segundo álbum autoral de Naná, é detalhada pelo jornalista Renato Contente no texto “Avant-Garde em Paris.”
Para Patrícia Vasconcelos, viúva de Naná e mãe da filha caçula do músico, a fotobiografia é destinada a fãs, estudiosos e pessoas que não conhecem a obra do percussionista. “Achei a ideia fantástica por servir como uma ferramenta de pesquisa sobre a trajetória artística de Naná e necessária para deixar essa história acessível ao público interessado em saber mais sobre esse percurso musical que foi construído com tanto amor à música e muita genialidade. O resultado desse trabalho dará embasamento a outras ações que visem manter a memória e o legado de Naná vivos”, destaca Patrícia, que é curadora do legado do artista. “Presenciei e compartilhei momentos marcantes, como quando ele ganhou o Grammy Latino pelo álbum Sinfonia & batuques”, relata em texto no livro. Ela e a filha, Luz Morena, vieram dos Estados Unidos, onde moram, especialmente para o lançamento do livro.
.
A dimensão humana e artística de Naná é revelada nas fotos de Deborah Feingold (capa e contra-capa), Lizzie Bravo, Luiz Fernando, Franklin Corrêa, acervo Naná Vasconcelos, acervo Sérgio Kyrillos, acervo Edy Star, Guy le Querrec, Claude Barouh/Acervo Merrie Robin Monroe e outros fotógrafos; nos textos de Augusto Lins Soares (apresentação), dos jornalistas Michelle de Assumpção, Renato Contente e José Teles, do professor Daniel B. Sharp, de Patrícia Vasconcelos e do cantor Milton Nascimento (depoimento publicado pelo Facebook no dia da morte de Naná) e nas obras de arte de Amanda de Souza, Derlon, Heloísa Marques, Jade Matos, Marcelo Silveira, entre outros. O livro tem patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Capa-da-Fotobiografia-Nana-Do-Recife-para-o-mundo-Org.-Augusto-Lins-Soares-foto-Deborah-Feingold.jpg)
FICHA TÉCNICA
Título: Fotobiografia “Naná – Do Recife para o Mundo”
Autor (organização e apresentação): Augusto Lins Soares
Editora: Cepe Editora
Páginas: 240
1ª edição: 2024
ISBN: 978-65-5439-272-3
Valor: R$ 100,00 / disponível na editora – clique aqui.
Sinopse: Nesta fotobiografia, a trajetória do genial percussionista Naná Vasconcelos, referência na música mundial, é contada por meio de textos e, principalmente, imagens, reunidas a partir de uma extensa pesquisa. Seguindo a narrativa visual, é possível entender mais a profusão criativa de Naná, que se espalhou em parcerias, continentes, instrumentos, projetos e encontros diversos e profundos. A obra conta com textos de José Teles, Michelle de Assumpção, Renato Contente e Daniel B. Sharp e ainda depoimentos de Milton Nascimento e Patrícia Vasconcelos, viúva de Naná.
* Obra viabilizada com patrocínio do @bancodonordeste
> Siga: @nanavasconcelosoficial | @cepeeditora
Algumas imagens
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Nana-Vasconcelos-toca-berimbau-em-1968-no-programa-Bossa-2-da-TV-Jornal-foto-Acervo-Edy-Star-scaled.jpg)
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Quarteto-Yansa-foto-acervo-Sergio-Kyrillos-scaled.jpg)
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Nana-Vasconcelos-e-Egberto-Gismonti-foto-Roberto-Msotti-acervo-Lelli-e-Masotti-Archivio-scaled.jpg)
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Foto-Carlos-Leonam-Arquivo-Nacional-Fundo-Correio-da-Manha-e-Arquivo-Helio-Oiticica-1-scaled-1-scaled.jpg)
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Nana-Vasconcelos-acervo-NV.jpg)
*********
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Milton-Nascimento-e-Nana-Vasconcelos-foto-Roberto-Esteves-1990.jpg)
EIS O DEPOIMENTO DE MILTON NASCIMENTO
Milton fala sobre o amigo Naná Vasconcelos:
“Quando cheguei ao Rio encontrei Dom Um Romão, Edison Machado e Victor Manga. Ficava difícil pra mim, que vim do Nordeste, me encaixar naquela cena. Então encontrei Milton, que precisava de mim, como eu precisava dele”. (Naná para a Modern Drummer)
.
“Um dos momentos mais bonitos da minha vida foi quando Naná Vasconcelos chegou sem avisar na casa onde eu morava, na zona sul do Rio. Isso aconteceu nos idos de 1968. Ainda na porta, mal nos cumprimentamos e ele foi logo dizendo:
.
__Vim de Recife pra tocar com você.
.
Mesmo desconfiado, o deixei entrar. Naná foi direto pra cozinha, catou tudo que viu pela frente e começou a fazer um som incrível com panelas, frigideiras, garrafas e copos. Nessa época, eu estava gravando um disco pela Odeon, e assim que acabou a primeira música com ele tocando as panelas, perguntei:
__Naná, o que você vai fazer amanhã?
.
No dia seguinte, levei Naná para o estúdio comigo. Era o terceiro disco da minha carreira. Entre as gravações, ele me contou melhor a história de que tinha vindo de “Recife só pra tocar comigo”. E sempre que o via contando esse caso em entrevistas, as palavras dele me faziam sentir o cara mais sortudo do mundo. Imagine o privilégio: uma alma elevada como a de Naná vir especialmente ao seu encontro? Uma benção para poucos.
.
Depois daquele encontro no fim dos anos 60, Naná e eu vivíamos sempre juntos. Levei ele ao encontro dos Borges em BH, gravamos com Som Imaginário, no Milagre dos Peixes, e dali pra frente jamais nos separamos tanto na vida quanto na música.
.
Outra lembrança forte com Naná da qual eu nunca me esqueço foram nossas temporadas nos EUA. Numa delas, passamos um tempo em Nova York num apartamento com vista para o imponente Empire State. Nos primeiros dias, Naná percebeu que as luzes do edifício se acendiam religiosamente às 18h. Ele então teve a ideia de descer numa loja de eletrônicos e comprar um espalhafatoso botão liga-desliga e o instalou num lugar de destaque na sala do apartamento. E todas as vezes em que Naná estava em casa perto da “hora do Angelus” (principalmente em dias de visita), ele chegava perto do botão e fazia seu número de “acender” o Empire State, para delírio e gargalhadas gerais.
.
Na abertura do Carnaval de Recife de 2013, Naná me convidou para cantar com ele no tradicional encontro dos grupos de Maracatu. Foi a última vez em que tocamos juntos. Na noite anterior, Carminho e eu fomos até sua casa, em Olinda, e Naná nos recebeu com uma grande festa. Tocou de tudo, contou histórias e passou praticamente o tempo todo me agradecendo por ter vindo ao carnaval. Mas era eu quem devia aquilo a ele, foi uma das noites mais emocionantes que tive num palco. E depois da abertura dos Maracatus – Naná, com uma generosidade sem tamanho – arrumou os instrumentos no chão – como gostava de fazer – e se juntou aos músicos de minha banda (Lincoln Cheib, Wilson Lopes e Gastão Villeroy) tocando o show inteiro com uma energia rara e tirando um som de tamanha beleza que nenhum outro músico do mundo seria capaz. Naná fazia mágica, estava além da música. Ele sim, uma força extrema da natureza.
.
Da última vez que nos falamos, ele tinha acabado de sair do hospital. Mas nem conseguimos conversar nada sério, Naná não parava de contar suas histórias, uma mais engraçada que a outra. E eu que tinha ligado pra dar uma força, acabei recebendo uma carga de energia positiva que só poderia vir de um ser iluminado como Naná.
.
Assim era Naná, e exatamente assim que eu quero lembrar dele.
Milton, Rio, 9 de março de 2016 (Milton “Bituca” Nascimento)
![Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo' revistaprosaversoearte.com - Naná Vasconcelos é celebrado em 'Fotobiografia Naná – Do Recife para o Mundo'](https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2025/02/Robertinho-Silva-Nana-Vasconcelos-e-Milton-Nascimento-reunidos-nos-estudios-da-Odeon-foto-acervo-Robertinho-Silva-2-scaled.jpeg)