– por Thais Paiva*
Boa esposa, mãe e dama da sociedade. No Brasil imperial do século XIX, estes eram atributos suficientes para considerar uma mulher como instruída. Na sociedade patriarcal em vigor, a educação feminina pautava-se, sobretudo, na sua preparação para o desempenho de papéis circunscritos ao universo doméstico.
Conforme conta a historiadora Vera Andrade, “ler e escrever bem em português, falar francês, declamar, conhecer música, saber dançar, receber com elegância e fazer trabalhos de agulhas, tornava as moças “cultas e prendadas” e preparadas para o casamento e para a vida em sociedade.”
Mas este quadro começou a mudar com o surgimento da figura de Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810- 1885), pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto. Considerada a primeira feminista brasileira, a potiguar foi a primeira educadora do País a defender o direito à educação científica para as meninas, apontando-as como importantes figuras sociais e dotadas de uma identidade fundamental para o crescimento das comunidades.
A partir desta consciência, fundou no Rio de Janeiro, em 1838, o Colégio Augusto. Voltado para meninas, a escola ensinava, entre outras coisas, ciências naturais, sociais e matemática, preparando-as para o exercício da vida pública e para o desenvolvimento integral.
Fortemente influenciada pelo filósofo Augusto Comte, pai do positivismo, com quem conviveu durante suas viagens à Europa, Nísia também participou ativamente das campanhas abolicionista, republicana e em prol da liberdade religiosa. Em seu primeiro livro, “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” (Editora Cortez, 1989), escrito aos 22 anos, refletia:
“Por que [os homens] se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como eles, senão pelo temor de que partilhemos com eles, ou mesmo os excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham?”
Ao longo de sua vida, escreveria outras 14 obras, hoje prestigiadas mundialmente, defendendo os direitos das mulheres, dos índios, dos escravos, além de ter contribuído para a desmitificação da imagem do Brasil no exterior. Seu pioneirismo em relação aos direitos femininos, no entanto, foi rechaçado com preconceito e difamação por muitos jornais da época, o que explica o fato de Nísia Floresta ainda continuar desconhecida para tantos brasileiros.
Ainda hoje, a causa defendida por Nísia se mostra necessária para equiparar desigualdades persistentes. Prova disso é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5 da Organização das Nações Unidas (ONU), que traz como meta alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas. A agenda internacional a ser trabalhada junto aos governos, sociedade civil e outros parceiros visa garantir uma vida com dignidade para todos e todas.
Em 2012, foi inaugurado o Museu Nísia Floresta, localizado no município homônimo no Rio Grande do Norte, local de nascimento da educadora e rebatizado em sua homenagem. Com o objetivo de preservar e disseminar objetos, documentação e pesquisas vinculados à memória histórica de Nísia Floresta, a instituição promove atividades permanentes de arte, cultura, educação e de incentivo ao turismo.
Fonte: *Centro de Referências em Educação Integral
:: Nísia Floresta Brasileira Augusta – uma mulher à frente de seu tempo.
:: Nísia Floresta – Coleção Educadores MEC.
:: Obra Opúsculo Humanitário.
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