Discografia brasileira

Nomade Orquestra lança o quinto álbum de estúdio ‘Terceiro Mundo’

O repertório do álbum ‘Terceiro Mundo’ surge como uma colcha de retalhos sonoros que fundamentam o universo essencial do coletivo que funde, em sua obra instrumental, elementos de funk, soul, ethno grooves, rock e jazz. O show de estreia acontece no Sesc Pinheiros, no dia 16 de junho, às 18h.

A Nomade Orquestra lança o seu aguardado quinto álbum de estúdio, “Terceiro Mundo”. A obra vai muito além da música, representando também uma jornada de resistência, resiliência e inventividade. O processo de criação começou em 2020, durante a pandemia de Covid19 e o isolamento social. Com 8 faixas, o disco surge como uma colcha de retalhos sonoros, onde velhas ideias ganharam vida e novas composições foram criadas exclusivamente para este projeto.
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“Estamos fechando um ciclo conceitual importantíssimo do nosso trabalho. Este é o último registro de uma trilogia instrumental que forjou a nossa estética. Apostamos em grooves e levadas enérgicas, com fortes influências do funk e da soul music, naipes de metais poderosos, temperos sonoros de diversos lugares e culturas, flautas e outros instrumentos étnicos. Tudo foi pensado e produzido para criar nossas chamadas ‘paisagens sonoras’, levando os ouvintes e fãs para aquela clássica viagem sem sair do lugar. É assim que escolhemos fechar esse período da nossa história, celebrando tudo que entregamos até aqui e já olhando para o futuro, abrindo alas para nossa nova fase”.

Lançado pelo selo de Nova York Nublu Records, em formato digital e também com prensagem em vinil confirmada, “Terceiro Mundo” é um mergulho pelo universo essencial do coletivo. Neste registro, uma continuidade aos dois repertórios focais – e fundamentais – na discografia da banda: “Nomade Orquestra” (2014) e “Entremundos” (2017). Somam nessa jornada “Vox Populi Vol I” e “Vox Machina Vol I”, ambos de 2019, além de “Nomade Orquestra Na Terra das Primaveras” (2022).
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“A escolha do título também remete ao próprio termo geopolítico, em que o terceiro-mundismo se faz presente em nossas experiências: Brasil, São Paulo, ABC. Nós encaramos a realidade e todos os desafios que nos são impostos de maneira esperançosa. Acreditamos, plenamente, que a música e a arte são expressões necessárias para uma sociedade mentalmente bloqueada. Nossa jornada é uma ode ao sensorial e ao potente invisível que permeia nossas vidas. Realizamos com excelência, mesmo diante das dificuldades. Em todos os aspectos deste lançamento usamos tecnologias “rudimentares”. A música foi construída quase como uma colagem. A gravação foi feita “ao vivo”, com todos os músicos tocando juntos. Este álbum é um caldeirão cultural, uma miscelânea de experiências que cria uma identidade única no contexto da música instrumental brasileira”.

Com 12 anos de estrada, levando shows pelo Brasil e diversos outros lugares do mundo, Nomade Orquestra segue acreditando em seus sonhos, ideais e, sobretudo, propósito. Na ficha técnica do disco, o timaço envolvido reúne Guilherme Nakata (bateria), Ruy Rascassi (contrabaixo), Marcos Mauricio (piano / órgão / clavinete / sintetizadores), Beto Malfatti (sax tenor / flauta / dizi), Marco Stoppa (trompete / flugelhorn), Bio Bonato (sax barítono / flauta / pífano), Luiz Galvão (guitarra / violão), Victor Fão (trombone) e André Calixto (gaita). Raphael Coelho (percussão) e Ana Eliza Colomar (sax alto / flautas / hulusi), novos membros, chegaram no processo final da composição do disco trazendo um novo frescor ao grupo.
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Caminhando rapidamente pelo trabalho, a track “EntreMundos” simboliza a transição do segundo álbum para este novo capítulo. “O Nascimento do Sol Invencível” é uma expressão de fé no amanhã. Já em “Peixeira Amolada & Quebra-Queixo”, a ideia é explorar estereótipos populares do terceiro mundo, enquanto “Cidade Estrangeira” mergulha na diversidade cultural de São Paulo. “O Extraordinário Presente” é um sopro de liberdade e esperança, enquanto “Mariposa Tigre” combina influências do funk e do reggae, gêneros muito presentes nas composições da Nomade. “Invasão de Pindorama” reflete a miscigenação cultural do Brasil e, fechando, “Revolução dos Cocos” se inspira em uma revolta ecológica ocorrida na Papua Nova Guiné – a primeira revolução ecológica do mundo.
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Vale destacar que na faixa ‘O Nascimento do Sol Invencível’ foi usado um sample do pensador contemporâneo e ativista Paulo Galo, onde é dito que “nóis tá armando uma revolução sem falar”. É exatamente essa a sensação que o disco traz”.
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“Terceiro Mundo” é, do começo ao fim, uma experiência para quem gosta de música, cinema e artes em geral. Aposta certa para os amantes da música brasileira, jazz, rap e da variedade de estilos reunidos em um só lugar. Entre os ícones que se conectam com as narrativas propostas pelo grupo estão Khruangbin, Yussef Dayes, Curtis Mayfield, Arthur Verocai, John Coltrane, Moacir Santos, Hermeto Pascoal, Ennio Morriccone, Max Roach, Skatalites, Melba liston, Ryuchi Sakamoto e Letieres Leite.
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O show de estreia acontece no Sesc Pinheiros, no próximo 16/06, às 18h. Na sequência, a banda parte para Belém do Pará, onde se apresenta no Festival Ambienta, em 28/06. Depois, já no dia 13/07, eles têm uma apresentação confirmada em Santo André, no ABC, região onde o grupo se formou.
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“Terceiro Mundo” é um projeto contemplado pela 7ª Edição do Edital de Apoio à Música para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

Capa do álbum ‘Terceiro Mundo’ • Nomade Orquestra • Selo Morning Birds Music / Distribuição Tratore • 2024

DISCO ‘TERCEIRO MUNDO’ • Nomade Orquestra • Selo Morning Birds Music / Distribuição Tratore • 2024
Músicas / composição coletiva do Nomade Orquestra
1. Entremundos
2. O nascimento do sol invencível
3. Peixeira amolada & Quebra Queixo
4. Cidade estrangeira
5. O extraordinário presente
6. Mariposa tigre
7. A invasão de pindorama
8. Revolução dos cocos
– ficha técnica –
Nomade Orquestra Guilherme Nakata (bateria) | Ruy Rascassi (contrabaixo; sample – fx. 2, 6) | Marcos Mauricio (piano, órgão, clavinete e sintetizadores) | Beto Malfatti (sax tenor, flauta, dizi; sample – fx. 4) | Marco Stoppa (trompete e flugelhorn) | Bio Bonato (sax barítono, flauta e pífano) | Luiz Galvão (guitarra e violão) | Victor Fão (trombone) | Raphael Coelho (percussão) | Ana Eliza Colomar (sax alto, flautas e hulusi) || André Calixto (gaita, na fx. ‘A invasão de Pindorama’) | Produção o e composição: Nomade Orquestra | Arranjo de sopros: Marco Stoppa | Captação: Estúdio Ekord / MBM Studio | Mixagem: Marcos Mauricio | Masterização: Fernando Sanches (Estúdio El Rocha) | Produção executiva: Ruy Rascassi | CapaDireção artística: Ruy Rascassi | Produção executiva e de arte: Amanda Toni | Direção de fotografia: Rui Mendes | Elétrica e maquinaria: Fabio Ribeiro | Figurino: Miriã Santos & Guilherme Nakata | Arte visual: Hal Wildson | Design gráfico: Denis Freitas | Assessoria de imprensa: Yasmim Bianco | Selo: Morning Birds Music | Distribuição: Tratore | Formato: CD / digital / LP | Ano: 2024 | Lançamento: 7 de junho | ♪Ouça o álbum: clique aqui | ♩Álbum completo: clique aqui.
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>> Siga: @nomadeorquestra

Nomade Orquestra – foto: Rui Mendes

FAIXA A FAIXA – “TERCEIRO MUNDO” POR NOMADE ORQUESTRA
1 – EntreMundos
Faixa de introdução do disco, carrega esse nome por ser um portal de transição entre o segundo álbum, “Entremundos”, de 2017, e este quinto álbum “Terceiro Mundo”, que representa, para nós, a continuação da banda em sua saga pelos espaços sonoros. O som começa com um reverse do final da última música do disco “Entremundos” – que se chama Travessia -, representando essa jornada, esse lugar lúdico para a simbologia de um despertar, com sons urbanos, como latidos de cachorros, de chuva, um batimento cardíaco e uma voz doce de criança (representando a pureza e o nascimento), com registros de áudios anunciando o nome da Nomade Orquestra em diferentes línguas (demonstrando nossa trajetória mundial) e 7 badaladas de sinos que, por meio de sua vibração, harmonizam o ambiente e expulsam as energias negativas como um talismã sagrado.
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2 – O Nascimento do Sol invencível
A expressão é a tradução do Latim Natalis Solis Invicti, usada nos festejos do solstício de verão como um culto oficial ao Sol que enfim volta a brilhar com mais força depois de um longo inverno. É também nossa homenagem ao astro que renasce a cada dia e sua incansável disciplina, sendo a nossa principal fonte de vida, a bateria primordial que energiza, protege e alimenta. Essa é a potência da música instrumental que pode promover revoluções internas nas pessoas sem a necessidade da fala, apenas com o poder da linguagem universal que é a música. A track começa com um sample de repetição, em um clima rock, com um riff marcante de guitarra, então evolui para um groove denso, junto a um solo de flauta que traz uma conotação meditativa. O solo nos leva até o tema principal, que entra cheio de vigor, trazendo uma aura de esperança. A música ainda tem um momento de virada, com solo de trombone em uma harmonia densa, para desaguar novamente no tema principal. Já nessa primeira faixa do álbum, é trazida uma sensação de esperança aos ouvintes que vão desbravar esse mundo. Esse é o motivo da escolha do sample usado na música “Nois tá armando uma revolução sem falar”, de Paulo Galo.
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3 – Peixeira Amolada & Quebra-queixo
Representa dois estereótipos populares comuns no terceiro mundo como: o facão de corte afiado e o quebra-queixo, o doce de coco vindo da Angola trazido pelos negros escravizados. Mas, ludicamente, também é a expressão da fala direta e do golpe certeiro, também como uma dupla de anti-heróis em busca da justiça, igualdade e fraternidade. Essa música também traz um elemento nunca usado antes na banda: o violão. Um dos instrumentos mais populares do mundo dá a base para a música que passeia por um groove cheio de contratempos que traz essa sensação de corte (por isso o nome da música), em convenções nada óbvias, e um final surpreendente em outra fórmula de compasso. Além da referência musical para o nome, essa faixa representa a luta que muitos brasileiros travam diariamente para ter uma vida digna. É preciso ter a “peixeira amolada” para abrir os caminhos.

4 – Cidade Estrangeira
O Brasil é uma nação formada por uma combinação de povos indígenas, colonizadores europeus, africanos escravizados e imigrantes de várias partes do mundo. O título da música é uma maneira poética de expressar a riqueza dessa influência diversificada, que ocorre de maneira especial na cidade natal da banda, que é São Paulo. Essa faixa possui a maior influência de rap no disco e tem uma característica jazzista urbana que remete a grandes nomes do gênero como J Dilla, D’angelo e Chris Daddy Dave, com linhas de baterias quebradas. Mas, o ápice da música se dá no desenvolvimento de um solo de trompete que passeia por vários climas, com pontuações feitas pela banda toda, por meio de uma linda construção que desemboca de maneira inesperada, na mesma base do rap jazz citado no início da música.
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5 – O extraordinário presente
Nosso maior presente é se conectar com o agora, desapegar do passado e se desprender das ilusões do futuro. Viver o presente em tempos de confusões mentais e uma sociedade cada vez mais ansiosa. Essa música tem uma forte influência do funk 70 e soul music e, como o próprio nome diz, é um sopro de liberdade, confiança e esperança – um presente para quem ouve. Com uma atmosfera mântrica, recheada de solos e temas que, direta ou indiretamente, nos trazem esses sentimentos.

6 – Mariposa Tigre
Representa os seres lúdicos e mágicos da floresta. Como pode uma mariposa ser um tigre? Essa música carrega muito da sonoridade que a Nomade construiu ao longo da carreira. Fortes influências do funk, ethno groove, com temas de metais nada convencionais e com um sotaque bem jazzístico. Na metade da música, outra referência muito forte da banda vem à tona: o reggae, mais precisamente o ragga, que torna a música ainda mais dançante. Para finalizar, uma convenção da banda toda, faz com que a música acabe de maneira grandiosa, dando vontade de colocar pra ouvir mais uma vez.
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7 – A invasão de Pindorama
O nome, autoexplicativo, evoca o “descobrimento do Brasil”, assim, entre aspas, em uma trilha carregada de misturas de gêneros musicais: a gaita blues, melodias asiáticas, flautas, ritmos do funk, congo de ouro, representando essa miscigenação cultural. Assim como na primeira track do disco, a banda retoma uma atmosfera que flerta com o rock, com um riff de gaita e fortes linhas de guitarra e bateria. Essa track tem uma atmosfera densa, remetendo à invasão dos colonizadores em terras indígenas. Levadas de conga no ritmo congo de ouro (ritmo que deu origem ao funk brasileiro) entram no meio da música como um manifesto do que é o verdadeiro Brasil e não algo que nos foi imposto.
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8 – Revolução dos Cocos
Apresenta como referência o título de um documentário do ano de 2001, sobre a luta na Ilha de Bougainville, na Papua Nova Guiné, local em que ocorreu a primeira revolução ecológica do mundo. O filme conta a história da revolta, bem sucedida, dos povos indígenas da Ilha contra o exército da Papua Nova Guiné e os planos de uma empresa mineradora em explorar seus recursos naturais. O documentário revela como o Exército Revolucionário de Bougainville conseguiu superar a estratégia de bloqueio naval utilizada pelo exército papuano, produzindo combustível, armas e remédios, por meio da matéria prima do coco, que era o único material disponível na ilha. Por isso, este registro é uma grande referência conceitual para este trabalho. Musicalmente demonstrada por uma intersecção de timbres modernos, ritmos e camadas sonoras, essa faixa tem como tema principal um loop de sintetizador, numa fórmula de compasso ímpar, algo muito particular da estética sonora da Nomade Orquestra. A música tem uma mudança de ritmo em que podemos ouvir forte influência do rap, principalmente na bateria, porém os arranjos de flautas nos levam para o Nordeste do Brasil, fazendo referência às bandas de pífano e dos tocadores de coco.

Nomade Orquestra – foto: Rui Mendes

SERVIÇO
Nomade Orquestra | Lançamento do álbum “Terceiro Mundo”
Dia: 16 de junho, domingo, às 18h.
Duração: 60 minutos
Local: Teatro Paulo Autran – Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, São Paulo/SP
Classificação: 12 anos
Ingressos: R$ 50 (inteira); R$ 25 (meia) e R$ 15 (credencial plena)
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h; sábado, domingo
e feriado, das 10h às 18h.
> compre online: clique aqui.

SOBRE A NOMADE ORQUESTRA
Em crescente visibilidade no atual cenário da música instrumental brasileira, a Nomade Orquestra traz consigo uma assinatura singular e de vanguarda. Pode-se dizer que é um ponto de encontro onde diferentes vertentes e expressões musicais interagem de forma única, desenvolvendo um trabalho autoral de música instrumental com influências do funk 70, jazz, dub, rock, afro beat, ethno grooves e outras expressões musicais.
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Formada em 2012, sua identidade musical se deve ao resultado da miscigenação cultural que existe no Brasil, sobretudo no ABC Paulista, pólo industrial situado na Grande São Paulo, onde se originou a Orquestra.
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O primeiro disco, autointitulado “Nomade Orquestra“, foi lançado em dezembro de 2014 no Brasil, e em abril de 2016 internacionalmente pelo selo inglês FarOut Recordings. Em novembro de 2016, realizaram a primeira EuroTour, apresentando-se em países como: Portugal, Espanha, Inglaterra, Bulgária e Alemanha. Desde então, vem conquistando ouvintes, mentes, corações e quebrando fronteiras por onde passa.
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Série: Discografia da Música Brasileira / Música instrumental (funk, soul, ethno grooves, rock e jazz) /  Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

Revista Prosa Verso e Arte

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