Presságio
O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
24.4.1928
– Fernando Pessoa, do livro “Fernando Pessoa – obra poética inédita”. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1972.
Ao longe, ao luar
Ao longe, ao luar,
No rio urna vela
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica
É a vela que passa
Na noite que fica.
.
s. d.
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). – 105.
1ª publ. in Athena, nº 3. Lisboa: Dez. 1924.
Mais sobre e com Fernando Pessoa
Fernando Pessoa – o poeta de múltiplos eus
Fernando Pessoa (poemas e textos)
Toninho Geraes lança o álbum "O Amor dos Poetas" (Mills Records), com um repertório que…
O Tavares Club será palco para o projeto "Lara Canta Gal", no dia 21 de…
Galocantô lança homenagem ao compositor Luiz Carlos da Vila. Álbum traz registro ao vivo, com…
Com arranjos inéditos, lançamento do Selo Sesc traz valsas de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto,…
Guilherme Veroneze lança "Névoa", primeira faixa do seu próximo álbum 'Entremares'. Inspirado na neblina das…
“Dia de Sol”, o primeiro single do álbum de inéditas de Zeca Baleiro e Wado,…