E havia luz demais para seus olhos. De repente um repuxão; ajeitavam-no, mas ele não sabia: só tinha mesmo era o terror de rostos inclinados para o seu. E ele não sabia de nada. E não podia se mexer livremente. As vozes que para ele eram trovões, só uma voz era cantante: ele se banhava nela. Mas logo em seguida era depositado e vinha o terror e ele gritava entre as grades e viu cores que depois ele entendeu que eram azuis. O azul o molestava e ele chorava. E o terror das cólicas. Abriam-lhe a boca e depositavam coisas ruins na boca, ele engolia. Quando era a voz cantante que lhe dava coisas ruins, ele suportava melhor. Mas era logo depositado entre as grades.
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Sombras gigantescas rodeavam-no. E então ele gritava. A mínima luz de tudo isso é que ele acabara de nascer. Tinha cinco dias de nascido.
Depois de mais velho ouviu sem entender: “Este menino já não dá trabalho mas quando nasceu dava choros e urros. Agora felizmente é mais fácil de criá-lo.” Não, não era fácil, nunca seria fácil. O nascimento era a morte de um ser uno se dividindo em dois solitários. Agora parecia fácil porque ele aprendera a manejar o seu terror secreto que duraria até a morte. Terror de estar na terra, como uma saudade do céu.
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— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999
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