Discos - com ficha técnica

Osesp lança álbum ‘Mendelssohn – Tchaikovsky: Violin Concertos’, com Thierry Fischer e Guido Sant’Anna

Mendelssohn – Tchaikovsky | Violin Concertos, com Guido Sant’Anna, violino – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp, sob regência do maestro Thierry Fischer, álbum lançado pelo selo Naxos
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Está disponível em todas as plataformas digitais, desde o dia 14 de março, o novo lançamento da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp pelo selo Naxos. Gravado na Sala São Paulo em julho de 2023 e com produção, engenharia e edição de Ulrich Schneider, o álbum Mendelssohn – Tchaikovsky | Violin Concertos traz duas obras arrebatadoras interpretadas pela Osesp ao lado do prodígio brasileiro do violino Guido Sant’Anna, sob a batuta do Diretor Musical e Regente Titular da Orquestra, Thierry Fischer: o Concerto para violino e orquestra em mi menor, Op. 64, do alemão Felix Mendelssohn, e o Concerto para violino e orquestra em Ré maior, Op. 35, do russo Piotr Ilitch Tchaikovsky.

Mendelssohn concebeu o Concerto para violino em mi menor para seu amigo de infância, Ferdinand David, que era spalla da Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, na Alemanha, embora o compositor tenha levado anos para aperfeiçoá-lo. Este Concerto continua sendo uma das obras mais significativas do gênero – sereno, lírico e luminoso.
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Concerto para violino em Ré maior de Tchaikovsky é também um dos maiores desse formato do século XIX, escrito para o aluno favorito do compositor, Iosif Kotek, e uma obra de grande beleza e repleta de desafios virtuosos. Neste álbum eles são interpretados pelo brilhante Guido Sant’Anna, o primeiro violinista sul-americano a vencer o prestigiado Fritz Kreisler International Competition, em 2022.
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Mendelssohn – Tchaikovsky | Violin Concertos pode ser encontrado em edição física e em edição digital.

Capa do disco • Mendelssohn – Tchaikovsky | Violin Concertos  • Guido Sant’Anna. Osesp. Thierry Fischer • Selo Naxos • 2025

Disco • Mendelssohn – Tchaikovsky | Violin Concertos  • Guido Sant’Anna. Osesp. Thierry Fischer • Selo Naxos • 2025
Faixa a faixa – Músicas – compositores
Felix MENDELSSOHN (1809-1847)
Violin Concerto in E minor, Op. 64, MWV O14 (1844) 
– Allegro molto appassionato
– Andante
– III Allegro molto vivace
Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Violin Concerto in D major, Op. 35 (1878)   
– Allegro moderato
– Canzonetta: Andante
– III Finale: Allegro vivacissimo
– ficha técnica –
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp | Guido Sant’Anna – violino | Regência: Thierry Fischer | Produção, engenharia de gravação, mixagem, masterização e edição: Ulrich Schneider | Gravado na Sala São Paulo, em julho de 2023 | Texto de encarte: Luiz Marques | Assessoria de imprensa: Fabio Rigobelo e Pedro Fuini / Fundação Osesp | Selo: Naxos | Formato: CD digital/físico | Ano: 2025 | Lançamento: 14 de março | ♪Ouça o álbum: clique aqui | ♩Compre o CD: na Loja Clássicos, que está localizada dentro da Sala São Paulo (piso térreo).
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>> Siga: @osesp_  | @thierryfischer.conductor | @guido_sant_anna | @naxosbrasil

 

Osesp e Thierry Fischer – foto: acervo Osesp

Sobre o álbum Concertos para Violino, por Luiz Marques*

Felix Mendelssohn (1809–1847)
Concerto para violino em mi menor, Op. 64 (1844)
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Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847) está entre os criadores da ideia de uma tradição musical essencialmente alemã, tal como ainda hoje a entendemos: de Bach, cuja proeminência o próprio Mendelssohn revelou ao mundo, entre 1827 e 1829, a Brahms, seu sucessor (segundo declara Eduard Marxsen, em 1847), passando por Haydn, Mozart, Beethoven e Schumann. Compositor dotado de um personalíssimo senso melódico, capaz de dominar com inata elegância todos os aspectos da linguagem musical, Mendelssohn foi também pianista, organista, violinista e regente, além de criador e diretor de um renomado conservatório em Leipzig, que ele transformou em capital da tradição clássica.
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Mendelssohn foi também um verdadeiro polímata. O valor artístico de seus desenhos e paisagens em aquarela foi reconhecido por Richard Wagner, que, como se sabe, não se inscreve entre os admiradores incondicionais de sua obra musical. Poliglota e versado em línguas clássicas, Mendelssohn foi amigo próximo e discípulo do grande historiador da Antiguidade, Johann Gustav Droysen (1808-1884), e ainda foi prosador admirável, rivalizando com Berlioz e Schumann em argúcia crítica, em especial em sua vasta correspondência com grandes personalidades da cultura alemã. Como seu pai, o banqueiro Abraham, converteu-se ao protestantismo (acrescentando ao nome judaico Mendelssohn o protestante Bartholdy). O compositor era estudioso de teologia, adaptando os libretos de seus oratórios Paulus e Elias, e assíduo ouvinte dos sermões berlinenses do teólogo e filósofo Friedrich Schleiermacher (1768-1834), com quem compartilhava o entusiasmo por Platão e o mesmo gênero de sentimento religioso romântico.
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O fenômeno Mendelssohn só pode ser entendido de fato se devidamente situado numa das mais felizes constelações da cultura alemã da primeira metade do século XIX. Basta dizer que, em 1821, ele foi levado a Weimar por seu professor de composição, Carl Friedrich Zelter (1758-1832), e foi apresentado a Goethe. Entabulou-se então uma singular amizade entre o menino de 12 anos e o olímpico patriarca de 72, que o reteve um mês em sua casa, cativado por seu gênio e sua precocidade intelectual.
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Concebido desde 1838 para o amigo de infância de Mendelssohn, Ferdinand David (1810-1873), nomeado spalla da Orquestra do Gewandhaus de Leipzig pelo compositor, que se tornara seu regente em 1835, o Concerto para violino em mi menor teve sua estreia apenas em 1845. Ao lado de Sonho de uma noite de verão, Op. 61, é talvez a mais conhecida das peças orquestrais de Mendelssohn, e um dos mais universalmente aclamados concertos de violino do século XIX, junto aos de Beethoven, Brahms e Tchaikovsky.
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Anos a fio, o primeiro tema do primeiro movimento — um angustiante lamento — “não dava paz” ao compositor, conforme escreveu ao amigo. Introduzido pelas madeiras, o segundo tema, em Sol maior, traz um senso de serenidade que dialoga com o primeiro tema até o final. A pureza e o vibrante lirismo da linha melódica do “Andante” permanecem inigualados por qualquer outro compositor de seu tempo e, talvez, pelo próprio Mendelssohn. A seção central de sua forma ternária tinge-se de acentos mais dramáticos, sem, contudo, perder a delicadeza e a elegância supremas do compositor. O terceiro movimento, por fim, traz de volta o frescor e a luminosidade juvenis da abertura concertante Sonho de uma noite de verão, Op. 21.

Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840–1893)
Concerto para violino e orquestra em Ré maior, Op. 35 (1878)
Concerto para violino e orquestra em Ré maior, Op. 35, de Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893), está entre os mais universalmente amados concertos para violino do século XIX. O primeiro movimento, “Allegro moderato”, introduz um primeiro tema, magnificamente melancólico, que é dos mais conhecidos de toda a música deste compositor. Uma cadenza introduz o segundo tema, que rivaliza com o primeiro em beleza e confirma as dificuldades técnicas imensas que permeiam o primeiro e o terceiro movimentos, e que fizeram seus primeiros intérpretes desistir de enfrentá-las. A reexposição do primeiro tema pela orquestra, agora com a expressividade de uma marcha heroica, dá mostra da habilidade singular de Tchaikovsky de reelaborar a mesma melodia em registros emocionais contrastantes. Trata-se de um dos momentos mais emocionantes desse movimento. Seu desenvolvimento sucessivo alterna dramaticidade superlativa e longas passagens de divagação introspectiva que introduzem uma segunda cadenza, a qual se resolve em variações líricas sobre o tema famoso.
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O segundo movimento, “Canzonetta: Andante”, é um curto intermezzo entre os dois movimentos maiores. Seu primeiro tema é um lamento; o segundo é mais distendido e mais lírico e faz perfeitamente jus ao título canzonetta, de caráter mais leve. Após um diálogo murmurado entre solista e orquestra (flauta e clarineta), o movimento se conclui com uma meditação belíssima comandada sobretudo pelas madeiras.
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O terceiro movimento, “Allegro vivacissimo”, se inicia sem pausa (attacca subito) e traz em si, como poucos, a energia arrebatadora da música russa. É difícil lembrar de outra peça do repertório romântico a que se aplique tão bem o adjetivo expressivo vivacissimo. Passagens de profunda melancolia, imersas novamente em belos diálogos com as madeiras, dão lugar a explosões de frenética vibração rítmica das escalas, onde o violino chega ao limite de suas potencialidades expressivas e mesmo percussivas. Eduard Hanslick (1825-1904), um crítico musical que passou à história como guardião da ortodoxia clássica germânica, rebelou-se sobretudo contra esse terceiro movimento, que ultrapassava em muito os limites do que sua tradição podia compreender e admitir.
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Concerto de Tchaikovsky completa uma espécie de tetrarquia de concertos para violino, ao lado dos de Beethoven, Mendelssohn e Brahms, e foi composto no mesmo ano de 1878 em que Brahms compunha o seu. O contraste entre ambos é óbvio. Brahms e Tchaikovsky encontraram-se em 1888 em Leipzig e novamente em 1890 em Hamburgo, na ocasião em que este regeu sua Quinta Sinfonia na presença de Brahms. Cordialidades à parte, seus universos musicais não se interpenetram. O caráter profundamente russo da música de Tchaikovsky é evidente e foi tal o entusiasmo suscitado por sua celebérrima Abertura-Fantasia, Romeu e Julieta (1869-1870), que Vladimir Stasov, maître à penser do Grupo do Cinco (Balakirev, Mussorgski, César Cui, Rimsky-Korsakov e Borodin), escreveu: “Vocês eram cinco, agora são seis!”. Ocorre que Tchaikovsky, embora admirador de Balakirev e de Rimsky-Korsakov, que ele muito ajudou e encorajou, não se vê nesta sexta posição. Tchaikovsky não é um “eslavófilo”, um nacionalista stricto sensu. É um aristocrata graduado no recém-criado Conservatório de São Petersburgo (1862), onde reinavam músicos formados no âmbito da tradição germânica, como Nikolai Zaremba e Anton Rubinstein. Professor, em seguida, no Conservatório de Moscou, ele pouco ou nada compartilha com o ideal programático desse famoso Grupo dos Cinco, músicos de sua geração, nascidos todos entre 1833 e 1844, de classe média e sem formação acadêmica.
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Opus 35 foi composto em Clarens, na Suíça, onde Tchaikovsky se refugiara após o naufrágio de seu casamento. Tem a seu lado Iosif Kotek (1855-1885), violinista exímio, amigo íntimo e discípulo predileto que colaborou intensamente na composição dessa obra, sobretudo no que se refere às dificuldades específicas da escritura para o violino. Tchaikovsky nutre uma forte admiração pela música francesa, por Bizet, Gounod, Massenet e Édouard Lalo. Em Clarens, ele e seu discípulo executam com grande entusiasmo uma versão para piano e violino da Sinfonia espanhola de Édouard Lalo (1874), que terá sido uma forte inspiração para a composição de seu concerto. Em uma carta, Tchaikovsky afirma que Lalo, assim como Bizet, “pensa mais na beleza musical do que em observar as tradições estabelecidas, como fazem os alemães” (itálicos do autor). Nesse sentido, Tchaikovsky não é apenas um gênio absoluto da música de todos os tempos, mas também aquele que foi capaz de criar uma mediação entre a música de seu país e a música ocidental como um todo.
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[*Luiz Marques é professor do Departamento de História da Unicamp e coordenador do Mare — Museu de Arte para a Pesquisa e Educação]

Osesp e Thierry Fischer – foto: Mariana Garcia

Sobre a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp
Desde seu primeiro concerto, em 1954, a Osesp tornou-se parte indissociável da cultura paulista e brasileira, promovendo transformações culturais e sociais profundas. A cada ano, a Osesp realiza em média 130 concertos para cerca de 150 mil pessoas. Thierry Fischer tornou-se diretor musical e regente titular em 2020, tendo sido precedido, de 2012 a 2019, por Marin Alsop. Seus antecessores foram Yan Pascal Tortelier, John Neschling, Eleazar de Carvalho, Bruno Roccella e Souza Lima. Além da Orquestra, há um coro profissional, grupos de câmara, uma editora de partituras e uma vibrante plataforma educacional. A Osesp já realizou turnês em diversos estados do Brasil e também pela América Latina, Estados Unidos, Europa e China, apresentando-se em alguns dos mais importantes festivais da música clássica, como o BBC Proms, e em salas de concerto como o Concertgebouw de Amsterdam, a Philharmonie de Berlim e o Carnegie Hall em Nova York. Mantém, desde 2008, o projeto “Osesp Itinerante”, promovendo concertos, oficinas e cursos de apreciação musical pelo interior do estado de São Paulo. É administrada pela Fundação Osesp desde 2005.

Thierry Fischer – Osesp – foto: acervo Osesp

Sobre Thierry Fischer regente
Desde 2020, Thierry Fischer é diretor musical da Osesp, cargo que também assumiu em setembro de 2022 na Orquestra Sinfônica de Castilla y León, na Espanha. De 2009 a junho de 2023, atuou como diretor artístico da Sinfônica de Utah, da qual se tornou diretor artístico emérito. Foi principal regente convidado da Filarmônica de Seul [2017-20] e regente titular (agora convidado honorário) da Filarmônica de Nagoya [2008-11]. Já regeu orquestras como a Royal Philharmonic, a Filarmônica de Londres, as Sinfônicas da BBC, de Boston e Cincinnatti e a Orchestre de la Suisse Romande. Também esteve à frente de grupos como a Orquestra de Câmara da Europa, a London Sinfonietta e o Ensemble intercontemporain. Thierry Fischer iniciou a carreira como Primeira Flauta em Hamburgo e na Ópera de Zurique. Gravou com a Sinfônica de Utah, pelo selo Hyperion, Des canyons aux étoiles [Dos cânions às estrelas], de Olivier Messiaen, selecionado pelo prêmio Gramophone 2023, na categoria orquestral. Na Temporada 2024, embarcou junto à Osesp para a turnê internacional em comemoração aos 70 anos da Orquestra.

Guido Sant’Anna – foto: Cauê Diniz

Sobre Guido Sant’Anna violino
Natural de São Paulo, SP, o violinista fez sua primeira apresentação solo com orquestra aos sete anos de idade e no ano seguinte foi finalista do Concurso Prelúdio (TV Cultura). Em 2018, então com 12 anos, tornou-se o primeiro sul-americano a ser selecionado para a Menuhin Competition, em Genebra (Suíça), recebendo o Prêmio Música de Câmara e de Público, além do apoio da Caris Foundation, com o empréstimo de um violino de Vicenzo Iorio, de 1833. Integrou o Perlman Music Program (EUA) de 2019 a 2021, ano em que venceu o Concurso Jovens Solistas da Osesp. Venceu, em 2022, o 10º Concurso Internacional de Violino Fritz Kreisler (Viena), feito inédito para um brasileiro. Em 2023, iniciou contrato com a agência KD Schmid e recebeu bolsa integral para estudar na prestigiada Kronberg Academy, na Alemanha. Atualmente é bolsista do Cultura Artística e toca em um violino Jean Baptiste Vuillaume [1798-1875], gentilmente cedido pelo Luthier Marcel Richters, de Viena.
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A Osesp e a Sala São Paulo são equipamentos do Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerenciadas pela Fundação Osesp, Organização Social da Cultura.

 

Série: Discografia da Música Brasileira / Música de concerto / Erudita / Música instrumental / álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

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