sexta-feira, dezembro 20, 2024

Osho: “O problema raiz de todos os problemas.”

Da “Palestras sobre A CANÇÃO DE MAHAMUDRA (de Tilopa)”. Osho. no livro *“Tantra: Suprema compreensão”: ‘II. O problema raiz de todos os problemas’

Se alguém nada vê quando contempla o espaço,
se com a mente alguém observa a mente,
esse alguém destrói distinções
e alcança o estado de Buda
As nuvens que vagueiam pelo céu
não têm raízes, nem lar,
também assim são os pensamentos distintivos
vagando através da mente.
Desde que a mente-eu é vista,
cessa a discriminação.
Formas e cores formam-se no espaço,
mas o espaço não é tingido nem pelo branco, nem pelo negro.
da mente-eu todas as coisas emergem,
e a mente não é manchada nem por virtude, nem por vícios.

O problema raiz de todos os problemas é a própria mente. Assim, a primeira coisa a ser compreendida é o que vem a ser a mente, de que matéria é feita, se é uma entidade ou apenas um processo, se é substancial ou apenas ideal. A não ser que conheças a natureza da mente, não poderás resolver nenhum dos problemas de tua vida.

Podes pensar duramente, mas, se tentares resolver problemas isolados, individuais, estarás voltado ao fracasso – isso é absolutamente certo. Porque, na realidade, não existe problema individual: A mente é o problema. Resolver este ou aquele problema de nada adiantará porque a raiz deles permanece intocada.

É tal como cortar os galhos de uma árvore, podando as folhas, sem desenraizá-la. Novas folhas virão, novos galhos brotarão – até mais do que antes. A poda ajuda a árvore a se tornar mais espessa. A menos que saibas como arrancá-la pela raiz, tua luta será injustificada, tola. Destruirás a ti mesmo, não a árvore.

Lutando, desperdiçarás tua energia, teu tempo, tua vida, e a árvore continuará tornando-se cada vez mais forte, mais espessa, mais densa. E ficas surpreendido com o que vai acontecendo. Trabalhas tão duramente, tentando resolver este e aquele problema, e estes continuam crescendo, aumentando. E mesmo quando consegues que um problema seja resolvido, dez outros, subitamente, ocupam seu lugar.

Não tentes resolver problemas individuais, isolados – eles não existem: a própria mente é o problema. A mente, porém, está oculta subterraneamente; por isso eu a chamo raiz, ela não é aparente. Em qualquer ocasião em que te deparas com um problema, ele está acima do solo; tu podes vê-lo, por isso és iludido por ele.

Lembra-te sempre: O visível jamais é a raiz. A raiz sempre permanece invisível, a raiz está sempre oculta. Nunca lutes contra o visível, pois estarás lutando contra sombras. Será em vão, não poderá haver nenhuma transformação em tua vida.

Os mesmos problemas aflorarão novamente, novamente e novamente. Observa tua própria vida e verás o que eu quero dizer. Não estou falando de teoria alguma sobre a mente, mas sobre a “artificialidade” da mente. Este é o fato: É preciso resolver a mente.

As pessoas vêm a mim e perguntam: “Como obter uma mente pacífica?” Eu lhes respondo: “Não existe tal coisa, mente pacífica. Jamais ouvi falar disso.”

A mente nunca é pacífica. A “não-mente” é paz. A mente, em si mesma, nunca pode ser pacífica, silente. A própria natureza da mente é estar tensa, confusa. A mente nunca pode ser clara, nem ter certeza, porque a mente é, por natureza, confusão, nevoeiro. A clareza é possível sem a mente, a paz é possível sem a mente, o silêncio é possível sem a mente – portanto, nunca tentes obter uma mente silenciosa. Se o fizeres, desde o inicio te estarás movendo num plano impossível.

Assim, a primeira coisa a compreender é a natureza da mente; e só então, algo poderá ser feito.

Se observares, jamais encontrarás uma outra entidade parecida à mente. Ela não é uma coisa, é apenas um processo; não é uma coisa, é como uma multidão. pensamentos individuais existem, mas seu movimento é tão rápido que não podes ver as brechas entre eles. Os intervalos não podem ser vistos porque não estás consciente e alerta; precisas de uma visão interior mais profunda. Quando teus olhos puderem ver profundamente, verás, subitamente, um pensamento, outro pensamento e ainda outro pensamento – mas não verás a mente.

Pensamentos reunidos, milhões de pensamentos, dão-te a ilusão de que a mente existe: Como uma multidão, milhões de pessoas em pé, em multidão; há tal coisa, multidão? Podes encontrar a multidão separada dos indivíduos que ali estão? Mas estão reunidos e a reunião faz com que sintas que existe algo que é multidão -mas só indivíduos existem.

Este é o primeiro olhar interior para a mente. Observa e encontrarás pensamentos, mas nunca te depararás com a mente. E, se isso se tornar uma experiência tua – não porque eu o digo, não porque Tilopa canta a esse respeito, só isso não ajudaria muito -, se isso se tornar a tua própria experiência, se isso se tornar um fato de teu próprio conhecimento, então, subitamente, muitas coisas começarão a se modificar. Porque terás compreendido algo tão profundo sobre a tua mente, que muitas coisas podem seguir-se a isso.

Observa a mente e vê onde ela está, o que é. Sentirás pensamentos flutuando e intervalos. E, se observares por bastante tempo, verás que os intervalos existem em maior número do que os pensamentos, porque cada pensamento precisa estar separado de outro pensamento. de fato, cada palavra precisa estar separada de outra palavra. Quanto mais profundamente fores, mais e maiores brechas encontrarás. Um pensamento flutua e, então, surge uma brecha onde não existe pensamento. Então surge outro pensamento e outra brecha se segue.

Se estiveres inconsciente, não poderás ver os intervalos, as brechas. Saltarás de um pensamento a outro e nunca verás a brecha. Se te tornares consciente, verás cada vez mais brechas. Se te tornares perfeitamente consciente, então, milhares de intervalos te serão revelados.

E, nesses intervalos acontece o satori,
Nesses intervalos, a Verdade bate à tua porta.
Nesses intervalos, Deus é compreendido,
ou a forma, seja lá qual for, em que expresses tal coisa.
Então, a percepção é absoluta.
Então, haverá apenas um vago intervalo de inanidade.

Observa as nuvens: as nuvens movem-se e podem ser tão densas que não consegues ver o céu através delas. A vasta extensão azul do céu está perdida e tu estás coberto pelas nuvens. Então, continuas a observar: Uma nuvem se move e outra ainda não chegou ao teu campo de visão – subitamente, há um ponto na vastidão azul do céu.

O mesmo acontece interiormente: Tu és a vastidão azulada do céu, e os pensamentos são nuvens pairando em torno de ti. Mas os intervalos existem, o céu existe. Ter um vislumbre do céu é satori; tornar-se o céu é samadhi. De satori a samadhi, todo o processo é uma profunda visão interior para a mente; nada mais,

Em primeiro lugar: A mente não existe como uma entidade; apenas os pensamentos existem.

Em segundo lugar: Os pensamentos existem separados de ti; não são ligados à tua natureza. Eles vêm e vão – tu permaneces, tu persistes. Tu és como o céu: Nunca vem, nunca vai, está sempre ali.

As nuvens podem ir e vir, são fenômenos momentâneos, não são eternas. Mesmo que tentasses agarrar-te a um pensamento, não o poderias reter por muito tempo. Ele tem de ir, tem seu próprio nascimento e morte. Os pensamentos não são teus, não te pertencem. Chegam como visitantes, hóspedes, mas não são o hospedeiro.

Observa profundamente e te tornarás o hospedeiro e terás pensamentos como hóspedes. Como hóspedes, eles são belos; mas se esqueces completamente que és o hospedeiro, eles se tornam os hospedeiros e tu ficas em confusão. Isso é o inferno. Tu és o dono da casa, a casa te pertence, mas os hóspedes se tornaram donos. Recebe-os, cuida deles, mas não te identifiques com eles; de outra maneira, eles se farão senhores.

A mente torna-se problema porque tomaste os pensamentos tão profundamente, dentro de ti, que esqueceste por completo a distância, o fato de eles serem visitantes, de irem e virem. Lembra-te sempre do que é duradouro:

O que é a tua natureza, teu Tao. Fica sempre atento ao que nunca vem e nunca se vai, tal como o céu.

Muda o gestalt: Não faças dos visitantes o teu foco; permanece enraizado no hospedeiro. Os visitantes vão e vêm.
Há, naturalmente, bons e maus visitantes, mas não precisas preocupar-se com eles. Um bom hospedeiro trata todos os hóspedes da mesma maneira, sem fazer distinções. Um bom hospedeiro é apenas um bom hospedeiro:

Quando um mau pensamento surge, ele trata o mau pensamento da mesma forma como trataria um bom pensamento. Não é de sua competência julgar o pensamento bom ou mau.

Que estás fazendo quando distingues este pensamento como bom e aquele como mau? Estás trazendo o bom pensamento para mais junto de ti, e empurrando para longe o mau pensamento. Mais cedo ou mais tarde, estarás identificado com o bom pensamento, que passará a ser o hospedeiro. E qualquer pensamento, quando se torna o hospedeiro, cria sofrimento – porque não é a verdade. O pensamento é um simulador, e tu te identificas com ele. A identificação é doença.

Gurdjieff costumava dizer que só uma coisa é necessária: Não se identificar com o que vem e vai. A manhã vem, depois dela o meio-dia, vem a tarde, e todos eles se vão. Chega a noite e, novamente, a manhã. Tu permaneces – não como tu, porque isso também é um pensamento, mas como pura percepção. Não o teu nome, porque isso também é um pensamento; não tua forma, porque isso também é um pensamento; não teu corpo, porque um dia compreenderás que também ele é um pensamento. Apenas pura percepção, sem nome, sem forma: Somente a pureza, somente o que não tem forma nem nome, somente o próprio fenômeno de estar consciente – só isso é duradouro.

Se te tornas identificado, tornas-te mente. Se te tornas identificado, tornas-te corpo. Se te tornas identificado, tornas-te um nome e uma forma – o que os hindus chamam nama, rupa, nome e forma – e, então, o hospedeiro está perdido. Esqueces o eterno e o momentâneo torna-se importante. O momentâneo é o mundo, o eterno é o Divino.

Esta é a segunda visão interior a ser obtida; a de que és o hospedeiro e os pensamentos são os hóspedes.

O terceiro passo, se continuares observando, depressa será compreendido. O terceiro passo diz que os pensamentos são estrangeiros, intrusos, estranhos. Nenhum pensamento é teu. Eles sempre vêm de fora; tu és apenas uma passagem. Um pássaro entra numa casa por uma das portas, e sai, voando, por uma outra. É exatamente assim que os pensamentos vêm e saem de ti.

Continuas a pensar que os pensamentos são teus. Não só isso; também lutas pelos teus pensamentos, dizendo: “Este é o meu pensamento, esta é a verdade.” Discutes, debates, argumentas, tentas provar que “isto é o meu pensamento”. Nenhum pensamento é teu, nenhum pensamento é original – todos os pensamentos são empréstimos. E não são apenas de segunda mão, porque antes que os fizesses milhões de pessoas já reivindicaram esses mesmos pensamentos. O pensamento é tão exterior como um objeto.

O grande fisico Eddington disse, algures, que, quanto mais profundamente se entra por um assunto, mais se vai compreendendo que as coisas são pensamentos. Talvez seja assim, eu não sou um físico; Eddington pode estar certo. Quando diz que as coisas se parecem mais e mais com pensamentos, à proporção que nos aprofundamos, mas, por outro lado, eu gostaria de dizer-te que, se te aprofundares em ti mesmo, os pensamentos parecerão coisas, cada vez mais. Na verdade, são dois aspectos do mesmo fenômeno: Uma coisa é um pensamento, um pensamento é uma coisa.

Quando digo que um pensamento é uma coisa, o que estou querendo dizer? Quero dizer que podes lançar teu pensamento, tal como lanças um objeto. Podes ferir uma pessoa com um pensamento, tal como o farias com um objeto. Podes matar uma pessoa através do pensamento, tal como se atirasses uma adaga. Podes dar teu pensamento como uma dádiva, ou como uma infecção. Pensamentos são coisas, são forças, mas não te pertencem. Vêm, permanecem durante algum tempo contigo e depois deixam-te. O universo todo está cheio de pensamentos e coisas. As coisas são somente a parte física dos pensamentos, e os pensamentos são a parte mental das coisas.

Por isso, pelo fato de os pensamentos serem coisas, muitos milagres acontecem. Se uma pessoa pensa constantemente em ti e em teu bem-estar, ele virá, porque essa pessoa estará continuamente lançando forças sobre ti. É por isso que as bênçãos são úteis, auxiliadoras. Se puderes ser abençoado por alguém que atingiu a não-mente, a bênção será verdadeira, porque um homem que nunca usa pensamentos acumula a energia do pensamento, de forma que, o que quer que ele diga será verdadeiro.

Em toda tradição oriental, antes de uma pessoa começar a aprender a não-mente, ensinam-se técnicas, dando muita ênfase ao fato de que ela deve deixar de ser negativa, porque, uma vez atingida a não-mente, se a tendência dessa pessoa permanece negativa, ela pode tornar-se uma força perigosa. Antes que a não-mente seja atingida, a pessoa deve tornar-se absolutamente positiva. Aí reside toda a diferença entre a magia branca e a magia negra.

A magia negra nada mais é do que um homem que acumulou energia de pensamento sem, primeiro, rejeitar sua negatividade. E a magia branca nada mais é do que um homem que obteve muita energia de pensamento e baseou seu eu total numa atitude positiva. A mesma energia, possuindo negatividade, torna-se negra. Idêntica energia, com positividade, torna-se branca. Um pensamento é uma grande força; é uma coisa.

Essa é a terceira visão interior. Tem de ser entendida e vigiada dentro de ti.
Às vezes, percebes teu pensamento funcionando como uma coisa, mas, por causa de um condicionamento demasiado materialista, pensas que isso é apenas uma coincidência. Negligencias o fato, simplesmente não lhes dás atenção, permaneces indiferente, esqueces. Mas, muitas vezes, sabes que pensaste sobre a morte de uma certa pessoa – e ela morreu. Ou, às vezes, pensas num amigo, em como seria bom se ele viesse – e ele bate à tua porta. Pensas que se trata de uma coincidência. Não é uma coincidência. Na verdade, não existe isso a que chamam coincidência; tudo tem sua causa. Teus pensamentos não cessam de construir um mundo em torno de ti.

Teus pensamentos são coisas; portanto, tem cuidado com eles. Maneja-os cuidadosamente. se não estiveres muito consciente, podes criar sofrimento para ti mesmo e para os outros – e já fizeste isso. E, lembra-te, quando crias sofrimento para alguém, inconscientemente, estás, ao mesmo tempo, criando sofrimento para ti mesmo – porque um pensamento é uma espada de dois gumes. Corta-te, simultaneamente, quando corta alguma outra pessoa.

Há uns dois ou três anos, um israelense, Uri Gueller, que trabalha com a energia do pensamento, exibiu uma experiência na televisão, na BBC da Inglaterra. Ele consegue entortar qualquer coisa apenas pensando: Alguém segura uma colher a uns três metros de distância de Uri Gueller, ele apenas pensa nela – e a colher entorta-se imediatamente. Tu não a poderias entortar com a tua mão, e ele a entorta com o seu pensamento. Mas um fenômeno muito raro ocorreu na BBC, e mesmo Uri Gueller não supunha que tal fosse possível.

Milhares de pessoas, em suas casas, estavam observando a experiência. E, quando ele a realizou, entortando objetos, em muitas residências muitos objetos caíram ao chão, retorcidos – milhares de objetos, em toda a Inglaterra. Foi como se a energia tivesse sido irradiada. Ele estava realizando a experiência a uma distância de três metros e, então, nas casas dos que observavam, a partir da tela do televisor, também a uma distância de três metros, muitas coisas aconteceram: Objetos entortaram-se, caíram, retorceram-se. Foi fantástico!

Os pensamentos são coisas, coisas muito poderosas. Há uma mulher, na Rússia soviética, Mikhailova. Ela é capaz de fazer muitas coisas com objetos a uma grande distância; é capaz de atrair as coisas para si através do pensamento. A Rússia soviética não acredita no oculto – trata-se de uma nação comunista, ateia – de forma que examina o trabalho de Mikhailova, busca saber o que acontece de uma forma científica. Mas, a cada vez que ela realiza a experiência, perde um quilo. O que significa isso?

Significa que ela lança pensamentos como tu lanças energia – e estás continuamente fazendo isso.
Tua mente é tagarela.
Estás irradiando coisas, desnecessariamente.
estás destruindo pessoas em torno de ti.
estás destruindo a ti próprio.
És um perigo – constantemente irradiando.

E muitas coisas estão acontecendo por tua causa. E isso é, também, uma grande rede: O mundo inteiro, a cada dia, está se fazendo mais sofredor, porque é sempre maior o número de pessoas que vivem na terra, e elas irradiam cada vez maior volume de pensamentos.

Quanto mais recuas, mais pacífica se torna a terra – cada vez menor é o número de irradiadores. Nos dias de Buda, ou nos dias de Lao-Tsé, o mundo era muito pacífico, natural: Era um paraíso. Por que? A população era pequena; o povo não era dado a pensar demais, era mais inclinado a sentir. E, também, mais do que pensar, as pessoas estavam a rezar. Pela manhã, a primeira coisa que faziam era rezar. E, durante o dia inteiro, sempre que tinham um momento, rezavam intimamente.

O que é a oração?
Orar é enviar bênção a todos.
Orar é enviar tua compaixão a todos.
Orar é criar um antídoto contra os pensamentos negativos – é uma positividade.

Esta é a terceira visão interior sobre os pensamentos: Eles são coisas, forças, e deves manejá-los cuidadosamente.
Habitualmente, sem disso estares consciente, segues pensando em tudo. É difícil encontrar uma pessoa que não tenha cometido muitos assassinatos em pensamento, é difícil encontrar uma pessoa que não tenha cometido toda a sorte de pecados e crimes dentro da mente – e esses pensamentos podem se concretizar. E- lembra-te – podes não ser um assassino, mas o fato de pensares constantemente no assassinato de alguém pode criar uma situação através da qual essa pessoa seja assassinada. Alguém pode tomar o teu pensamento, porque há pessoas mais fracas em toda parte e os pensamentos fluem como a água: Para baixo. Se pensas constantemente em alguma coisa, alguém que é fraco pode tomar teu pensamento e matar alguém.

Por isso é que os que conhecem a realidade interior do homem dizem que, seja o que for que aconteça nesta terra, a responsabilidade é de todas as pessoas, de todas as pessoas. Quanto ao que quer que aconteça no Vietnam, a responsabilidade não será apenas de Nixon; todos os que pensam são responsáveis. Só um tipo de pessoa não pode ser responsável: A pessoa que não tem mente. Exceto nesse caso, todas as pessoas são responsáveis pelo que acontece. Se a terra é um inferno, tu és o criador dele; tu participas.

Não continues a atirar a responsabilidade sobre os outros – tu também és responsável, isso é um fenômeno coletivo. A doença pode borbulhar em qualquer lugar, a explosão pode acontecer a milhares de milhas de distância do ponto onde estás, mas não faz qualquer diferença, porque o pensamento é um fenômeno não-espacial, não precisa de espaço.

Por isso é que o pensamento é o mais velos dos viajantes. Nem mesmo a luz desloca-se tão rápido, porque até para a luz há necessidade de espaço. O pensamento é o mais rápido viajante. Na verdade, não usa o tempo para viajar, para ele o espaço não existe. Podes estar aqui, pensando em alguma coisa, e o que pensas pode acontecer no outro lado do mundo. Como podes ter sido o responsável? Tribunal algum pode punir-te, mas no tribunal definitivo da existência serás punido. Por isso é que te sentes infeliz.

Há pessoas que vêm a mim e dizem: – “Nós nunca fizemos nada de mal a ninguém, e, ainda assim, somos tão infelizes.” Podem não ter feito nada de mal a ninguém, mas podem ter pensado algo – e o pensamento é mais sutil do que a ação. Uma pessoas pode proteger-se da ação, mas não pode proteger-se do pensamento. Ao pensamento todos são vulneráveis.

“Não-pensar” é uma necessidade absoluta, se queres ficar completamente livre do pecado, livre do crime, livre de tudo o que se passa em torno de ti – e isso significa ser um Buda. Um Buda é uma pessoa que vive sem a mente, de forma a não ser responsável. No Oriente, dizemos que tal pessoa nunca acumulou carma, nunca acumulou qualquer complicação para o futuro. Ela vive, caminha, move-se, come, fala, faz muitas coisas, de forma que deveria acumular carma, porque carma significa atividade, Mas no Oriente, diz-se que, ainda quando um Buda mate, ele não acumulará carma. Por quê?

É simples: O que quer que um Buda esteja fazendo, ele o faz sem colocar naquilo a mente.
Ele é espontâneo, não é atividade.
Ele não está pensando naquilo, mas aquilo acontece.
Ele não é o que realiza a ação.
Ele não se move como um vazio.
Não tem mente para aquilo, não estava pensando em fazê-lo. Mas, se a existência permite que aconteça, ele deixa que aconteça. Já não tem ego para resistir, já não tem ego para fazer.

Este é o significado do estar vazio, do não-eu: ser, apenas, um não-ser, anatta, “não-personalidade”. Então, tu nada acumulas. Então, não és responsável por coisa alguma que aconteça em torno de ti. Então tu transcendes.

Cada pensamento isolado cria algo para ti e para os outros. Fica alerta!

Mas, quando digo “fica alerta”, não quero dizer que devas pensar bons pensamentos, não. Porque, sempre que tens bons pensamentos, simultaneamente estás tendo maus pensamentos. Como pode o bom existir sem o mau? Se pensas em amor, bem ao lado, por detrás dele, o ódio está escondido. Como podes pensar em amor, sem pensar em ódio? Podes não pensar conscientemente, o amor pode estar na camada consciente de tua mente, mas o ódio estará escondido no inconsciente – ambos se movem juntos.

Sempre que pensas em compaixão, pensas em crueldade. Podes pensar em compaixão, sem pensar em crueldade? Podes pensar em não-violência, sem pensar em violência? Mesmo na expressão não-violência a violência está presente, no próprio conceito. Podes pensar em Brahmacharya, celibato, sem pensar em sexo? E, se brahmacharya está baseada no pensamento de não-sexo, que tipo de brahmacharya é?

Não; há uma qualidade totalmente diferente de ser, que vem com o não-pensamento; nem bom, nem mau, simplesmente um estado de não-pensamento. Tu simplesmente observas, tu simplesmente permaneces consciente, mas não pensas. E, se algum pensamento surgir… surgirá, porque os pensamentos não são teus, estão flutuando no ar.

Em derredor, há uma esfera-de-percepção, uma esfera-de-pensamento. Como existe o ar, existe o pensamento em torno de ti, e ele vai penetrando por sua própria vontade. Só deixará de fazer isso, assim que te tornares mais perceptivo. Se te tornas mais e mais perceptivo, o pensamento simplesmente desaparece, desfaz-se, porque a percepção é uma energia maior que o pensamento.

A percepção é como o fogo para o pensamento. É algo como quando uma lâmpada é acesa, em tua casa, e a escuridão não pode entrar. Apagas a luz e, num momento, a escuridão penetra – vem de toda parte, sem a menor demora. Se há uma luz acesa na casa, a escuridão não pode entrar. Os pensamentos são como a escuridão: Só entram, se não houver luz lá dentro. A percepção é o fogo: Tu te tornas mais perceptivo e os pensamentos estarão cada vez menos.

Se te tornares realmente integrado com a tua percepção, os pensamentos não penetrarão absolutamente em ti: Tu te tornaste uma fortaleza inexpugnável, nada é capaz de penetrá-la. Não porque a tenhas fechado, lembra-te, estás inteiramente aberto. Apenas a própria energia da percepção é que tornou-te a tua fortaleza. E, se os pensamentos não podem entrar, virão e passarão ao teu lado. Verás que eles surgem, mas, simplesmente, no momento em que se aproximarem de ti, se desviarão. Então podes ir a qualquer lugar, então podes ir para o próprio inferno – nada pode afetar-te. Isso é o que entendemos por iluminação.

Experimenta compreender agora este sutra de Tilopa:

Se alguém nada vê, quando contempla o espaço, se alguém com a mente, então, alguém observa a mente, esse alguém destrói distinções e alcança o estado de Buda.

Se alguém nada vê, quando contempla o espaço…
Esse é um método, um método do Tantra: Olhar para o espaço, para o céu, sem ver. Olhar com olhos vazios. Olhando e, ainda assim, não procurando algo: Apenas um olhar vazio.

Às vezes vês um olhar vazio nos olhos de um louco – os loucos e os sábios parecem-se, em certas coisas. Um louco olha para o teu rosto, mas percebes que ele não está olhando para ti. Ele apenas olha através de ti, como se fosses feito de vidro, transparente. Estás no caminho dele, mas ele não está olhando para ti. Para ele, tu és transparente. Ele olha para além de ti, através de ti. Olha sem olhar para ti; o para não está presente, ele simplesmente olha.
Olha para o céu sem procurar algo, porque se procurares algo será possível que surja uma nuvem: “Algo” significa uma nuvem, “nada” significa a vasta extensão do azul celeste. Não procures nenhum objeto; uma nuvem aparecerá e, então, olharás para ela. Não olhes para as nuvens. Mesmo que haja nuvens, não olhes para elas – olha simplesmente. Deixa que flutuem, elas estão ali. Até que chega um momento em que sincronizas com esse olhar-não-olhar: As nuvens desaparecem para ti, só o vasto céu permanece. Isso é difícil, porque teus olhos estão focalizados e sincronizados para olhar as coisas.

Olha para uma criança pequena no dia em que nasce. Tem os mesmos olhos de um sábio – ou de um louco: soltos e flutuantes. Ela pode trazer ambos os olhos para o centro, deixar que eles flutuem para os cantos opostos, seus olhos ainda não estão fixos. Seu sistema é líquido, seu sistema nervoso ainda não é uma estrutura, tudo é flutuante. Assim, uma criança olha as coisas sem olhar, é o olhar de um louco. Observa a criança: O mesmo olhar te é necessário, porque deves conseguir, de novo, uma infância.

Observa um louco, porque o louco saiu fora da sociedade. A sociedade significa o mundo fixo dos papéis, dos jogos. Um louco é louco porque agora não tem um papel fixo, saiu de seu papel, é um perfeito desaparecido, em dimensão diferente. Ele não é louco; na realidade, é a única possibilidade de sanidade pura. Mas o mundo inteiro é louco, fixo – por isso o sábio também parece louco. Observa um louco: Esse é o olhar necessário.

Nas antigas escolas do Tibete havia sempre um louco, só para que os inquiridores pudessem observar seus olhos. O louco era muito importante. Procuravam-no porque um mosteiro não podia existir sem um louco. Tornava-se objeto a ser observado. Os inquiridores observavam o homem, seus olhos, e, então, tentavam olhar para o mundo como ele olhava. Eram, aqueles, dias muito belos.

No Oriente, os loucos nunca sofreram como sofrem no Ocidente. No Oriente eram valorizados, um louco era algo especial. A sociedade cuidava dele, respeitava-o, porque o louco tem certas características de sábio, certas características da criança. É diferente da chamada sociedade, da cultura, da civilização; saiu para fora de tudo isso.

Naturalmente, caiu. Um sábio se evade para cima, um louco, para baixo – essa é a diferença – mas ambos se evadem. E têm similaridades. Observa um louco e, então, tenta deixar que teus olhos permaneçam fora de foco.

Em Harvard fez-se uma experiência, há alguns meses, que surpreendeu os experimentadores; não podiam acreditar naquilo. Tentava-se descobrir se o mundo, tal como o vemos, é assim mesmo, ou não – porque muitas coisas vieram à tona nestes últimos anos. Tentaram a experiência com um jovem: Deram-lhe óculos com lentes distorcidas para que os usasse durante sete dias. Durante os três primeiros dias, o jovem viveu em estado de angústia, porque tudo se apresentava distorcido, o mundo todo, ao redor, estava distorcido. Isso produziu-lhe grave dor de cabeça, e ele não conseguiu dormir. Mesmo com os olhos fechados, as figuras distorcidas apareciam: Rostos distorcidos, árvores distorcidas, estradas distorcidas. Ele nem mesmo podia caminhar, porque não era capaz de distinguir entre o que era verdadeiro e o que era projeção das lentes distorcidas. Mas um milagre aconteceu!

Depois do terceiro dia, o jovem acostumou-se com a nova situação e a distorção desapareceu. As lentes permaneceram tal qual eram, distorcidas, mas ele recomeçou a olhar o mundo da mesma forma antiga. Dentro de uma semana tudo voltou à sua ordem: Não havia dor de cabeça, não havia problemas; os cientistas ficaram simplesmente surpreendidos, sem poderem acreditar no que estava acontecendo. Os olhos se haviam deslocado completamente; era como se os óculos ali já não estivessem. Mas os óculos ali estavam, e distorcidos; não obstante os olhos voltaram a ver o mundo para o qual haviam sido treinados.

Vemos o mundo, não como ele é; vemos-lo como esperamos vê-lo, projetamos algo sobre ele.

Aconteceu, certa vez, que, em uma pequena ilha do Pacífico pela primeira vez chegou um grande navio. As pessoas da ilha não o viram, nenhuma delas! O navio era imenso, mas as pessoas estavam adaptadas, seus olhos estavam adaptados, para barcos pequenos. Jamais tinham conhecido um navio tão grande, jamais tinham visto coisa igual. Seus olhos simplesmente não apanharam o vislumbre, seus olhos simplesmente recusaram-se.

Ninguém sabe o que estamos vendo, ou se o que vemos está ali ou não. Pode não estar ali, ou pode estar, mas de uma forma totalmente diferente. As cores que vês, as formas que vês, tudo é projetado pelos olhos. E quando quer que olhes fixamente, focalizando segundo teus velhos padrões, vês as coisas de acordo com teu próprio condicionamento. Por isso é que o louco possui um olhar líquido, ausente, esteja ou não olhando.

Esse olhar é belo. É uma das maiores técnicas tântricas: Não vejas, olha apenas. Nos primeiros dias, renovadamente verás alguma coisa, porque esse é um velho hábito. Ouvimos coisas por causa de um velho hábito, vemos coisas por causa de um velho hábito, entendemos coisas por causa de um velho hábito.

Um os maiores discípulos de Gurdjieff, P.D,Ouspensky, costumava insistir sobre certas coisas com seus discípulos – e todos se ressentiam disso. Muitas pessoas o abandonavam, apenas por causa dessa insistência. Se alguém dizia: “Ontem o senhor disse…” ele, imediatamente, interrompia, falando: “Não digas isso assim; dize: Eu entendi que o senhor disse, ontem, tal e tal coisa. Acrescenta o “eu entendi que o senhor disse”; não digas “o que o senhor disse”. Não podes saber o que eu disse. Fala sobre o que ouviste!” Ele insistia tanto porque nós somos pessoas de hábitos.

Se de outra vez alguém dizia: “Diz a Biblia que…” ele interrompia: “Não digas isso! Dize simplesmente, que entendeste que isto é dito pela Biblia.” A cada sentença ele insistia:
“Lembrai-vos, sempre, de que isso é o que vós entendestes!”

Nós continuamos nos esquecendo. Seus discípulos continuaram esquecendo muitas e muitas vezes, todos os dias, mas ele era obstinado quanto a esse ponto. Não permitia que continuassem. Dizia: “Volta. Dize primeiro: Eu entendi que o senhor disse. foi assim que eu entendi, porque tu ouves conforme tu mesmo, vês de acordo contigo mesmo; tens um padrão fixo para ver e ouvir.”

É preciso abandonar essa maneira de ser.
Para conhecer a existência, todas as atitudes fixas devem ser abandonadas.
teus olhos devem ser janelas, não projetores.
Teus ouvidos devem ser apenas portas, não projetores.

Isto aconteceu: Um psicanalista que estudava com Gurdjieff, tentou, numa cerimônia de casamento, uma experiência muito simples, porém bonita. Ficou ao lado, na fila da recepção. As pessoas iam passando e ele as observava; então, percebeu que ninguém estava ouvindo o que se dizia, tantas eram as pessoas – tratava-se do casamento de um ricaço. Então aproximou-se, e disse à primeira pessoa da fila, muito mansamente: “minha avó morreu hoje.” O homem respondeu: “Muito gentil da sua parte, muito amável.” Então, disse a mesma coisa à seguinte e ela respondeu: “Tão amável da sua parte.” e quando chegou a vez do noivo este respondeu: “meu velho, já é tempo de fazeres o mesmo.”

Ninguém ouve ninguém. Ouves o que esperas ouvir. A expectativa funciona como um par de óculos. Teus olhos deveriam ser janelas – esta é a técnica.

Nada deve sair de teus olhos, porque, se algo sai, uma nuvem é criada. Então, vês coisas que não existem e sofres sutil alucinação. Faze com que em teus olhos e ouvidos haja pura claridade. Todos os teus sentidos deveriam estar claros, tua percepção pura – só então a Existência te poderia ser revelada. Quando conheceres a Existência, saberás que és um Buda,um Deus, porque na Existência tudo é Divino.

“Se alguém nada vê, quando contempla o espaço, se com a mente, então, alguém observa a mente…”

Contempla, primeiro, o céu. Deita-te no chão e fica apenas olhando para o céu. Só uma coisa deve ser tentada: Não olhes para nada. No início cairás muitas e muitas vezes, esquecerás muitas e muitas vezes; não te poderás lembrar continuamente, mas não te sintas frustrado; isso é natural, sendo o hábito tão antigo como o é. Cada vez que te tornares a lembrar, retira teus olhos do foco, faze com que fiquem soltos e olha apenas o céu – sem fazer nada, olhando apenas. Depressa chegará o momento em que poderás olhar para o céu, sem tentar ver algumas coisa ali.
nesse momento, tenta isso com o teu céu interior:

“… Se com a mente, então, alguém observa a mente…”

Fecha os olhos, então, e olha para o interior, sem procurar coisa alguma, com o mesmo olhar ausente. Os pensamentos flutuam, mas tu não procuras por eles, nem olha para eles – estás, simplesmente, olhando. Se vierem, será bom, se não vierem, também será bom. E, daí, serás capaz de ver as brechas: Um pensamento passa, passa também um outro – e a brecha. Então, aos poucos, poderás ver o pensamento tornar-se transparente: mesmo quando o pensamento estiver passando continuarás a ver a brecha, continuarás a ver o céu escondido atrás da nuvem.

E, quando mais te tornares sintonizado com essa visão, mais pensamentos irão tombando, aos poucos, diminuindo e diminuindo, diminuindo e diminuindo. As brechas se tornarão mais largas: Durante alguns minutos não haverá pensamentos; tudo se fará silencioso e quieto, interiormente – estais juntos pela primeira vez. Tudo parecerá absolutamente beatífico, não havendo perturbação. E, se essa maneira de ver tornar-se natural em ti – e torna-se, é uma das coisas mais naturais, basta desfocar, descondicionar-se -, então:
“… esse alguém destrói distinções…”

Nada existe de bom, nada existe de mau, nada é feio, nada é belo,
“… e alcança o estado de Buda.”

O estado de Buda significa o mais alto despertar. Quando não há distinções, quando todas as divisões se perderam, atinge-se a unidade, e só um permanece.

Não podes sequer dizer “um”, porque o um também é parte da dualidade. O um permanece, mas não podes dizê-lo, porque sabes que não podes dizer um, sem, bem lá no fundo, estar dizendo dois. Não, tu não dizes que o um permanece, mas simplesmente que o dois desapareceu, que os muitos desapareceram. Agora o que existe é uma vasta unidade; já não há fronteiras para nada:

… uma árvore fundindo-se em outra árvore, a terra fundindo-se nas árvores, as árvores fundindo-se no céu, o céu fundindo-se no além… tu fundindo-te em mim, eu me fundindo em ti… tudo fundindo-se… as distinções perdidas, desfazendo-se e imergindo, como ondas, em outras ondas… uma vasta unidade vibrando, viva, sem fronteiras, sem definição, sem distinções… o sábio fundindo-se no pecador, o pecador fundindo-se no sábio… o bom tornando-se mau, o mau tornando-se bom… a noite fazendo-se dia e o dia fazendo-se noite… a vida desfazendo-se na morte, e a morte, novamente, modelando a vida… então tudo se tornou um…

Só nesse momento é que o estado de Buda é obtido: Quando há nada de bom, nada de mau, nem pecado, nem virtude, nem trevas, nem luz, nada, nenhuma distinção.

“As distinções existem por causa de teus olhos treinados.
A distinção é algo aprendido.
A distinção não existe na vida.
A distinção é projetada por ti.
A distinção é dada ao mundo por ti – não está nele.
É um ardil de teus olhos lançando mão de um ardil.”

As nuvens vagueiam pelo céu
Não têm raízes nem lar;
Também assim são os pensamentos distintivos
vagando através da mente.
desde que a mente é vista, cessa a discriminação.

As nuvens que vagueiam pelo céu não têm raízes nem lar… E o mesmo é verdadeiro em relação a teus pensamentos, e o mesmo é verdadeiro em relação a teu céu interior: teus pensamentos não têm raízes, não têm lar; tal como as nuvens, eles vagueiam. Assim não precisas combatê-los, nem sequer precisas tentar detê-los.

Isso deve tornar-se um profundo conhecimento em ti, porque sempre que uma pessoa se torna interessada em meditação, começa por tentar deter o pensamento. E, se tentares deter o pensamento, ele jamais se deterá, porque o próprio esforço para meditar é um pensamento. E como podes deter um pensamento com outro pensamento? Estarás agarrando-te à outro pensamento. E isso continuará, e continuará, até à náusea, e não terá fim.

Não lutes, porque quem lutará? Quem és tu? Apenas um pensamento; portanto não te faças o campo de batalha de uma luta de pensamentos. Sê, antes, uma testemunha, observa apenas a flutuação dos pensamentos. Eles cessarão, mas não porque tu os tenhas detido. Cessarão porque te tornaste mais perceptivo, e não por qualquer esforço de tua parte; não, dessa forma eles jamais cessam, eles resistem. tenta e descobrirás: tenta deter um pensamento e o pensamento persistirá. Os pensamentos são obstinados, irredutíveis. São hatha yogis, persistem. Tu os repeles e eles retornam um milhão de vezes. Tu te cansarás, não eles.

Aconteceu que um certo homem foi ter com Tilopa. Esse homem desejava obter o estado de Buda e ouvira dizer que Tilopa o atingira. Tilopa estava estagiando num templo, algures, no Tibete. Quando o homem chegou, Tilopa estava sentado e o visitante disse: – “Eu gostaria de deter meus pensamentos.”

Tilopa respondeu: – “Isso é muito fácil. Eu te ensinarei um plano, uma técnica. faze exatamente o que digo: senta-te e não penses em macacos. Isso bastará.”

O homem disse: – “É assim tão fácil? Basta não pensar em macacos? mas nunca andei pensando neles…”

Tilopa disse: _ “faze o que eu disse e, amanhã pela manhã vem contar o que passou.”

Bem podes compreender o que se passou com o pobre homem: macacos, macacos e macacos em torno dele. À noite não pôde dormir, nem mesmo cochilar. Abria os olhos e ali estavam eles. Fechava os olhos e ali estavam eles, e fazendo caretas. O homem estava simplesmente estupefato: Ora essa, por que aquele homem lhe havia ensinado aquela técnica? Como poderiam os macacos ser o problema, se nunca tinha pensado neles! Isso estava acontecendo pela primeira vez! mas tentou, e pela manhã, ainda tentou. Tomou um banho e sentou-se, sem nada fazer: Os macacos não o largavam.

Voltou à noite, quase louco, porque os macacos o estavam seguindo e ele estava falando com os macacos. Chegou e disse: – “Dá um jeito em me salvar disto. Não quero saber dessa história. Eu estava muito bem, não quero saber de nenhuma meditação. Não quero saber da tua Iluminação – Livra-me desses macacos!”

Se pensares em macacos, pode ser que eles não venham ter contigo. Mas, se quiseres que eles não venham, eles te seguirão. Eles têm seus egos e não poderão deixar-te tão facilmente. E que achas de ti mesmo tentando não pensar em macacos? Os macacos se irritam, isso não pode ser suportado.

O mesmo acontece com as pessoas. Tilopa estava gracejando, dizendo que, se tentas deter um pensamento, não o podes deter. Pelo contrário, o próprio esforço para detê-lo dá-lhe energia, o próprio esforço para evitá-lo torna-se atenção. Assim, sempre que queres evitar algo dás demasiada atenção a esse algo. Se não quiseres pensar um pensamento, já estarás pensando nele.

Lembra-te disso; quando não, estarás no mesmo apuro em que se viu o pobre homem, que ficou obcecado pelos macacos, por ter desejado detê-los. Não há necessidade de deter a mente. Os pensamentos não têm raízes, são vagabundos sem lar; não precisas preocupar-te com eles. Observa, simplesmente observa, sem olhar para eles; simplesmente observa.

Se os pensamentos vêm, não te sintas mal por isso; Se tiveres a mais leve impressão de que eles não são bons, já começarás a combater. É certo e natural: Assim como as folhas chegam para as árvores, os pensamentos chegam para a mente. Isso está certo, é exatamente o que deveria ser. Se eles não surgem, é belo. Conserva-te, simplesmente, como imparcial observador, nem a favor nem contra, não apreciando nem condenando, sem qualquer avaliação. Conserva-te, simplesmente, dentro de ti mesmo, e olha, olha sem olhar.

E, quanto mais olhares, menos encontrarás; quanto mais profundamente olhares, maior numero de pensamentos desaparecerão, dispersar-se-ão. Desde que saibas disso, tens a chave em tua mão. E essa chave revela o mistério mais secreto: o mistério do estado de Buda.

As nuvens que vagueiam pelo espaço não têm raízes nem lar; também assim são os pensamentos distintivos vagando através da mente. Desde que a mente-eu é vista, cessa a discriminação.

E, desde que possas ver que os pensamentos são flutuantes, que não és os pensamentos, mas o espaço nos quais eles flutuam, terás atingido a tua mente-eu, terás compreendido o fenômeno da tua percepção. Então, a discriminação cessará: Então, nada será bom, nada será mau; qualquer desejo simplesmente desaparecerá, porque não haverá nada de bom, nada de mau, nada a ser desejado, nada a ser evitado.

Tu aceitas e te tornas desprendido e natural. Tu simplesmente, começas a flutuar com a existência, sem ir a parte alguma, porque não há meta; não te moves em direção de alvo algum, porque não há alvo. Começas a gozar cada momento, seja o que for que ele traga – seja o que for, lembra-te. E podes gozá-lo, porque agora não tens desejos nem expectativas. Nada pedes; portanto és grato ao que quer que recebas. Só o estar sentado e respirar é tão belo, só estar em algum lugar é tão maravilhoso, que cada momento da vida torna-se uma coisa mágica, um milagre em si mesmo.

Formas e cores formam-se no espaço, mas o espaço não é tingido nem pelo branco nem pelo preto. Da mente-eu todas as coisas emergem, e a mente não é manchada, nem por virtudes, nem por vícios.

Quando Buda alcançou o Definitivo, a perfeitamente Definitiva Iluminação, perguntaram-lhe: Que conquistaste?

– Ele riu e disse: – “nada, porque o que quer que eu tenha conquistado já estava dentro de mim. Não atingi nada de novo. Isso sempre esteve em mim, desde a eternidade, é a minha verdadeira natureza. Eu, porém, não tinha noção disso, não tinha consciência disso. O tesouro sempre esteve ali, mas eu o havia esquecido.”

Tu esqueceste, eis tudo – essa é a tua ignorância. Entre um Buda e ti não há distinção, no que se refere à natureza. Só existe uma distinção; não te recordas de quem és, mas ele se recorda. Sois os mesmos, mas ele se recorda e tu não te recordas. Ele está acordado, tu estás profundamente adormecido, mas a vossa natureza é a mesma.

Trata de viver dessa maneira – Tilopa está falando sobre técnicas; vive no mundo como se estivesses no céu, faze teu próprio estilo de vida. Se alguém se zanga contigo, insulta-te – observa; se a cólera crescer em ti, observa; sê um observador sobre a montanha, e olha, olha, olha. E, só por olhar, sem olhar para nada, sem te tornares obcecado por coisa alguma, quando tua percepção se fizer clara, subitamente, num momento, na verdade sem qualquer tempo, um fato acontecerá, subitamente, fora de qualquer medida de tempo, e estarás plenamente acordado, serás um Buda, Tornar-te-ás um Iluminado, o Acordado.

Que ganha com isso um Buda? Nada. Pelo contrário, perde muitas coisas: O sofrimento,a dor, a angústia, a ansiedade,a ambição, o ciúme, o ódio, a dominação, a violência – perde tudo isso. E não obtém nada. Obtém o que ali já estava: Recorda-te.

Da “Palestras sobre A CANÇÃO DE MAHAMUDRA (de Tilopa)”
*OSHO. (Bhagwan S. Rajneesh). no livro “Tantra: a suprema compreensão”. [compilado pelo Swami Amrit Pathik e organizado por Ma Yoga Anurag]. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1978.


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