Dois dias depois de ter recebido, em Estocolmo, o Prêmio Nobel de Literatura, o poeta chileno Pablo Neruda se encontrou com seu colega e amigo colombiano Gabriel García Márquez para um bate-papo. Essa conversa que transcorreu em ritmo de entrevista foi gravada pela emissora Televisión Macional de México. Eternizada, vocês podem assistir agora o encontro entre essas duas geniais figuras.
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Quando realizou a entrevista, García Márquez estava já há 16 anos afastado do jornalismo, dedicado inteiramente à literatura. Ele iniciou como jornalista em 1948, no jornal diário El Universal, de Cartagena e, em 1954, já no âmbito nacional, no El Espectador. Entre 1959 e 1961 ajudou o jornalista argentino Ricardo Masetti que, a pedido de Che Guevara, estava organizando a Agência Prensa Latina.
Conversaram sobre a realidade do ponto de vista de cada um no universo em que viviam: poesia e literatura. “O poeta tende a se distanciar da realidade viva, da realidade atual” disse Neruda e arrematou em seguida, “invejo a condição do novelista (romancista) que, de uma maneira ou outra, tem o acesso direto ao relato a ser contado coisas que foi abandonada na poesia”.
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García Márquez, por sua vez, fez uma reflexão sobre a forma em que o lírico aparece em seu trabalho: “tenho, verdadeiramente, a tendência a converter o relato, a novela, em poesia… quase estou conseguindo e o que aspiro com meu trabalho é encontrar melhores soluções poéticas que narrativas”.
Desde o início da conversa, Neruda insiste na necessidade de retornar à poesia épica, na forma como a faziam os clássicos, como Homero e Dante, a poesia que contava uma história, e que, penso eu, foi perdida por essa nova geração de escritores, assim como a poesia didática. Eu me propus fazer com que ensinassem coisas com minha poesia”
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Gabo enfatiza sobre a necessidade de coexistirem o romancista com o poeta, porém, de maneira pacífica. Propõe que “os poetas sejam a cada dias mais narradores e os romancistas cada vez mais poetas”, enquanto Neruda reitera que se sente incapaz de relatar em prosa as coisas e que tem momentos em que desejaria ter perto de si alguém para quem contar milhares de histórias que fluem por sua cabeça.
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Uma conversa de 15 minutos que vale a pena ver e guardar como um grande legado da literatura dos povos de nossa América.
(por revista Diálogos do Sul)
Gabriel García Márquez entrevista Pablo Neruda (espanhol)
Fonte: Fundación Gabo
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“…e para não tombar, para afirmar-me sobre a terra, continuar lutando, deixa em meu coração o vinho errante e o pão implacável da tua doçura.”
– Pablo Neruda, em “Canto general”. vol. 1, 1955.
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“A escrita tornou-se então fluida, e tanto que às vezes me sentia escrevendo pelo puro prazer de narrar, que é talvez o estado humano que mais se parece à levitação.”
– Gabriel García Márquez, no prólogo “Doze contos peregrinos”.
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LEIA TAMBÉM
:: Gabriel García Marquez (contos – textos – ensaios – matérias)
:: Pablo Neruda – poemas do livro “Crepusculário” (bilíngue português-espanhol)
:: Pablo Neruda (poemas, textos e entrevista)
BREVE BIOGRAFIA DOS AUTORES
PABLO NERUDA
Nome literário do poeta, diplomata e marxista chileno Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Nasceu a 12 de julho de 1904 em Parral, no Chile, e morreu a 23 de setembro de 1973, em Santiago. De família humilde, viveu no sul do Chile, em Temuco. A mãe faleceu uns meses após o seu nascimento e o pai voltaria a casar. Neruda viria a ter um bom relacionamento com a madrasta, que considerou como a sua verdadeira mãe. Escreveu um dia “eu nasci para a vida, para a terra, para a poesia e para a chuva”. Estudou no liceu desta cidade, entrando aos 15 anos no Instituto Pedagógico da Universidade de Santiago. Começou a escrever aos 10 de idade. Quando tinha apenas 12 anos conheceu Gabriela Mistral, uma famosa poeta chilena, que lhe deu a conhecer os escritores clássicos que iriam influenciar a sua carreira e as suas decisões políticas. Tornou-se militante anarquista e traduziu o trabalho de Jean Grave, a notável teoria de Peter Kropotkine, um anarquista comunista. A partir de 1920 passou a usar o nome Pablo Neruda, que legalmente adotou em 1946. Em 1921 deixou Temuco e mudou-se para a capital, Santiago. O estudante romântico invadiu a vida literária da capital chilena com a sua capa de estudante. Neste ano ganhou o prémio da federação chilena de estudantes de poesia com La canción de la fiesta e a partir daí começou a publicar poemas na revista da federação, Claridad. Em 1923 escreveu o primeiro livro, Crepusculario . Para cobrir as despesas desta publicação viu-se obrigado a vender o relógio que o pai lhe tinha oferecido. Em 1924 encontrou quem lhe publicasse Viente poemas de amor y una canción desesperada . Este trabalho foi muito bem recebido pelo público e conservou a sua popularidade ao longo dos anos. Aos vinte anos e com dois livros publicados, Neruda tornou-se o poeta chileno mais conhecido. Abandonou os estudos de francês para se dedicar inteiramente à poesia. Escreveu Tentativa del hombre infinito , Anillos, em colaboração com Tomás Lago, e El hondero entusiasta .Em 1927 foi nomeado cônsul em Rangoon, Burma, e durante cinco anos representou o seu país na Ásia. Seguidamente viajou para Ceilão, Colombo, Jacarta, Java, onde casou com a sua primeira mulher, de origem holandesa. Esteve ainda em Singapura. Viveu um período de grande solidão, animado apenas pelo romance com uma jovem burmesa. Durante estes anos na Ásia escreveu Residencia en la tierra . Em 1933 foi nomeado cônsul em Buenos Aires e daí data a sua amizade com o poeta espanhol Federico García Lorca. No ano seguinte foi transferido para Barcelona e depois para Madrid onde voltou a casar, desta vez com Delia del Carril. Com o mesmo impacto literário que obteve no seu país, Neruda conquistou a Europa e o resto do mundo, a sua poesia tornou-se rapidamente conhecida. Foi um escritor bem acolhido em Espanha. Este clima de desenvolvimento poético foi subitamente interrompido pelo eclodir da guerra civil espanhola em 1936. A execução do seu amigo García Lorca, a prisão de Miguel Hernández e o sangue nas ruas contribuíram para a maturidade do poeta e para as suas atitudes políticas. Escreveu então Espanã en el corazón , publicado durante a guerra civil nas linhas da frente republicanas. Pablo Neruda regressou ao Chile em 1938, com um grupo de refugiados espanhóis. Depois desta atitude, o governo chileno mandou-o para o México onde produziu intensamente textos poéticos, inspirado na II Guerra Mundial, que assolava a Europa, posicionando-se especialmente ao lado da defesa de Estalinegrado contra a ocupação germânica. Em 1943 voltou ao Chile por mar, recebendo uma grande ovação dos seus conterrâneos. Em 1945 foi eleito senador e nos três anos seguintes consagrou a maior parte do seu tempo aos problemas do país. A atividade política de Neruda foi interrompida quando foi eleito um governo de direita. Pablo Neruda, comunista, foi forçado a ocultar a sua ideologia, assim como outros esquerdistas. Estes anos de clandestinidade foram, no entanto, proveitosos do ponto de vista da obra literária. Escreveu Canto General , um dos grandes poemas épicos escritos no continente americano. Em fevereiro de 1948, deixou o Chile, atravessando a zona sul das montanhas dos Andes a cavalo. Em junho de 1949 visitou a União Soviética para participar na celebração dos 150 anos de Aleksandr Pushkin. Visitou depois outros países da Europa e o México. Em 1952, depois da ordem para prisão dos escritores de esquerda e de figuras políticas terem sido retiradas, Neruda regressou ao Chile e casou pela terceira vez, com a chilena Matilde Urrutia. Com a sua residência na Ilha Negra, no Pacífico, viajou constantemente por vários países, entre os quais Cuba e Estados Unidos, respetivamente em 1960 e 1966. A sua poesia foi traduzida em quase todas as línguas. A poesia de Neruda representa uma constante mudança, relacionada com as experiências da sua vida. Um dos mais enigmáticos trabalhos é Residencia en la tierra onde rompeu com a forma tradicional e criou uma técnica poética altamente personalizada embora plena de realismo, que se tornou conhecida como “nerudismo”. Pablo Neruda foi Prémio Nacional de Literatura, Prémio Lenine da Paz (1953) e Prémio Nobel da Literatura (1971).
Fonte: Infopédia
GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ
Escritor colombiano nascido a 6 de março de 1927 em Aracataca, faleceu a 17 de abril de 2014 na Cidade do México. Desde logo deixado aos cuidados dos seus avós, um coronel na reserva, ex-combatente na guerra civil, e uma apaixonada pelas tradições orais indígenas, estudou na austeridade de um colégio de jesuítas. Terminando os seus estudos secundários, ingressou no curso de Direito da Universidade de Bogotá, mas não chegou a concluir. Fascinado pela escrita, transferiu-se para a Universidade de Cartagena, onde recebeu preparação académica em Jornalismo. Publicou o seu primeiro conto, “La Hojarasca”, em 1947. No ano seguinte, deu início a carreira jornalistica, colaborando com inúmeras publicações sul-americanas. No ano de 1954 foi especialmente enviado para Roma, como correspondente do jornal El Espectador mas, pouco tempo depois, o regime ditatorial colombiano encerrou a redação, o que contribuiu para que Márquez continuasse na Europa, sentindo-se mais seguro longe do seu país. Em 1955 publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de contos que já haviam aparecido em publicações periódicas, e que levou o título do mais famoso, La Hojarasca. Passando despercebida pelo olhar da crítica, a obra inclui contos que lidam compassivamente com a realidade rural da Colômbia. Em 1967 publicou a sua obra mais conhecida, o romance Cien Años De Soledad (Cem Anos de Solidão), romance que se tornou num marco considerável no estilo denominado como realismo mágico. Em El Otoño Del Patriarca (1977), Márquez conta a história de um patriarca, cuja notícia da morte origina uma autêntica luta de poder. Uma outra obra tida entre as melhores do escritor é Crónica De Una Muerte Anunciada (1981, Crónica de uma Morte Anunciada), romance que descreve o assassinato de um homem em consequência da violação de um código de honra. Depois de El Amor En Los Tiempos De Cólera (1985, Amor em Tempos de Cólera), o autor publicou El General En Su Laberinto (1989), obra que conta a história da derradeira viagem de Simão Bolívar para jusante do Rio Magdalena. Em 2003, as Publicações D. Quixote editam, deste autor, Viver para Contá-la, um volume de memórias de Gabriel García Márquez onde o autor descreve parte da sua vida. Em 2005 foi publicada outra obra de sucesso Memoria de Mis Putas Tristes (Memória das Minhas Putas Tristes). Gabriel García Márquez foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1982.
Fonte: Infopédia
Outras referências
Gabriel García Márquez. Biografía – premios – cronología de obras – bibliografia (espanhol) – Instituto Cervantes.
Pablo Neruda – site oficial (espanhol).
Pablo Neruda (espanhol) – Instituto Cervantes.
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