Do livro ‘O Porto Submerso’
Querosene
Nunca se soube
se por fome,
sede
o pura danação.
Foi apanhado
estendido sobre o ladrilho da taverna
mamando querosene
na torneira do tambor.
Adquiriu desde então
em tom esverdeado,
guenzo
e uns olhos iluminados
como se tivesse tragado
as nascentes da lua.
Os meninos da rua
lhe atiravam fósforos
para conferir se acendia,
querosene.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Telhados
contemplo a textura do telhado,
embalado nesta rede
de capturar infâncias e extravios.
Entre madeira e madeira,
caibros,
ripas,
travessões
o barro de telhado
vestido de verdes
e camadas incontáveis do tempo
recolhe a melodia luminosa
das chuvas de março.
Aqui, sem saber de sua água,
elas golpeiam para alimentar a terra
e essa infinita cadeia de medos
que nos habita os olhos,
amiúda o coração dos meninos
e dos anciãos.
Esses que já se despedem
da lógica inútil dos gestos diários,
da palavra previsível
e desconstroem caminhos
para regressar aos improváveis
territórios da inocência…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Buriti
Em palma verde de buriti,
tranço um balaio de versos
para tentar uma última vez…
recolher o milagre das chuvas:
água das águas
que golpeia luminosa e vertical
o coração dos homens
e nos lava de todas as culpas
porque carece de acender
na paisagem submersa
a eterna condenação da vida;
porque anda vertiginoso
o tempo de amanhar a terra
– e as moças no viço –
e discernir nelas com as pontas dos dedos,
os descaminhos das sombras
e do mel
e arar profundo o ventre da paixão
até que não encontre mais
a estrada do retorno
e a vida me falte
e a terra e a febre da paixão
me convertam em semente de encantados,
essa matéria que só se explica na morte
ou no ranger imperceptível da germinação…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Concerto para jacumã e remo
Como não devo explicações nessa busca
e não guardo diário de bordo,
requeiro licença para dizer:
– amarrei minha canoa
nas varandas da lua,
no portal do anverso
– o lado turvo, o avesso,
o não-sei-onde… –
e só agora me dou conta de que a lua,
mesmo quando luar cheia
e banhada nos rios
que me vertem de veias
é irremediavelmente deserta
para cultivar palavras.
(…Mergulho o remo
e remo sem rumo,
sem pauta,
sem porto algum
que me recolha
ao fim da madrugada.
jacumã é lugar de partida.
e de chegada.
Daqui navego a vida
que me coube navegar.)
A poesia aqui não brota
em razão da mudez,
talvez da excessiva solidão
ou, ainda, porque o exílio eterno dos ventos
defendeu este lugar
da dilaceração do grito.
A bem dizer não cheguei a lugar algum.
Aqui é quando a palavra não se apartou
do silêncio original
e o silêncio é apenas a escuridão e o frio
à espera de batismo
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Mirindiba
Estrela derrete,
de luz.
Estrela quando cadente
corisca o céu,
cai na carreira Comprida,
onde o rio guarda seus estoques
de claridades.
Vira peixes
luzindo debaixo dos pés
de mirindiba. Entre raízes,
(Mirindiba fruta humilde
nutrindo peixe celestes…)
Ou se dissolve para batizar
a alma dos meninos
na esmeralda das águas.
Selar seu destino miúdo
de pescadores. Sertanejos.
O horizonte se esgota
bela ali, na Ipueira.
A Carreira Comprida
é a corredeira das almas:
é infinita vertigem….
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Paus d’arcos
Paus d’arcos.
Agosto.
cerrados.
O Pau d’arco
desata os laços
do tempo que se despede,
mas permanece contido
na cortiça que protege o tronco
contra os açoites da seca.
Acende sinos de sol
multiplicados,
como o canto dos galos
suspende a manhã
e anuncia
de dentro do sono escuro da madeira
que o cerrado explodiu constelação…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Aluado
Aluado
(a lua dos cerrados
sangra delírios de pó
e prata antiga…)
quisera inundar
a geografia do teu colo
com o leite dos rios
que represo sob a pele.
Meus rios esta noite,
não fluem.
Cortam.
Como rios sertanejos tragados
pela voracidade do chão.
Desses que apartam as águas.
Estancam. Num rosário de espelhos cegos,
separados pelo gume das pedras
ou pela avidez dessas areias
descendentes do fogo.
Aluado,
banho asas
de borboletas amarelas
para acender teus olhos
cerrados
pelas cortinas de rendas,
no portal da janela
por onde me vigias
nesta noite de Nossa Senhora das Candeias…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
O muro
Estou aqui,
assim
desmoronado e só:
velho muro de adobe
sob as chuvas de março,
invadido de verde
e lanternas chinesas
penduradas de luz,
minuciosas,
pelo Melão de São Caetano,
repleto de adeus…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Os impossíveis
Poesia é assim:
os impossíveis.
É quando prevalece
a vontade da palavra.
E se rende a razão
ao cerco do delírio.
É quando o verso é um grito
que pasta no pântano,
mastiga luas maduras,
como abóboras cortadas
a golpes de facão
e liberta a semente da fala
– a infância da palavra –
a serviço da desordem.
A palavra, que escrita,
se cobre de cinzas.
(Como Judith antes de visitar
a tenda de Holofernes)
Falada, acende arco-íris.
Poesia é assim:
os impossíveis
ao alcance da voz…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Os bilros
Na dança dura do dia
entre os dedos da rendeira
os bilros trançam nos fios
a renda da vida inteira.
Os bilros são brasas negras
a crepitar infinitas
espumas de rendas brancas.
Nessa trama dos aflitos,
nessa dança dos contrários
a renda tece a rendeira
na ponta escura dos bilros.
No fio longo dos dias
a brasa viva dos bilros
urde o corpo da rendeira
nas linhas do seu destino,
destino de labirintos
de sonho em renda desfeito,
consumido na fogueira,
na trama de cada bico.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Trama
E se o corpo é uma canoa
de madeira amarga
e terna,
a alma é um rio agudo
com dedos de água
e fuga,
a marca dos meus roteiros.
Dedos sábios de rendeira
tecem os fios incontáveis
a trama do meu destino:
fina renda nordestina
improvisando cantigas
sobre a almofada da vida.
O que fui o que serei,
se madeira
se cambraia
nas mãos do povo se traça.
O poeta canta o tempo
e o tempo é de navegar,
serei canoa a varar
as cidadelas do vento
ou em renda me enredo
e me afirmando
me nego,
neste rio ou neste mar
sem saber me extravio
na trama de um outro tear.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Carvão
A gengiva de ouro
devora a vasta planície:
ardem copas, flores, palmas,
pássaros incandescentes.
O fogo
anoitece a terra
e a secreta vontade do fruto.
Coivaras industriais
reorganizam o cerrado
para submetê-lo
à tirania produtiva dos homens.
Meus olhos cansados
miram a tarde que morre
e registram ruínas de árvores
que exigem o silêncio da alma
como catedrais tombadas.
Ardem os ossos das árvores:
o verde derrotado,
o fulgor da labareda,
a palha, a cinza, antigas certezas
pulverizadas,
a potassa exposta à viração.
A busca feroz do carvão.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Carvoeiros
I.
O cerrado prefigura o carvão?
O capim agreste quando não se acende pelas coivaras do sol,
guarda estoques de queimadas para empregar nas secas futuras.
A secreta ciência dos bichos adverte: ali ema não bota ovo.
– O Cerrado sabe seus atalhos…
A promessa de vida que no ovo lateja,
o trabalho de vida que no ovo lateja,
o disparo de vida interrompido no ovo
adia a vida que pulsa nos seus guardados:
a vida sabe,
a vida se esquiva para prosseguir.
Asa astúcias da vida inventam umidades para derrotar os ministérios do fogo?
Quem saberá? O cerrado é celeiro de águas: nascentes.
O cerrado prepara o deserto?
Será o caminho entre o areal e a floresta?
Ou, ao contrário, é passagem entre a floresta e o pó?
O cerrado é a multiplicação,
as infinitas diferenças:
o labor paciente do mel e das frutas e seus ácidos.
O cerrado incorpora o trabalho dos ventos,
das águas exiladas,
sacudidas do lombo
pelas forças primitivas da terra.
O cerrado é assim: desigual.
O trabalho dos homens organiza o cerrado.
Organiza desertos transgênicos de soja.
Desertos verdes de soja,
desertos secos de soja,
desertos…
II.
O carvão dos cerrados
desorganiza o alento dos homens.
A respiração sob a fuligem,
envenena a infância dos homens: sangra.
Sufoca.
Aterra na cinza a promessa do voo.
Os olhos desses meninos libertam,
sob a fuligem, fagulhas
de arrastar entre os fornos
os ossos da infância.
As linhas das mãos humanas prefiguram
o deserto?
Contemplo as mãos do carvoeiro.
Ásperas. Negras. Anoitecidas pela jornada.
Empunharam durante o dia as sementes do sol
presas nas tochas, nas bocas dos fornos.
Agora que se vai o sol, sitiado pela extensa escuridão dos cerrados,
as tochas são sementes de um sol extinto
trabalhando celeiros de noite e de carvão.
Conhecerão algum dia,
essas mãos pesadas sobre a mesa
o surdo poder que carregam: a possibilidade do deserto?
III.
O forno figura um ovo.
Um ovo de terra úmida:
barro arredondado
pelas mãos do carvoeiro.
Um ovo que arde na fumaça.
Um ovo grávido de morte:
devora a lenha dos homens,
a vida dos homens,
os sonhos dos homens,
os homens…
O carvoeiro faz o forno.
O forno refaz o carvoeiro.
Assalta sua pele, os olhos, a medula:
o carvoeiro sonha sonhos de carvão.
O carvoeiro faz o forno.
O forno refaz o carvoeiro.
Multiplica-o em cada forno novo:
ovo onde a morte lateja.
O carvoeiro quando mira o gato contratador,
seus olhos padecem de desterros.
Recriam os primitivos territórios da vida avulsa,
de onde veio e atinam por um instante:
a distância é a mãe dos submissos.
As mãos estendidas para recolher o vale
que prolonga sua servidão
sabem de êxodos e algemas:
os braços adquirem a feição escura dos machados.
IV.
O lingote de aço
contem no seu fogo
a paisagem que devorou?
O lingote não oferece,
antes esconde dos meus olhos,
a paisagem devastada.
A usina se nutre
dos ossos dos cerrados
e dos sonhos escassos dos homens.
A usina converte em aço,
a paisagem e em cinzas,
o coração dos homens.
O lingote é o filho aceso
da usina que oculta no seu fogo
a lógica do deserto.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Casas mortas
Imagino que despertaram a Boiúna,
Do sono secular que a prende ao leito do rio,
Cercada pelos aros da lua nova:
Só ela, ao romper sua gaiola de águas
E o escuro dos nossos medos
Produz tamanhos assombros…
Caminho entre o cadáver humilde das casas
E vestígios das ilusões que cultivei;
Das antigas narrativas que nos ensinam a temer
E a rir dos fortes para mitigar-lhes o poder…
Vago entre tamboris, jatobás, copaíbas,
[mangueiras
e esse pau d’arco a meus pés que acendia
[no azul de agosto
a manhã de flores amarelas,
igual um noiva sertaneja enfeitada para
[o sacrifício…
Os anéis que arrastam essas casas mortas,
os ossos das árvores, os vestígios das vidas
[obscuras
narradas no idioma submerso dos negros
que habitam as cozinhas, os quintais
e guardam o leite que amamenta os delírios,
não lembram anéis luminosos do Boiúna.
Trazem cinza, o ferro, o peso das correntes
[de arrasto:
não sonham.
O rio contempla os homens: banzeiro
Espia por cima do lombo,
feiro um animal que mede o relâmpago do ataque
e adia,
como se quisesse arrepiar as cabeceiras.
Ministra enigmas: não se defende, cultiva sua
hora…
Indago das águas um rastro, um sinal da Boiúna,
a cobra-grande que vigiava a insônia dos
[meninos incrédulos
para mantê-los suspensos na rede tecida
com fios de algodão e a extensa trama de medos…
Nessa noite, não há porque temer a Boiúna.
Ela nos acolhe nos aros da lua nova
e nossa insônia se arrasta na esteira
da lagarta
dos tratores…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Barragem
Ao primeiro olhar o rio assume as feições
De lagoa. De útero. Misteriosa oficina de vida.
Melhor, um avesso de útero:
Vai devorando as ilhas
Que se opõem à sua placenta corrosiva.
Dissolve areias e memórias
Para nutrir vagidos e vida nova,
Imprecisa:
Algo entre o pássaro e a calamidade.
Tocantins: veia aberta num brejal
Que se derrama pelo cerrado vasto
E reconfigura a estampa da paisagem
— e do peito —
Esculpida nos ásperos, no torto,
Na dura vontade do sertão.
O rio teima em manter-se rio, corrente:
Uma veia de esmeralda líquida e retesa
Varando o ventre do lago,
Feito alma submersa
E luminosa a lhe dar sentido.
Vencido, o rio se abranda em barros e silêncios.
Grávido, cálido, fermentado.
Engendrando o desconhecido
Belo ou monstruoso que saltará sobre nós.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Um mundo se dissolve
Um mundo derrete diante de mim.
A chuva o dissolve em lentas cordas de cristal.
Um mundo que julguei sólido,
na sua oculta carpintaria,
se dissolve sem opor resistência perceptível
aos meus olhos embotados
pela rigorosa geometria das cidades,
cujos agudos ignoram o torto, o difuso, o inexato.
E vem se depositar aos meus pés
nesse estado primitivo de águas,
come se desejassem,
por algum mistério todavia indecifrado,
fermentar inéditas formas de vida
para alimentar o espanto das palavras…
– a poesia a chave do labirinto
onde se ocultam os vocábulos
que ainda pulsam nas jazidas dos dicionários,
aflitos por nomear o recriado.
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
O porto submerso
Piranhas devoram o baú de lembranças
nos quartos dos fundos dos casarões…
Algumas paredes ruíram
sobre os sonhos acalentados na infância:
não resistiram talvez ao assédio da umidade,
a essa flora que prospera nos pântanos,
forçando os precários alicerces de tudo,
ao abandono de tantos anos, ao olvido…
Os sonhos são como os ossos dos antepassados:
Inspiram reverência.
Sitiados pela cinza feroz do quotidiano,
sustentam um brilho inútil,
como se desejassem nos guiar
por atalhos e velhos erros já palmilhados.
Uma força secreta os anima
e os converte no espelho que habita
a obscura face dos objetos que amamos
e nos regenera:
em cada um deles miramos nosso próprio rosto
que busca, em vão, recobrar a luz extinta
[dos casarões
nas estrelas que a tarde antecipa,
extraviadas, acima do Porto submerso…
– Pedro Tierra, no livro “O Porto Submerso”. Brasília: Edição do Autor, 2005.
§
Do livro ‘A palavra contra o mundo’
Inventar o fogo
I
Uma brisa ágil
fugiu do mar.
Varreu os areais,
meteu-se pelos becos,
pelos cais,
bateu à porta
das oficinas,
percorreu as ruas mortas,
arrepiou a contravento
a correnteza dos rios,
assobiou na corda tensa dos fios,
soprou bandeiras nos varais,
cantou cantigas de cordel,
visitou a cidade
e seus vazios,
preparou a pólvora
e sonho,
inventou o fogo
na casa da escuridão
e ensinou às nossas bocas
desunidas
uma canção de clarear.
II
Canto a canto
os galos do povo
suspenderam no azul
a manhã mobilizada.
A roda se deteve
sobre os trilhos
nos subterrâneos da cidade.
E as mãos ásperas
dos pedreiros,
como pássaros fatigados,
mais afeitos à marcha
que ao vôo,
baixaram
dos andaimes
despertadas.
O tijolo rejeitou a massa.
Recusou a pedra,
o prumo,
a esquadria,
o canto geral conteve o braço
e o vôo dos edifícios se estancou
na ponta seca
dos aços,
na claridade do dia.
O arado repousou sobre a terra.
Madurou na espiga o cereal,
a foice dobrada ao pé do eito
a relfetir faíscas sob o sol,
represou o corte
e a colheita.
A máquina cedeu num momento
ao comanda da mão
que governa
e saltou sobre o grito dos ferros
o clamor dos homens
fraternos,
forçando o silêncio dos tornos.
III
Preparar a pólvora
e o sonho,
inventar o fogo
na casa da escuridão
e ensinar às nossas bocas
reunidas
uma canção de Libertar.
– Pedro Tierra, em “A palavra contra o mundo” | ‘Zeit der Widrigkeiten’. Antologia. [tradução Curt Meyer-Clason]. Edição bilíngue. São Paulo: Editora Geração, 2013.
§
Do livro ‘Água de rebelião’
Viola
Viola de todo silêncio,
que canto aprisionas
nas cordas do mastro?
Que mares libertas?
Que sal de cantigas
semeias, subterrânea?
Corda de viola:
cano possível,
silenciado.
Vela, veleiro, viola,
mastro, velame,
braço aberto
em metal vermelho,
intenso metal
desesperado.
Viola-veleiro,
nave noturna,
ave sem verso,
o vento de mãos humanas
arranque das cordas
um canto de facas feridas.
– Pedro Tierra (PPSP, dez. 1975). no livro “Água de rebelião”. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 1983.
§
Do livro ‘Poemas do povo da noite‘**
Poema – Prólogo
Fui assassinado.
Morri cem vezes
e cem vezes renasci
sob os golpes do açoite.
Meus olhos em sangue
testemunharam
a dança dos algozes
em torno do meu cadáver.
Tornei-me mineral
memória da dor.
Para sobreviver,
recolhi das chagas do corpo
a lua vermelha de minha crença,
no meu sangue amanhecendo.
Em cinco séculos
reconstruí minha esperança.
A faca do verso feriu-me a boca
e com ela entreguei-me à tarefa de renascer.
Fui poeta
do povo da noite
como um grito de metal fundido.
Fui poeta
como uma arma
para sobreviver
e sobrevivi.
Companheira,
se alguém perguntar por mim:
sou o poeta que busca
converter a noite em semente,
o poeta que se alimenta
do teu amor de vigília
e silêncio
e bebeu no próprio sangue
o ódio dos opressores.
Porque sou o poeta
dos mortos assassinados,
dos eletrocutados, dos “suicidas”,
dos “enforcados” e “atropelados”,
dos que “tentaram fugir”,
dos enlouquecidos.
Sou o poeta
dos torturados,
dos “desaparecidos”,
dos atirados ao mar,
sou os olhos atentos
sobre o crime.
Companheira,
virão perguntar por mim.
Recorda o primeiro poema
que lhe deixei entre os dedos
e dize a eles
como quem acende fogueiras
num país ainda em sombras:
meu ofício sobre a terra
é ressuscitar os mortos
e apontar a cara dos assassinos.
Porque a noite não anoitece sozinha.
Há mãos armadas de açoite
retalhando em pedaços
o fogo do sol
e o corpo dos lutadores.
– Pedro Tierra, no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Sobreviveremos
Perdemos a noção do tempo.
A luz nos vem da última lâmpada,
coada pela multidão de sombras.
A própria voz dos companheiros tarda,
como se viesse de muito longe,
como se a sombra roubasse o corte.
Nessa noite parada sobrevivemos.
Ficou-nos a palavra, embora reprimida.
Mas o murmúrio denuncia que a vitória
não foi completa. Dobra o silêncio
e envia o abraço de alguém
cujo rosto nunca vimos e, todavia, amamos.
Nessa noite parada sobrevivemos.
Sobreviveremos.
Ficou-nos a crença, de resto, inextinguível,
na manhã proibida.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Tecendo o canto
“… Hemos sembrado la tierra con muertos que sin duda florecerán…”
Alberto Szpunberg
Recolho no ar teu verso claro
à maneira dos cantadores
do meu país.
Hoje, silenciosa, a terra trabalha
seus mortos como quem nutre
sementes de luz.
Possa algum perseguido,
encerrado nos calabouços
da América
alcançar meu verso humilde
e comporemos o vasto coro
dos oprimidos.
Não importa que hoje nos tremam os lábios
e a voz caminhe incerta
pela garganta,
se amanhã o canto
romperá na boca
de milhões.
Recolho entre as mãos teu verso
como o fuzil do companheiro
tombado.
Não importa que o corpo
de cada morto plantado
tarde a florescer.
– Pedro Tierra (22/23 de outubro de 1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
A palavra sepultada
Hoje eu queria dizer-lhe muitas coisas,
de resto, ninguém mais poderia ouvir-me.
Seu coração receba o vento de minha dor.
A porta do calabouço cerrou os dentes
sobre meus ossos.
A morte visita minha boca
num murmúrio sepultado e inútil.
Sinto enorme o peso das palavras.
É quando a mudez se tornou vício.
É quando o muro não cercou o corpo apenas
e há coisas necessitando explodir.
É quando a palavra dita não vem do cerne
e se perde na cinza.
Eu queria dizer-lhe muitas coisas,
Não há como fazê-lo.
Na cela ao lado, um companheiro morto.
Algo a dizer sobre isso?
O que pode o grito se não se perpetua?
As palavras estão gastas, mortas por dentro.
Meu corpo será meu grito,
embora hoje permaneça mudo
e sem esperança de compor um canto urgente.
Hoje eu queria dizer-lhe muitas coisas…
– Pedro Tierra (1973-1975), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Companheira
Senti teus olhos na sombra
como diamantes mudos,
teus olhos aprisionados
como passarinhos.
Guardei no peito teus olhos
de madrugada rebelde,
rompendo a noite
dos corredores.
Tomei na sombra tuas mãos feridas
como terra semeada
e aprendi o ódio dos escravos
no instante que precede a revolta.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Perguntaram-me muitas coisas…
Perguntaram-me muitas coisas
mas eu estive calado, porque
é inútil falar aos inimigos
quando os inimigos são fortes.
Porque é inútil repetir
ao assassino de meu irmão
as cores da manhã
reconstruída sobre sua morte.
Eu lhes narrei apenas, nos intervalos da dor,
as promessas de incêndio,
o povo na casa dos opressores,
o muro dos justiçados.
Perguntaram-me muitas coisas
mas eu estive calado, porque
é inútil falar aos inimigos
quando os inimigos são fortes.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
As mãos limpas
Ao companheiro Alexandre Vannucchi Leme,
Assassinado em 17 de março de 1973
Sobre a mesa as mãos de um homem:
Brancas, limpas, tranqüilas.
Mãos de um habitante das cidades.
Por si mesmas não dizem nada.
Acariciam os cabelos dos filhos,
o rosto da mulher, compram os jornais,
dirigem o automóvel,
estarão suadas ao meio-dia.
Esses, afinal, são gestos universais.
Contudo, neste fim de tarde, eu as vejo
Exaustas, vazias, manchadas de sangue.
O corpo de Alexandre repousa sem algemas,
(é pouco mais que um adolescente)
Da boca obstinada não fugiu palavra
e, na morte, seu rosto resplandece.
Daquelas mãos não se dirá:
“Estão marcadas com o sangue dos inocentes”.
Ei-las: lavadas, neutras, polidas cuidadosamente,
prontas a repetir gestos universais.
Acariciar os cabelos do filho,
o rosto da mulher,
passear pela cidade, insuspeitadas.
Ir ao cinema. Levar o cigarro à boca.
Confundir-se entre mãos comuns
dos homens comuns, dessa cidade comum.
– Pedro Tierra (1973), no livro “Poemas do povo da noite”. São Paulo: Livramento, 1979.
§
O capuz
Cá está o capuz sobre a grade.
Traz consigo uma segura
promessa de dor. Na boca
do sentinela um meio riso.
Cá está uma parcela da noite
cobrindo meu rosto.
A mão de meu inimigo
determina o caminho.
Pelos corredores aprendi
o jeito inseguro dos cegos.
As mãos tateando a parede.
Sob os pés a escada imprevista,
o degrau a mais, a queda,
o riso dos soldados,
o gesto perdido buscando
uma porta que não houve.
O passar dos dias
e as cicatrizes no corpo
ensinaram-me esse caminho.
Nos dedos guardei as arestas,
o ferro das portas,
o fio dos dínamos.
No dorso a marca
desses dias de sombra.
O capuz repete a dor
no corpo de cada combatente,
uma dor mercenária
recrutada a serviço da noite.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
As mãos atadas
No hora do grito
é difícil perceber algo
no rosto dos perseguidos.
Alguns ganham a cor dos homens aflitos,
Outros, um cansaço de mil anos, ou ainda,
a maneira triste dos homens capazes de morte.
Taciturnos depois da noite de suplício.
Era voz de mulher
mas nenhum de nós lhe viu o rosto.
Não é preciso dizer nada
e guardo meus pensamentos:
(contra os golpes do carrasco
restou apenas
a força de minha crença.
Essa foi minha arma,
essa terá sido a sua.
Será a do último
torturado desta guerra.)
……………………………….
Se algum dia tiveres
de enfrentar essa batalha
não contes com a morte rápida.
Não te espantes de estar vivo
depois do primeiro dia.
Foi apenas o primeiro dia.
Sobretudo não contes
com o gesto humano,
nas mãos de teu carrasco.
Não procures aqui
um gesto que se perdeu
na rua dos oprimidos.
Entre as mãos caladas do torneiro
regressando ao subúrbio,
talvez encontres um gesto humano.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Aspiração
Hoje eu quero
um poema transparente,
semelhante à lágrima
que iludiu meus olhos desatentos.
Um poema capaz de coragem,
desses que podem ser ouvidos
na chuva, na greve, ao fim
da batalha perdida.
Um poema capaz de resistir
como granito ao vento,
como o homem resiste
se o aço lhe alcança o ombro.
Um poema capaz de liberdade.
Capaz de falar nesta hora noturna
quando todos dormem, e o silêncio oficial
amordaçou as cantigas do meu povo.
– Pedro Tierra (1973), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Os materiais
Eu quis a palavra reta
feito faca.
Eu fiz do verso o corte branco
do metal.
O lento sal dos anos
não lhe roube o fio.
O inimigo não possa
empunhá-lo durante a luta.
Se o carrasco, algum dia,
levar aos lábios meu poema,
o vidro claro do verso
lhe corte a boca.
E a palavra não se renda
à tortura.
E quando eu disser: pedra,
não se entenda pão.
Quando eu disser: noite,
se encontre nela todo poder de treva.
Quando eu disser: eis o inimigo,
mate-o antes do amanhecer.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
E me interrogo…
Chego ao final do poema
e me pergunto
estará aí o material proposto?
Reconheço, o suor do corpo
talvez tenha roído
o fio do material.
Terei garantido o corte do verso?
Ou se perdeu a palavra
numa rede de lamentos?
Teus versos têm a mesma roupagem,
dirão. Certamente, responderei,
como os soldados em marcha.
Possa meu poema acender em cada um
alguma coisa além das fogueiras
que iluminam a frente de batalha…
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
§
Campo de flores*
Prossigo,
ainda que a presença do inimigo
a vigiar meus sapatos molhados,
na rua sem trânsito, me devolva
a impressão de ter regressado
aos primeiros dias de treva.
Prossigo,
apesar do pranto.
Apesar do medo e da sombra do inimigo
na soleira da porta.
Prossigo,
ainda que o rosto da menina morta
tinja de sangue o branco da camisa
e me falte amor na caminhada.
Prossigo,
embora hoje eu não encontre
um campo de flores
onde repousar o corpo da minha amada.
Prossigo,
apesar do ódio, da lama,
embora a presença do inimigo
me devolva
a impressão de ter regressado
aos primeiros dias de treva.
– Pedro Tierra (1974), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
* Este poema é dedicado à companheira Ana Maria Nacionovic, assassinada em junho de 1972.
§
O sangue do rio
Vesti a água de escura de meu povo.
Comi a lama negra dos esgotos.
Fui leito de suicidas
e assassinados.
Fui Rio da Guarda: cemitério de mendigos.
Recebi no corpo o vômito das indústrias,
os andrajos da vida,
bagaço de esperanças acorrentadas
Ao ritmo seco das máquinas.
Tornado lama, abri meu caminho
nos olhos de uma cidade amarga.
Transitei pelo avesso dos jardins,
o avesso da paisagem publicada.
Leito de assassinados,
levo meus passos agora
ao dia de me encontrar,
como o rio que conduz
muitos outros no meu corpo
pra hora certa com o mar.
– Pedro Tierra (1975), no livro “Poemas do povo da noite”. 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
[**Poemas do povo da noite]. Os poemas de Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) foram escritos em centros de detenção e tortura (DOI-CODI e DOPS) e nos presídios que receberam prisioneiros políticos (Tiradentes, Carandiru, Barro Branco) nos piores anos e correram o país e outros países. Eram lidos e declamados em reuniões e atos dos movimentos pela Anistia e pela democracia.
§
A pedagogia dos aços*
Candelária,
Carandiru,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás…
Há cem anos
Canudos,
Contestado,
Caldeirão…
A pedagogia dos aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia…
Há uma nação de homens
excluídos da nação.
Há uma nação de homens
excluídos da vida.
Há uma nação de homens
calados,
excluídos de toda palavra.
Há uma nação de homens
combatendo depois das cercas.
Há uma nação de homens
sem rosto,
soterrado na lama,
sem nome,
soterrado pelo silêncio.
Eles rondam o arame
das cercas
alumiados pela fogueira
dos acampamentos.
Eles rondam o muro das leis
e ataram no peito
uma bomba que pulsa:
o sonho da terra livre.
O sonho vale uma vida?
Não sei. Mas aprendi
da escassa vida que gastei:
a morte não sonha.
A vida vale um sonho?
A vida vale tão pouco
do lado de fora da cerca…
A terra vale um sonho?
A terra vale infinitas
reservas de crueldade,
do lado de dentro da cerca.
Hoje, o silêncio pesa
como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria.
Candelária,
Carandiru,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás não cabem
na frágil vazilha das palavras…
Se calarmos,
as pedras gritarão…
– Pedro Tierra, em “Portal Vermelho”, 17 de abril de 2007.
* Poema escrito para denunciar o massacre dos trabalhadores sem terra em Eldorado dos Carajás, em 1996.
§
BIOGRAFIA DE PEDRO TIERRA
Pedro Tierra pseudônimo de Hamilton Pereira de Silva, nasceu em Porto Nacional (TO), em 1948. É militante político e social e dessa militância extrai a matéria-prima de sua poesia. Lutou contra a ditadura brasileira, (1964/1985) viveu clandestinamente e foi preso.
Cumpriu cinco anos de prisão e escreveu no cárcere seu primeiro livro, Poemas do Povo da Noite, que foi publicado primeiro na Itália (1977), depois na Espanha (1978) e somente em 1979, no Brasil. Também em 1979, compõe a Missa da Terra Sem Males, em parceria com Dom Pedro Casaldaliga e Martin Coplas. Da parceria com Dom Pedro surge também, em 1981, a Missa dos Quilombos, que foi musicada por Milton Nascimento e celebrada, pela primeira vez, no Largo do Carmo, em Recife.
Em 1983 publica Água de Rebelião, pela Editora Vozes. Em 1986, Inventar o Fogo e em 1990 publica uma antologia em alemão, Zeit der Widrigkeinten, da Editora DIÁ, que foi apresentada na Feira de Frankfurt em 1994, quando o Brasil foi o país homenageado pela primeira vez. Esse livro foi reeditado agora, em 2013, com o título A Palavra Contra o Muro, pela Geração Editorial, e lançado na feira de Frankfurt, que novamente homenageou o Brasil.
Ao sair da cadeia, Pedro Tierra se dedicou às causas sociais. Trabalhou no Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e na Comissão Pastoral da Terra (CPT), ambas as instituições vinculadas à CNBB. Ajudou a fundar sindicatos de trabalhadores rurais no interior do Brasil, na construção do Partido dos Trabalhadores, da Central Única dos Trabalhadores e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Fruto dessa militância nasce o livro Dies Irae, com poemas que denunciam a violência e a exploração dos trabalhadores no campo.
Pedro Tierra também tem obras dedicadas ao público infantil: Passarinhar (1992) e Bernardo Sayão e os Caminhos das Onças (1997) retratam importantes momentos da história brasileira de maneira lúdica, mas sem deixar de mencionar as mazelas e contradições neles existentes.
Prêmios e condecorações
Ao longo de sua trajetória, Pedro Tierra acumulou reconhecimentos e prêmios. Em 1978 recebeu menção honrosa de prêmio Casa de las Américas. Em 2001, o Prêmio Alceu Amoroso Lima Poesia e Liberdade, da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro. Em 2012, foi agraciado com o mérito da Ordem Pública e Social do Distrito Federal e Ordem do Mérito Legislativo, Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Recebeu em 2013 o título de Doutor honoris causa da Universidade Católica de Brasília.
Em 2014, recebeu um novo título de doutor honoris causa. Dessa vez da Universidade Federal do Tocantins, UFT.
Fonte: FPA
OBRA DE PEDRO TIERRA
Poesia
:: Poemas do povo da noite. São Paulo: Livramento, 1979; 2ª ed., São Paulo: Editora Perseu Abramo; Publisher Brasil, 2009.
:: Água de rebelião. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 1983.
:: Inventar o fogo. Goiânia/GO:, 1986.
:: Zeit der Widrigkeiten (antologia em alemão).. [tradução Curt Meyer-Clason]. Berlin: Editora Diá, 1990.
:: Ameríndia morte e vida. de Pedro Tierra e Pedro Casaldáliga. [prefácio de Frei Beto]. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2000.
:: O Porto submerso. Brasília: Edição do Autor, 2005.
:: A palavra contra o mundo | Zeit der Widrigkeiten. [tradução Curt Meyer-Clason]. Edição bilíngue. São Paulo: Editora Geração, 2013.
:: A estrela imperfeita. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2014.
Memórias
:: Dies Irae. [prefácio Pedro Casaldáliga; ilustrações Otávio Roth]. Goiânia/GO: Edição do Autor,1999.
Infanto-juvenil
:: Passarinhar. Editora Oficina de Comunicação, 1993.
:: Bernardo Sayão e o caminho das onças. 1997.
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