Ele entrara na vida daquelas pessoas como a mais bela paisagem, pela força de sua beleza, atravessando uma retina estática. Sua poesia mudou o curso cambaleante e desnorteado dos personagens daquela cidade do interior. Padeiros, médicos, professores, mendigos, idosos, crianças, homens e mulheres, sentiram-se invadidos por um sentimento novo advindo dos versos daquele poeta.
Naquela segunda-feira alva, o olhar mais atento atraía para si as paisagens interiores dos homens e das coisas. Tudo era movimento e transformação: o mundo dentro do mundo e fora das pessoas; o mundo fora do mundo pulsando no interior de cada um.
Na praça da pequena cidade onde o poeta declamava suas poesias vibravam sons que o ouvido humano teimava em não ouvir. Movimentos e gestos despercebidos diante da humana visão egocêntrica. O tempo e o espaço sem sentido e inatingíveis para aquelas consciências amortecidas pelos excessos. O fato é que as preocupações e os compromissos cotidianos lançaram um véu espesso sobre o olhar daquele povo, encobrindo sua percepção e anestesiando a sensibilidade.
Meio da tarde, o sol entre o meio-dia e o ocaso, eis que a voz do poeta desperta da rotineira monotonia aquelas pessoas. Por um instante os passos apressados que enxergavam o mundo de forma rasteira retiveram seu movimento. Os olhares acostumados às mesmas paisagens horizontais perceberam algo diferente. Mais que a meta a ser atingida num ponto fixo à frente, havia agora a descoberta da beleza vertical. Ao contemplarem de baixo à cima a imagem daquele poeta no meio da praça perceberam, enfim, que havia um chão e um céu, e que a poesia era um caminho ascendente rumo às alturas.
O poeta falou sobre o alimento feito em versos e o padeiro enfim descobriu um caminho inverso que, mais do que pão, ele amassava e modelava como poesia viva.
Declamou para ouvidos atentos que viver é dar de si para todos e absorver de todos um pouco de si mesmo, num ciclo constante de descobertas. Um médico, emocionado, confessou aos que estavam à sua volta que enfim entendera o significado da palavra “cura”.
Disse o poeta que o conhecimento reside na consciência de cada um, e que bastaria aos homens unirem-se numa força vital de pensamento para a vida se modificar. Os professores e os alunos então perceberam o quanto poderiam aprender uns com os outros, e descobriram que são fontes de sabedoria numa aprendizagem mútua. O mendigo ali deitado parecia absorver cada palavra, cada poesia, e se sentia saciado como se cada verso fosse alimento puro.
O Poente na crista das montanhas anunciava o fim daquela tarde. O poeta, certo de que havia jogado luz sobre a escuridão, deixou a praça e caminhou até sumir no final daquela rua extensa em meio à penumbra que anunciava a noite. Todos, aos poucos, deixaram a praça com uma expressão iluminada. Somente eu permaneci no meu lugar como em êxtase, sentindo-me, na alma, poeta de mim mesmo e do mundo.
Enedino Gomes Vasco – Anchieta-ES
Áurea Martins - iniciou sua carreira na Rádio Nacional. Gravou seu primeiro disco como prêmio…
“Festival 38 em Nós” terá show a céu aberto no dia 22, quarta-feira, e mostra…
Chegando em 2025 aos 50 anos de sua fundação, o Grupo Corpo celebra a trajetória…
Os ensaios abertos do Bloco da Orquestra Voadora já viraram referência na programação cultural do…
Esse final de semana será de grandes apresentações no Soberano Jazz Club, com destaque para…
Danças de Presente, três improvisações breves de Marcus Moreno, dedicadas a Mariana Muniz, Alex Ratton…