– Drª Simone Carvalho*
Florence Nightingale, uma mulher extraordinária, considerada a precursora da enfermaria moderna afirmou: “O ruído desnecessário é a falta de atenção mais cruel que se pode infligir a uma pessoa, que esteja saudável ou doente.” Quase dois séculos mais tarde, a ciência confirmou que nosso cérebro necessita do silêncio quase tanto quanto nossos pulmões do oxigênio.
Até pouco tempo atrás se pensava que os neurônios não podiam se regenerar, e que nosso cérebro estava condenado a um declive progressivo e inexorável. Porém, com os estudos em neurogênese, tudo mudou. Agora a neurociência se dedica a estudar o que pode promover a regeneração neuronal.
Nesse sentido, um grupo de pesquisadores alemães do Research Center for Regeneratives Therapies Dresden descobriram que o silêncio tem um impacto enorme no cérebro. Eles comprovaram que no cérebro dos ratos que ficavam em silêncio durante duas horas por dia cresciam novas células no hipocampo, a região do cérebro correlacionada com a memória, emoções e aprendizagem.
Além disso, constataram que estas novas células eram capazes de se diferenciarem e se integrar no sistema nervoso centrar para cumprirem diferentes funções. Portanto, reservar alguns minutos ao dia para estar em total silêncio poderia ser muito benéfico para nosso cérebro, ajudando-nos a conservar a memória e a sermos mais flexíveis frente às mudanças.
Nosso cérebro tem uma “rede padrão” que se ativa quando estamos descansando. Esta rede se encarrega de avaliar as situações e informações às quais nos temos exposto ao longo do dia e as integra em nossa memória, ou as descarta se forem irrelevantes.
Basicamente esta rede funciona recrutando uma série de regiões do cérebro, que são as encarregadas de seguir trabalhando abaixo do nível de consciência. Também é a principal responsável por lampejos de genialidade, já que se encarrega de ir atando cabos e de buscar soluções para os problemas.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Harvard descobriram que esta rede se ativa de forma especial quando refletimos sobre nós mesmos, o que seria essencial para reafirmar nossa identidade. Também observaram que esta rede padrão se ativa quando estamos em silêncio e com os olhos fechados, já que qualquer estímulo do meio que nos distraia a “desligaria”.
As ondas de som provocam vibrações nos pequenos ossos do ouvido, os quais transmitem o movimento à cóclea, onde essas vibrações se convertem em sinais elétricos que chegam até o cérebro. O problema é que nosso corpo está programado para reagir a estes sinais sonoros de maneira imediata, inclusive no meio de um sono profundo. Por isso, o ruído provoca uma ativação da amídala cerebral, a qual responde estimulando uma produção de hormônios do estado de alerta como a adrenalina e o cortisol, que incrementam o nosso nível de estresse.
Por isso, não é estranho que um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cornell tenha descoberto que as crianças que vivem em áreas próximas aos aeroportos, onde há muito ruído, são mais vulneráveis ao estresse. De fato, estas crianças tinham uma pressão arterial mais alta e níveis mais elevados de cortisol.
Afortunadamente, o silêncio exerce o efeito oposto em nosso cérebro. Enquanto o ruído causa tensão e estresse, o silêncio tem um efeito curador e relaxante. Assim, o comprovaram os pesquisadores da Universidade de Pavia, que descobriram que:
Apenas 2 minutos em silêncio absoluto são mais benéficos que escutar músicas relaxantes e provocam uma maior diminuição da pressão sanguínea.
Talvez você já tenha ouvido falar em meditação e nos benefícios que ela proporciona. Meditar pode ser simplesmente permanecer em silêncio e com os olhos fechados, concentrando-se em sua respiração por algum tempo. Dados os benefícios, considerando que a ansiedade/estresse são o mal do século, vale a tentativa. Desfrute do silêncio. Seu cérebro, seu corpo e sua mente, te agradecem.
“A areia do deserto é para o viajante cansado a mesma coisa que a conversa incessante para o amante do silêncio.”
– Provérbio persa
* Texto Drª Simone Carvalho – Fisioterapeuta, originalmente publicado em Physioquantum.
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