SOCIEDADE

Quatro Nobres Verdades: o Budismo te ensina o que é e como usá-las

Sidarta Gautama, o Buda histórico, viveu há 2500 anos. Nasceu por volta de 563 a.C e morreu em 483 a.C. Poucos fatos da sua vida são conhecidos com certeza, e esses fatos foram embelezados com lendas e mitos milagrosos, como aconteceu outros heróis culturais – que simbolizam as aspirações de um povo.

O Ensinamento do Buddha é baseado nas Quatro Nobres Verdades. Compreender essas Verdades é compreender e penetrar na verdadeira natureza da existência, incluindo o total conhecimento de si mesmo. Quando reconhecemos todos os fenômenos como sendo transitórios, sujeitos ao sofrimento e desprovidos de qualquer realidade essencial, ficaremos convencidos de que a verdadeira e duradoura felicidade não pode ser encontrada nas possessões materiais e aquisições mundanas, que a verdadeira felicidade deve ser buscada apenas através da pureza mental e do cultivo da sabedoria.

Por que estamos aqui? Por que não somos felizes com nossas vidas? Qual é a causa de nossa insatisfação? Como podemos ver o fim da insatisfação e experienciar a paz eterna?

As Quatro Nobres Verdades*

Ao ilu­mi­nar-se, o Buda Shakyamuni viu que o uni­ver­so dos fenô­me­nos fun­cio­na de acordo com a ver­da­de da Gêne­se Con­di­cio­na­da. Quando deci­diu ensi­nar o que tinha vis­to, o Buda per­ce­beu que a Gênese Condicionada seria de difí­cil com­preen­são e pode­ria até gerar medo se fosse expli­ca­da de pron­to. Por isso, em vez de começar pela Gênese Condicionada, o Buda ensinou primei­ro as Quatro Nobres Verdades. O primeiro perío­do dos ensi­na­men­tos do Buda é cha­ma­do “Primeiro Giro da Roda do Darma”.

As Quatro Nobres Verdades não dife­rem da ver­da­de da Gênese Condicionada e, por certo, não a con­tra­di­zem. Elas sim­ples­men­te diri­gem o foco da Gênese Condicionada para a vida huma­na, fazen­do com que esta pare­ça mais rele­van­te para as pes­soas e fique mais fácil de enten­der.

As Quatro Nobres Verdades são:

  1. ver­da­de do sofri­men­to;
  2. ver­da­de da ori­gem do sofri­men­to;
  3. ver­da­de da ces­sa­ção do sofri­men­to;
  4. ver­da­de do cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofri­men­to.

A pala­vra “sofri­men­to” nesse con­tex­to é a tra­du­ção con­sa­gra­da do sânscri­to dukkha, cujo significado mais aproxi­mado seria o de “insa­tis­fa­ção”.

Significado Profundo das Quatro Nobres Verdades

O uso da pala­vra “ver­da­de” nas “Quatro Nobres Verdades” é expli­ca­da da seguin­te manei­ra no Shastra Yogachara-bhumi (Tratado sobre os Estágios da Prática da Ioga): “Da ver­da­de do sofri­men­to à ver­da­de do cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofrimen­to, não há nada que seja falso ou enga­no­so e, por­tan­to, tudo isso é con­si­de­ra­do ‘verdadeiro’”.

O mesmo livro expli­ca a pala­vra “nobre”, nas “Quatro Nobres Verdades” deste modo: “Somente os nobres con­s­guem com­preen­der essas ver­da­des e con­tem­plá-las. Os ignoran­tes não conseguem com­preen­dê-las ou contemplá-las. Portanto, essas ver­da­des são cha­ma­das ‘Nobres’ Verdades”.

O Comentário sobre o Tratado da Visão do Meio diz: “As Quatro Nobres Verdades são o ponto de passagem entre a ilu­são e a ilu­mi­na­ção. Quan­do elas não são com­preen­di­das, persis­te o apego aos Seis Reinos. Se com­preen­di­das, alcan­ça-se a san­ti­da­de”.

De acor­do com o Sutra dos Ensinamentos Legados pelo Buda: “A Lua pode se aque­cer e o Sol ­esfriar, mas as Quatro Nobres Verdades nunca mudarão”.

As Quatro Nobres Verdades estão no cerne da vida.

Explicam todos os esta­dos de consciên­cia exis­ten­tes no uni­ver­so e ensi­nam como se libe­tar de todas as for­mas de ilusão.

É neces­sá­rio sabe­do­ria para com­preen­der as Quatro Nobres Verdades. A pri­mei­ra verdade diz que a vida é cheia de sofri­men­to. A segun­da, que o sofri­men­to é cau­sa­do por nosso apego à ilu­são. A ter­cei­ra ver­da­de diz que a ilu­mi­na­ção, ou a total liber­ta­ção do sofrimento, é pos­sí­vel. A últi­ma diz como alcan­çar a ilu­mi­na­ção.

As duas pri­mei­ras Nobres Verdades têm rela­ção de causa e efei­to entre si. A primei­ra é o efei­to; a segun­da é a causa. Igual rela­ção exis­te entre a tercei­ra e a quar­ta, sendo a ter­cei­ra o efei­to cau­sa­do pela quar­ta.

À pri­mei­ra vista, cabe per­gun­tar por que o Buda colo­cou as Quatro Nobres Verdades nessa ordem. Não pare­ce­ria mais lógi­co que a segun­da e a quar­ta ver­da­des, ambas cau­sas, vies­sem antes da pri­mei­ra e da ter­cei­ra, que são os efei­tos? Ainda que em ordem dife­ren­te, as Quatro Nobres Verdades con­ti­nua­riam sendo com­preen­sí­veis. Contudo, a sequên­cia esco­lhi­da pelo Buda per­mi­te que as ver­da­des sejam ensi­na­das da forma mais efi­caz possível.

Para a maio­ria das pes­soas, é mais fácil enten­der pri­mei­ro o efei­to, –depois sua causa. Por isso, o Buda apre­sen­tou pri­mei­ro a ver­da­de do sofrimento e ­depois expli­cou a causa do sofri­men­to. Assim que se compreendem as duas pri­mei­ras Nobres Verdades, é natu­ral que­rer se liber­tar delas. Para aju­dar-nos a enten­der como alcan­çar essa liber­ta­ção, o Buda ensinou a Terceira Nobre Verdade, que é a ces­sa­ção do sofri­men­to, e por fim a Quarta Nobre Verdade, que é o cami­nho para a ces­sa­ção do sofri­men­to.

O Buda come­çou por des­cre­ver o pro­ble­ma, ­depois expli­cou sua causa. Em seguida, contou a solu­ção do pro­ble­ma e ensi­nou como che­gar à solu­ção. Um ele­men­to fundamental dos ensi­na­men­tos do Buda é a imen­sa com­pai­xão que trans­pa­re­ce na elaboração de expli­ca­ções, fei­tas de modo a serem compreen­di­das por qual­quer pes­soa que real­men­te se empe­nhe. A Gênese Condicionada e as Quatro Nobres Verdades são verda­des muito pro­fun­das. Aquele que as estu­dar lon­ga­men­te vai perceber quão inteligente e quão compassivo foi o Buda, ao con­se­guir expli­cá-las de forma tão clara.

A Primeira Nobre Verdade

A Primeira Nobre Verdade é a ver­da­de do sofri­men­to. O Buda viu com per­fei­ta cla­re­za algo que as pes­soas vis­lum­bram oca­sio­nal­men­te: não é possível ao ser huma­no con­quis­tar total satis­fa­ção neste mundo. O sofri­men­to é des­cri­to de mui­tas for­mas diferentes nos sutras budis­tas. As três fundamentais serão abor­da­das nos pará­gra­fos a seguir, deven­do-se obser­var que as clas­si­fi­ca­ções de sofri­men­to apre­sen­ta­das não são quali­ta­ti­va­men­te diferen­tes, mas ape­nas for­mas dife­ren­tes de abor­dar um mesmo problema.

Os dois sofri­men­tos

Os “dois sofri­men­tos” são o inter­no e o exter­no, sendo esta a classificação mais elementar encon­tra­da nos ­sutras budis­tas. Essa é a manei­ra mais bási­ca de com­preen­der o sofrimento. Sofrimentos inter­nos são aque­les que geral­men­te con­si­de­ra­mos parte de nós, como dor físi­ca, ansie­da­de, medo, ciúme, sus­pei­ta, raiva e assim por dian­te. Sofrimentos exter­nos são aque­les que pare­cem vir de fora, incluin­do vento, chuva, frio, calor, seca, ani­mais selvagens, catás­tro­fes natu­rais, guer­ras, cri­mes e assim por dian­te. Não é possí­vel evi­tar – nenhum dos dois tipos.

Os três sofri­men­tos

Esta é uma clas­si­fi­ca­ção basea­da mais na qua­li­da­de do sofri­men­to do que em sua ori­gem ou tipo. O pri­mei­ro dos três sofri­men­tos é o ine­ren­te, aquele a que esta­mos sujeitos pelo sim­ples fato de estar­mos vivos. O segun­do é o sofri­men­to laten­te, aque­le que está presente mesmo nos momen­tos mais feli­zes: coi­sas se que­bram, pes­soas morrem, tudo enve­lhe­ce e se dete­rio­ra, até os melho­res momen­tos che­gam ao fim. O tercei­ro sofrimento é o ativo, causa­do por estar­mos pre­sos em um mundo de ilu­são constantemente mutável. No mundo da ilusão, temos pouco ou ­nenhum con­trole sobre nossa vida. Sentimos ansiedade, medo e impotência à medida que vemos tudo se transforman­do de um dia para o outro.

Os oito sofrimentos

Os oito sofrimentos descrevem de modo mais detalhado o sofrimento a que estão sujeitos todos os seres sencientes e são classificados com base naquilo que os define. São eles:

Nascimento. Após ­vários meses de perigo dentro do ventre da mãe, finalmente, sentimos a dor e o medo do nascimento. Depois disso, tudo pode acontecer. Somos como prisioneiros do corpo e do mundo onde nascemos.

Envelhecimento. Se formos, suficientemente, afortunados para não sermos mortos na juven­tu­de, tere­mos de enfren­tar o pro­ces­so de envelhecimen­to, ­sofrer a dete­rio­ra­ção do corpo e da mente enquanto assistimos o desa­pa­re­ci­men­to de nos­sos ami­gos, um por um.

Doença. A saúde é um pra­zer por ser tão con­tras­tan­te com a doen­ça. Todos, em algum momen­to, ­sofrem a dor e a humilhação da doença.

Morte. Mesmo que a vida seja con­si­de­ra­da per­fei­ta,a morte é ine­vi­tá­vel.A morte, quando não é repen­ti­na e ater­ra­do­ra, é geral­men­te lenta e dolo­ro­sa. Somos como folhas ao vento. Ninguém sabe o dia de ama­nhã.

Perda de um amor. Às vezes, per­de­mos ­alguém que ama­mos; ­outras vezes, nosso amor não é retri­buí­do. Não exis­te quem não sofra por não poder estar sem­pre com aqueles que ama.

Ser odia­do. Ninguém quer ini­mi­gos; entre­tan­to, é difí­cil evitá-los neste mundo.

Desejo não rea­li­za­do. Nossos anseios e dese­jos deter­mi­nam em gran­de medi­da quem somos. Limitam nossa capa­ci­da­de de enten­der o Darma, além de nos causar infin­dá­veis pro­ble­mas. E, o que é pior, a maio­ria deles – jamais chega a ser satisfeita, causan­do-nos duas vezes mais pro­ble­mas.

Os Cinco Skandhas. Estes são: forma, sen­sa­ção, per­cep­ção, ati­vi­da­de e consciência. Eles cons­ti­tuem os “tijo­los” da exis­tên­cia cons­cien­te e o meio para a manifesta­ção do sofri­men­to. Os Cinco Skandhas são como uma fonte ilimi­ta­da de combus­tí­vel a gerar dor e sofri­men­to, vida após vida.

Causas fun­da­men­tais do sofri­men­to

Nos pará­gra­fos ante­rio­res, mos­tra­mos como os budis­tas veem a vida huma­na atola­da no sofri­men­to. Nos seguin­tes, o tópi­co sofrimento será analisado com mais pro­fun­di­da­de, pelo delineamen­to de algu­mas de suas causas fun­da­men­tais:

O Eu não está em perfeita harmonia com o mundo material. É necessá­rio esfor­ço cons­tan­te para encon­trar­mos con­for­to neste mundo. O clima é sem­pre quen­te ­demais ou frio ­demais, nos­sas pos­ses exi­gem cui­da­do cons­tan­te, nossa casa é muito velha ou muito peque­na, as ruas são muito baru­lhen­tas, os sapa­tos se gas­tam e assim por dian­te. O mundo mate­rial raramen­te se apre­sen­ta da forma como gos­ta­ría­mos que fosse.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com as ­outras pes­soas. Na maio­ria das vezes, não pode­mos estar na com­pa­nhia daque­les com quem gostaría­mos de estar, mas somos obri­ga­dos a supor­tar a presença de pes­soas com as quais temos difi­cul­da­de de relacionamen­to. Não raro somos até mesmo for­ça­dos a conviver com pessoas que aber­ta­men­te não gos­tam de nós.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com o corpo. O corpo nasce, enve­lhe­ce, adoe­ce e morre. O “eu” tem pouco ou ­nenhum con­tro­le sobre esse pro­ces­so.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com a mente. Nossa mente está fre­quen­te­men­te além do nosso con­tro­le, dis­pa­ran­do de uma ideia para outra como um cava­lo sel­va­gem ao vento. A ati­vi­da­de men­tal ilu­di­da é a fonte de todo o nosso sofrimento.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com os seus dese­jos. O “eu” pode com­preen­der que os dese­jos geram carma e sofrimento, mas isso não sig­ni­fi­ca que seja capaz de con­tro­lá-los com faci­li­da­de. O autocon­tro­le é difí­cil jus­ta­men­te por­que o que que­re­mos com mais inten­si­da­de nem sempre é o que sabe­mos ser o ­melhor para nós. Se nem mesmo ten­tar­mos con­tro­lar nossos dese­jos e dei­xar­mos que eles tomem conta de nós, o “eu” sofre­rá ainda mais.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com as suas opi­niões. Basicamente, isso sig­ni­fi­ca que nos­sas opi­niões são erra­das. Quando nos­sas cren­ças não estão ali­nha­das com a ver­da­de, cau­sa­mos a nós pró­prios infindáveis pro­ble­mas, pois teremos a ten­dên­cia de repe­tir os mes­mos erros mui­tas vezes.

O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com a natu­re­za. Chuva, enchentes, secas, tem­pes­ta­des, mare­mo­tos e todas as ­outras for­ças da natureza não estão sob nosso con­tro­le e podem, frequentemente, nos fazer sofrer.

O Buda ensi­nou a ver­da­de do sofri­men­to não para nos fazer deses­pe­rar, mas para nos ajudar a reco­nhe­cer com cla­re­za as rea­li­da­des da vida. Compreendendo o alcan­ce do sofrimen­to e a impos­si­bi­li­da­de de evitá-lo, devemos nos sen­tir ins­pi­ra­dos a supe­rá-lo. Reconhecer a Primeira Nobre Verdade é o pri­mei­ro passo de um pro­ces­so que deve nos levar a que­rer compreen­der a Segunda Nobre Verdade.

A Segunda Nobre Verdade

A Segunda Nobre Verdade é a ver­da­de da ori­gem do sofri­men­to, que está na cobiça, na raiva e na igno­rân­cia. Os seres sen­cien­tes acor­ren­tam-se ao penoso e ilusivo mundo dos fenômenos, por causa de seu forte apego a essas fon­tes de ilusão, tam­bém conheci­das como os Três Venenos.

A Terceira Nobre Verdade

A Terceira Nobre Verdade é a ver­da­de da ces­sa­ção do sofri­men­to. “Cessação do sofrimen­to” é o mesmo que nir­va­na, um esta­do que não pode ser des­cri­to por meio de pala­vras. É algo que está além de cobi­ça, raiva, ignorân­cia e sofri­men­to; além da dualidade e das dis­tin­ções entre certo e errado, você e os ­outros, bem e mal, vida e morte.

A Quarta Nobre Verdade

A Quarta Nobre Verdade é a ver­da­de do cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofrimen­to, aque­le que nos mos­tra como supe­rar as cau­sas do sofri­men­to. É o cami­nho rumo ao nirvana. A forma mais sim­ples de supe­rar as cau­sas do sofri­men­to é ­seguir o Nobre Caminho Óctu­plo, que ana­li­sa­re­mos em deta­lhe em outro Capítulo.

A Importância das Quatro ­Nobres Verdade

As Quatro Nobres Verdades foram os pri­mei­ros e tam­bém os últi­mos ensinamentos do Buda. Ao apro­xi­mar-se do momen­to de sua morte, o Buda disse aos discí­pu­los que, se tives­sem algu­ma dúvi­da quan­to à vali­da­de das Quatro Nobres Verdades, deve­riam se pronun­ciar, pois assim pode­riam obter as res­pos­tas antes que fosse tarde demais. A atenção que o Buda devo­tou às Quatro Nobres Verdades nos 45 anos em que se dedi­cou a ensi­nar assi­na­la a impor­tân­cia que atri­buía a elas.

Para faci­li­tar a plena com­preen­são da men­sa­gem do Buda, seus anos de ensi­no são geralmen­te clas­si­fi­ca­dos em três perío­dos, tam­bém denominados “Três Giros da Roda” ou “Três Giros da Roda do Darma”. Essa divi­são nos ajuda a compreender os ensinamentos do Buda, por­que nos dá três diferentes ângulos, ou pers­pec­ti­vas, sob os quais ver as mes­mas verdades.

O Giro Expli­ca­ti­vo da Roda do Darma

O pri­mei­ro perío­do do ensi­na­men­to do Buda é cha­ma­do de “Pri­mei­ro giro da Roda do Darma” ou “Giro expli­ca­ti­vo da Roda”. Foi nessa época que o Buda expôs as ver­da­des bási­cas em que se fun­da­men­ta sua ilu­mi­na­ção.

A res­pei­to das Quatro Nobres Verdades, disse ele no Sutra Dharma-chakra (Sutra sobre os Giros da Roda do Darma): “Isto é o sofri­men­to; tem a natu­re­za ‘opres­si­va’. Esta é a causa do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘apego’, ‘aferro’ ou ‘acú­mu­lo’. Isto é a cessa­ção do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘compreen­são’ ou ‘des­per­tar’. Este é o cami­nho para a cessação do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘cultivo’”.

O Giro Per­sua­si­vo da Roda do Darma

O segun­do giro da Roda do Darma é tam­bém conhe­ci­do como “Giro persua­si­vo da Roda” por­que se refe­re ao perío­do em que o Budacon­ven­ceu seus dis­cí­pu­los a extinguir o sofrimen­to atra­vés da com­preen­são total das Quatro Nobres Verdades. Nessa época, ele abor­dou essas ver­da­des da seguin­te manei­ra, no Sutra Dharma-chakra (Sutra sobre os Giros da Roda do Darma): “Isto é sofri­men­to, vocês devem com­preen­dê-lo. Esta é a causa do sofri­men­to, vocês devem eli­mi­ná-la. Esta é a ces­sa­ção do sofri­men­to, vocês devem des­per­tar para ela. Este é o cami­nho para a ces­sa­ção do sofri­men­to, vocês devem praticá-lo”.

O Giro Com­pro­va­do da Roda do Darma

O ter­cei­ro giro da Roda do Darma tam­bém é cha­ma­do de “Giro Comprova­do da Roda”, por­que nesse perío­do o Buda se colo­cou como exemplo de alguém que havia alcançado a completa ilu­mi­na­ção, dizendo que, se ele con­se­gui­ra, todos pode­riam con­se­guir também. Nessa época, ele falou da seguin­te forma sobre as Quatro Nobres Verdades, no Sutra Dharma-chakra (Sutra sobre os Giros da Roda do Darma): “Isto é sofri­men­to, eu o conhe­ço. Esta é a causa do sofri­men­to, eu já a eli­mi­nei. Esta é a cessação do sofrimento, já des­per­tei para ela. Este é o cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofri­men­to, já o pra­ti­quei”.

O Buda é algumas vezes cha­ma­do de “O gran­de médi­co”, uma vez que os seus ensinamen­tos podem nos curar do nosso apego doen­tio à ilu­são. A melhor forma de aca­bar com o sofri­men­to é compreen­der bem as Quatro Nobres Verdades, por­que, ­depois disso, será muito mais fácil entender os outros ensi­na­men­tos do Buda.

A com­preen­são e a prá­ti­ca dos ensi­na­men­tos do Buda levam infalivelmen­te à liberta­ção da dor e do sofri­men­to. O Buda é o médi­co e tem o remé­dio; só pre­ci­sa­mos tomá-lo. As Quatro Nobres Verdades do Buda constituem a cura para o sofri­men­to humano.

O gran­de bodisatva Manjushri (…) disse à assembleia de bodisatvas:

“Discípulos do Buda deste mundo Saha, a Nobre Verdade do Sofrimento tem vários sig­ni­fi­ca­dos, como retri­bui­ção, opres­são, mudan­ça cons­tan­te, apego às condições, agru­pa­men­to de con­di­ções, dor dilaceran­te, dependência dos sentidos, loucu­ra, doen­ça e estu­pi­dez.

Discípulos do Buda deste mundo Saha, a Nobre Verdade da Origem do Sofrimento tem mui­tos sig­ni­fi­ca­dos, como apego, des­trui­ção, amor obs­ti­na­do, pensamen­to ilu­di­do, sedu­ção do dese­jo, deter­mi­na­ção errô­nea, teia de condi­ções, discur­so vazio, pas­si­vi­da­de e afer­ro a fon­tes degra­da­das.

Discípulos do Buda deste mundo Saha, a Nobre Verdade da Cessação do Sofrimento tem ­vários significados, como não argu­men­ta­ção, dei­xar a poeira para trás, paz per­fei­ta, não ter percepção ilusória, estar além da deterioração, não ter natureza de seu próprio ser, não ter obs­tá­cu­los, extinção, saber a ver­da­de e habi­tar na natu­re­za de seu próprio ser.

Discípulos do Buda deste mundo Saha, a Nobre Verdade do Caminho da Cessação do Sofrimento tem muitos significa­dos, como o Veículo Único, dese­jo de tranqui­li­da­de, o guia, ple­ni­tu­de sem dis­tin­ções, equa­ni­mi­da­de, renúncia, não ter ­anseios, ­seguir os pas­sos dos san­tos, o cami­nho dos sábios e os dez tesou­ros.

Discípulos do Buda deste mundo Saha, as Quatro Nobres Verdades têm qua­tro qua­tri­lhões de nomes e signi­fi­ca­dos, que são com­preen­di­dos pelos seres sen­cien­tes conforme as suas ten­dên­cias. Essa plu­ra­li­da­de de significa­dos mos­tra aos seres sencien­tes como con­quis­tar o con­tro­le sobre a mente”.

Sutra Avatamsaka (Sutra da Guirlanda de Flores)

*Venerável Mestre Hsing Yün, ‘Capítulo 2’. do livro “Budismo Significados Profundos”. [tradução…]. 2ª edição revisada e ampliada. São Paulo: Escrituras Editora, 2011.

** Templo Zulai.

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