Eu queria escrever uns versos para Ray Bradbury,
o primeiro que, depois da infância, conseguiu encantar-me
………………..[com suas histórias mágicas
como no tempo em que acreditávamos no Menino Jesus
que vinha deixar presentes de Natal em nossos sapatos
………………..[empoeirados de meninos
e nada tinha a ver com a impenetrável Santíssima Trindade.
Era no tempo das verdadeiras princesas,
nossas belíssimas primeiras namoradas
— não essas que saem periodicamente nos jornais.
Era no tempo dos reis verdadeiramente heráldicos como
………………..[os das cartas de jogar
e do bravo São Jorge, com seu cavalo branco, sua lança e seu
………………..[dragão.
Era no tempo em que o cavaleiro Dom Quixote
realmente lutava com gigantes,
os quais se disfarçavam em moinhos de vento.
Todo esse encantamento de uma idade perdida
Ray Bradbury o transportou para a Idade Estelar
e os nossos antigos balõezinhos de cor
agora são mundos girando no ar.
Depois de tantos anos de cínico materialismo
Ray Bradbury é a nossa segunda vovozinha velha
que nos vai desfiando suas histórias à beira do abismo
— e nos enche de susto, esperança e amor.
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– Mario Quintana, no livro “Esconderijos do tempo”. Alfaguara, 2013
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SOBRE O LIVRO
Esconderijos do tempo ocupa lugar de destaque na obra poética de Mario Quintana. Tudo levava a crer que, após o premiado Apontamentos de história sobrenatural, de 1976, o poeta septuagenário não tinha mais para onde ir, a não ser repetir-se. No entanto, passaram-se apenas quatro anos, e Quintana lançava este que pode ser considerado um dos melhores livros de poesia brasileira do último quarto do século passado. Alguns dos mais belos poemas escritos pelo autor podem ser encontrados neste volume. À época de seu lançamento original, em 1980, o poeta parecia liberar-se definitivamente de todas as amarras, influências, compromissos, entregando-se por inteiro ao triunfo da imaginação como forma de questionar e enriquecer o real. Neste livro, é marcante a total dissociação de Quintana em relação a qualquer influência exercida sobre ele por outros mestres de sua geração modernista. Se nos livros dos anos 70, através da noção de “sobrenatural”, ele fizera questão de contrastar sua poética ao ceticismo materialista de Drummond, aqui o poeta assume de peito aberto sua personalidade singular. Em Mario Quintana, o poeta, não existiu envelhecimento. Esconderijos do tempo é um livro de maturidade plena. Nele estão poemas que tematizam a passagem do tempo e o caráter fugaz dos sentimentos e das sensações, mas sem ceder à nostalgia ou à melancolia. A palavra poética afirma-se aqui como celebração e concretização daquilo que perdura.
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FICHA TÉCNICA
Páginas: 88
Formato: 15.00 X 23.40 cm
Peso: 0.175 kg
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 03/01/2013
ISBN: 978-85-7962-189-5
Selo: Alfaguara
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