“O inferno do mundo excede o Inferno de Dante, no ponto em que cada um é o diabo do seu vizinho; há também um arquidiabo superior a todos os outros, é o conquistador que dispõe milhares de homens em frente uns dos outros e lhes brada: “Sofrer, morrer, é o vosso destino; portanto fuzilem-se, canhoneiem-se mutuamente!” e eles assim procedem.“ – Schopenhauer
DORES DO MUNDO
Só a dor é positiva — Tormentos da existência — O nada preferível à vida — O fim da Filosofia não é consolar — O otimismo insustentável de Leionitz — Pecado original — O mundo, um lugar de penitência.
Se a nossa existência não tem por fim imediato a dor, pode dizer-se que não tem razão alguma de ser no mundo. Porque é absurdo admitir que a dor sem fim, que nasce da miséria inerente à vida e enche o mundo, seja apenas um puro acidente, e não o próprio fim. Cada desgraça particular parece, é certo, uma exceção, mas a desgraça geral é a regra.
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Assim como um regato corre sem ímpetos, enquanto não encontra obstáculos, do mesmo modo na natureza humana, como na natureza animal, a vida corre inconsciente e descuidosa, quando coisa alguma se lhe opõe à vontade. Se a atenção desperta, é porque a vontade não era livre e se produziu algum choque. Tudo o que se ergue em frente da nossa vontade, tudo o que a contraria ou lhe resiste, isto é, tudo que há de desagradável e de doloroso, sentimo-lo ato contínuo e muito nitidamente. Não atentamos na saúde geral do nosso corpo, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos molesta; não apreciamos o conjunto próspero dos nossos negócios, e só pensamos numa ninharia insignificante que nos desgosta. — O bem-estar e a felicidade são portanto negativos, só a dor é positiva.
Não conheço nada mais absurdo que a maior parte dos sistemas metafísicos, que explicam o mal como uma coisa negativa; só ele, pelo contrário, é positivo, visto que se faz sentir… O bem, a felicidade, a satisfação são negativos, porque não fazem senão suprimir um desejo e terminar um desgosto.
Acrescente-se a isto que em geral achamos as alegrias abaixo da nossa expectativa, ao passo que as dores a excedem grandemente.
Se quereis num momento esclarecer-vos a este respeito, e saber se o prazer é superior ao desgosto, ou se apenas se compensam, comparai a impressão do animal que devora outro, com a impressão do que é devorado.
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A mais eficaz consolação em toda a desgraça, em todo o sofrimento, é voltar os olhos para aqueles que são ainda mais desgraçados do que nós: este remédio encontra-se ao alcance de todos.
Mas que resulta daí para o conjunto?
Semelhantes aos carneiros que saltam no prado, enquanto, com o olhar, o carniceiro faz a sua escolha no meio do rebanho, não sabemos, nos nossos dias felizes, que desastre o destino nos prepara precisamente a essa hora — doença, perseguição, ruína, mutilação, cegueira, loucura, etc.
Tudo o que procuramos colher resiste-nos; tudo tem uma vontade hostil que é preciso vencer.
Na vida dos povos, a História só nos aponta guerras e sedições: os anos de paz não passam de curtos intervalos de entreatos, uma vez por acaso. E da mesma maneira a vida do homem é um combate perpétuo, não só contra males abstratos, a miséria ou o aborrecimento, mas também contra os outros homens. Em toda a parte se encontra um adversário: a vida é uma guerra sem tréguas, e morre-se com as armas na mão.
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Ao tormento da existência vem ainda juntar-se a rapidez do tempo, que nos inquieta, que nos não deixa respirar, e se conserva atrás de cada um de nós como um vigia dos forçados de chicote em punho. — Poupa apenas aqueles que entregou ao aborrecimento.
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Portanto, assim como o nosso corpo rebentaria se estivesse sujeito à pressão da atmosfera, do mesmo modo se o peso da miséria, do desgosto, dos reveses e dos vãos esforços fosse banido da vida do homem, o excesso da sua arrogância seria tão desmedido, que o faria em bocados ou pelo menos o conduziria à insânia mais desordenada e até à loucura furiosa. — Em todo o tempo, cada um precisa ter um certo número de cuidados, de dores ou de miséria, do mesmo modo que o navio carece de lastro para se manter em equilíbrio e andar direito.
Trabalho, tormento, desgosto e miséria, tal é sem dúvida durante a vida inteira o quinhão de quase todos os homens. Mas se todos os desejos, apenas formados, fossem imediatamente realizados, com que se preencheria a vida humana, em que se empregaria o tempo? Coloque-se esta raça num país de fadas, onde tudo cresceria espontaneamente, onde as calhandras voariam já assadas ao alcance de todas as bocas, onde todos encontrariam sem dificuldade a sua amada e a obteriam o mais facilmente possível — ver-se-ia então os homens morrerem de tédio, ou enforcarem-se, outros disputarem, matarem-se, e causarem-se mutuamente mais sofrimentos do que a natureza agora lhes impõe. — Assim para semelhante raça nenhum outro teatro, nenhuma outra existência conviriam.
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Na primeira mocidade, somos colocados em face do destino que se vai abrir diante de nós, como as crianças em frente do pano de um teatro, na expectativa alegre e impaciente das coisas que vão passar-se em cena; é uma felicidade não podermos saber nada de antemão. Aos olhos daquele que sabe o que realmente se vai passar, as crianças são inocentes culpados condenados não à morte mas à vida, e que todavia não conhecem ainda o conteúdo da sua sentença. — Nem por isso todos deixam de ter o desejo de chegar a uma idade avançada, isto é, a um estado que se poderia exprimir deste modo: “Hoje é mau, e cada dia o será mais — até que chegue o pior de todos.”
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Quando se representa, tanto quanto é possível fazê-lo de uma maneira aproximada, a soma de miséria, de dor e de sofrimentos de todas as espécies que o Sol ilumina no seu curso, deve-se concordar que valeria muito mais que esse astro tivesse o mesmo poder na Terra para fazer surgir o fenômeno da vida que tem na Lua, e seria preferível que a superfície da Terra como a da Lua se mantivesse ainda no estado de cristal.
Pode ainda considerar-se a nossa vida como um episódio que perturba inutilmente a beatitude e o repouso do nada. Seja como for, aquele para quem a existência é quase suportável, à medida que avança em idade, tem uma consciência cada vez mais clara de que ela é em todas as coisas um disappointment, nay, a cheat, em outros termos que ela possui o caráter de uma grande mistificação, para não dizer de um logro…
Alguém que tenha sobrevivido a duas ou três gerações encontra-se na mesma disposição de espírito que um espectador que, sentado numa barraca de saltimbancos na feira, vê as mesmas farsas repetidas duas ou três vezes sem interrupção: é que as coisas estavam calculadas para uma única representação e já não fazem nenhum efeito, uma vez dissipadas a ilusão e a novidade.
Perder-se-ia a cabeça, se se observasse a prodigalidade das disposições tomadas, essas estrelas fixas que brilham inumeráveis no espaço infinito, e não têm outro fim senão iluminar mundos, teatros da miséria e dos gemidos, mundos que, no mais feliz dos casos, só produzem o tédio: — pelo menos a apreciarmos a amostra que nos é conhecida.
Ninguém é verdadeiramente digno de inveja, e quantos são para lastimar!
A vida é uma tarefa que devemos desempenhar laboriosamente; e neste sentido, a palavra defunctus é uma bela expressão.
Imagine-se por um instante que o ato da geração não era nem uma necessidade nem uma voluptuosidade, mas um caso de pura reflexão e de razão: a espécie humana subsistiria ainda? Não sentiriam todos bastante piedade pela geração futura, para lhe poupar o peso da existência, ou, pelo menos, não hesitariam em impor-lha a sangue-frio?
O mundo é o inferno, e os homens dividem-se em almas atormentadas e em diabos atormentadores.
Certamente ainda terei de ouvir dizer que a minha filosofia carece de consolação — e isso simplesmente porque digo a verdade, enquanto todos gostam de ouvir dizer: o Senhor Deus fez bem tudo quanto fez. Ide à igreja e deixai os filósofos em paz. Pelo menos não exijam que eles ajustem as suas doutrinas ao vosso catecismo: é o que fazem os indigentes e os filosofastros: a esses podem-se encomendar doutrinas ao gosto de cada um. Perturbar o otimismo obrigado dos professores de Filosofia é tão fácil como agradável.
Brama produz o mundo por uma espécie de pecado ou desvario, e permanece ele próprio no mundo para expiar esse pecado até estar redimido. — Muito bem! — No Budismo, o mundo nasce em seguida a uma perturbação inexplicável, que se produz após um longo repouso nessa claridade do céu, nessa beatitude serena, chamada Nirvana, que será reconquistada pela penitência; é como que uma espécie de fatalidade que se deve compreender no fundo de um sentido moral, ainda que essa explicação tenha uma analogia e uma imagem exatamente correspondente na natureza pela formação inexplicável do mundo primitivo, vasta nebulosa donde surgirá um sol. Mas os erros morais tornam mesmo o mundo físico gradualmente pior e sempre pior, até ter tomado a sua triste forma atual. Para os gregos o mundo e os deuses eram a obra de uma necessidade insondável. Esta explicação é suportável, porque nos satisfaz provisoriamente. Ormuzd vive em guerra com Ahriman: — isto ainda se pode admitir. — Mas um Deus como esse Jeová, que animi causa, por seu bel-prazer e muito voluntariamente produz este mundo de miséria e de lamentações, e que ainda se felicita e se aplaude, é que é demasiado forte! Consideremos, portanto, nesse ponto de vista, a religião dos judeus como a última entre as doutrinas religiosas dos povos civilizados; o que concorda perfeitamente com o fato de ser ela também a única que não tem absolutamente nenhum vestígio de imortalidade.
Ainda mesmo que a demonstração de Leibnitz fosse verdadeira, embora se admitisse que entre os mundos possíveis este é sempre o melhor, essa demonstração não daria ainda nenhuma teocidéia.
Porque o criador não só criou o mundo, mas também a própria possibilidade; portanto, devia ter tornado possível um mundo melhor.
A miséria, que alastra por este mundo, protesta demasiado alto contra a hipótese de uma obra perfeita devida a um ser absolutamente sábio, absolutamente bom, e também todo-poderoso; e, de outra parte, a imperfeição evidente e mesmo a burlesca caricatura do mais acabado dos fenômenos da criação, o homem, são de uma evidência demasiado sensível. Há aí uma dissonância que se não pode resolver. As dores e as misérias são, pelo contrário, outras tantas provas em apoio, quando consideramos o mundo como a obra da nossa própria culpa, e portanto como uma coisa que não podia ser melhor. Ao passo que na primeira hipótese, a miséria do mundo se torna uma acusação amarga contra o criador e dá margem aos sarcasmos, no segundo caso aparece como uma acusação contra o nosso ser e a nossa vontade, bem própria para nos humilhar.
Conduz-nos a este profundo pensamento que viemos ao mundo já viciados como os filhos de pais gastos pelos desregramentos, e que se a nossa existência é de tal modo miserável, e tem por desenlace a morte, é porque temos continuamente essa culpa a expiar. De um modo geral não há nada mais certo: é a pesada culpa do mundo que causa os grandes e inúmeros sofrimentos a que somos votados; e entendemos esta relação no sentido metafísico e não no físico e empírico. Assim a história do pecado original reconcilia-me com o antigo testamento; é mesmo a meus olhos a única verdade metafísica do livro, embora aí se apresente sob o véu da alegoria. Porque a nossa existência assemelha-se perfeitamente à conseqüência de uma falta e de um desejo culpado…
Quereis ter sempre ao alcance da mão uma bússola segura a fim de vos orientar na vida e de a encarar incessantemente sob o seu verdadeiro prisma, habituai-vos a considerar este mundo como um lugar de penitência, como uma colônia penitenciária, como lhe chamaram já os mais antigos filósofos (Clem. Alex. Strom. L. III, c. 3, p. 399) e alguns padres da Igreja. (Augustin. De civit. Dei, L. XI, 23.)
A sabedoria de todos os tempos, o Branamismo, o Budismo, Empédocles e Pitágoras confirmaram este modo de ver; Cicero (Fragmenta de philosophia, vol. 12, p. 316, ed. Bip.) conta que os sábios antigos na iniciação dos mistérios ensinavam: nos ob aliqua scelera sucepta in vita superiore, poenarum luendarum causa natos esse. Vanini, que acharam mais cômodo queimar que refutar, exprime essa idéia da maneira mais enérgica, quando diz: Tot, tantisque homo repletus miseriis, ut si Christianæ religioni non repugnaret: dicere auderem, si dcemones dantur, ipsi, in hominum corpora transmigrantes, sceleris pænas luunt. (De admirandis naturse arcanis, dial. L. p. 353.)
Mas, mesmo no puro Cristianismo bem compreendido, a nossa existência é considerada como a conseqüência de uma falta, de uma queda. Se nos familiarizarmos com esta ideia, não esperaremos da vida senão o que ela pode dar e longe de considerarmos as suas contradições, sofrimentos, tormentos, misérias grandes ou pequenas, como uma coisa inesperada, contrária às regras, achá-los-emos perfeitamente naturais, sabendo bem que na Terra cada um sofre a pena da sua existência, e cada um a seu modo. Entre os males de um estabelecimento penitenciário, o menor não é a sociedade que nele se encontra. O que a sociedade dos homens vale, sabem-no aqueles que mereceriam outra melhor, sem que seja necessário que eu o diga. Uma bela alma, um gênio, podem por vezes experimentar aí os sentimentos de um nobre prisioneiro do Estado que se encontra nas galés rodeado de celerados vulgares; e como ele procuram isolar-se. Em geral, porém, esta ideia sobre o mundo torna-nos aptos a ver sem surpresa, e ainda mais, sem indignação, o que se chama as imperfeições, isto é, a miserável constituição intelectual e moral da maior parte dos homens que a sua própria fisionomia nos revela… A convicção de que o mundo e por conseguinte o homem são tais que não deveriam existir, é de molde que nos deve encher de indulgência uns pelos outros; que se pode esperar, de fato, de uma tal espécie de seres? — Penso às vezes que a maneira mais convincente dos homens se cumprimentarem em vez de ser Senhor, Sir etc, poderia ser: “companheiro de sofrimentos, socî malorum, companheiro de misérias, my fellow-sufferer”. Por muito original que isto pareça, a expressão é contudo fundada, lança sobre o próximo a luz mais verdadeira, e lembra a necessidade da tolerância, da paciência, da indulgência, do amor do próximo, sem o que ninguém pode passar, e de que, portanto, todos são devedores.
“Os homens assemelham-se relógios a que se dá corda e trabalham sem saber por que; e sempre que vem um homem a este mundo, o relógio da vida humana recebe corda de novo para repetir mais uma vez o velho e gasto estribilho da eterna caixa de música, frase por frase, compasso por compasso, com variações quase insensíveis.” – Schopenhauer
Desilusões — Vãs promessas de felicidade — Dores sem tréguas e sem descanso, metamorfoses do sofrimento: a miséria e o tédio — A vida é um espetáculo tragicômico, sob o reino do acaso e do erro — O Inferno de Dante e o inferno do mundo — Último alvo e último naufrágio.
Enquanto a primeira metade da vida é apenas uma infatigável aspiração de felicidade, a segunda metade, pelo contrário, é dominada por um sentimento doloroso de receio, porque se acaba por perceber mais ou menos claramente que toda a felicidade não passa de quimera, que só o sofrimento é real. Por isso os espíritos sensatos visam menos aos prazeres do que a uma ausência de desgostos, a um estado de algum modo invulnerável.— Nos meus anos de mocidade, uma campainhada à porta causava-me alegria porque pensava: “Bom! é qualquer coisa que sucede.” Mais tarde, experimentado pela vida, esse mesmo ruído despertava-me um sentimento vizinho do medo; dizia de mim para mim: “Que sucederá?”
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Na velhice as paixões e os desejos extinguem-se uns após outros, à medida que os objetos dessas paixões se tornam indiferentes; a sensibilidade diminui, a força da imaginação torna-se sempre mais fraca, as imagens empalidecem, as impressões já não aderem, passam sem deixar vestígios, os dias decorrem cada vez mais rápidos, os acontecimentos perdem a sua importância, tudo se descolora.
O homem acabrunhado pela idade passeia cambaleando ou repousa a um canto, não sendo mais do que a sombra, o fantasma do seu ser passado. Vem a morte, que lhe resta para destruir? Um dia a sonolência muda-se em último sono e os seus sonhos… já inquietavam Hamlet no célebre monólogo.
Creio que desde esse momento sonhamos.
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Todo o homem que despertou dos primeiros sonhos da mocidade, que tem em consideração a sua própria experiência e a dos outros, que estudou a história do passado e a da sua época, se quaisquer preconceitos demasiado arraigados não lhe perturbam o espírito, acabará por chegar à conclusão de que este mundo dos homens é o reino do acaso e do erro, que o dominam e o governam a seu modo sem piedade alguma, auxiliados pela loucura e pela maldade, que não cessam de brandir o chicote. Por isso o que há de melhor entre os homens só aparece após grandes esforços; qualquer inspiração nobre e sensata dificilmente encontra ocasião de se mostrar, de proceder, de se fazer ouvir, ao passo que o absurdo e a falsidade no domínio das idéias, a banalidade e a vulgaridade nas regiões da arte, a malícia e a velhacaria na vida prática, reinam sem partilha, e quase sem interrupção; não há pensamento, obra excelente que não seja uma exceção, um caso imprevisto, singular, incrível, perfeitamente isolado, como um aerólito produzido por uma ordem de coisas diferente daquela que nos governa. — Com respeito a cada um em particular, a história de uma existência é sempre a história de um sofrimento, porque toda a carreira percorrida é uma série ininterrupta de reveses e de desgraças, que cada um procura ocultar porque sabe que longe de inspirar aos outros simpatia ou piedade, dá-lhes enorme satisfação, de tal modo se comprazem em pensar nos desgostos alheios a que escapam naquele momento; — é raro que um homem no fim da vida, sendo ao mesmo tempo sincero e ponderado, deseje recomeçar o caminho, e não prefira infinitamente o nada absoluto.
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Não há nada fixo na vida fugitiva: nem dor infinita, nem alegria eterna, nem impressão permanente, nem entusiasmo duradouro, nem resolução elevada que possa durar toda a vida! Tudo se dissolve na torrente dos anos. Os minutos, os inumeráveis átomos de pequenas coisas, fragmentos de cada uma das nossas ações, são os vermes roedores que devastam tudo quanto é grande e ousado… Nada se toma a sério na vida humana; o pó não vale esse trabalho.
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Devemos considerar a vida como uma mentira contínua, tanto nas coisas pequenas como nas grandes. Prometeu? não cumpre a promessa, a não ser, para mostrar quanto o desejo era pouco desejável: tão depressa é a esperança que nos ilude, como a coisa com que contávamos. — Se nos deu, foi só para nos tornar a tirar. A magia da distância apresenta-nos paraísos, que desaparecem como visões, logo que nos deixamos seduzir.
A felicidade, portanto, está sempre no futuro ou no passado, e o presente é como uma pequena nuvem sombria que o vento impele sobre a planície cheia de sol; diante dela, atrás dela, tudo é luminoso, só ela projeta sempre uma sombra.
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O homem só vive no presente, que foge irresistivelmente para o passado, e afunda-se na morte: salvo as conseqüências que podem refletir-se no presente, e que são a obra dos seus atos e da sua vontade, a sua vida de ontem acha-se completamente morta, extinta: deveria portanto ser-lhe indiferente à razão que esse passado fosse feito de gozos ou de tristezas. O presente foge-lhe, e transforma-se incessantemente no passado; o futuro é absolutamente incerto e sem duração… E assim como sob o ponto de vista físico o andar não é mais do que uma queda sempre evitada, da mesma maneira a vida do corpo é a morte sempre suspensa, uma morte adiada, e a atividade do nosso espírito um tédio sempre combatido… É preciso enfim que a morte triunfe, pois lhe pertencemos pelo próprio fato do nosso nascimento e ela não faz senão brincar com a presa antes de a devorar. É deste modo que seguimos o curso da nossa existência, com um interesse extraordinário, com mil cuidados, mil precauções, durante todo o tempo possível, como se sopra uma bola de sabão, aplicando-nos a enchê-la o mais que podemos e durante muito tempo, não obstante a certeza que temos de que ela acabará por rebentar.
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A vida não se apresenta de modo algum como um mimo que nos é dado gozar, mas antes como um dever, uma tarefa que tem de se cumprir à força de trabalho; daí resulta, tanto nas grandes como nas pequenas coisas, uma miséria geral, um trabalho sem descanso, uma concorrência sem tréguas, um combate sem fim, uma atividade imposta com uma tensão extrema de todas as forças do corpo e do espírito. Milhões de homens, reunidos em nações, concorrem para o bem público, procedendo assim cada indivíduo em seu próprio interesse; caem, porém, milhares de vítimas para a salvação comum. Umas vezes são preconceitos insensatos, outras uma política sutil que excitam os povos à guerra; urge que o suor e o sangue da grande massa corram em abundância para levar a bom fim as fantasias de alguns, ou para expiar as suas faltas. Em tempo de paz, a indústria e o comércio prosperam, as invenções operam maravilhas, os navios sulcam os mares e transportam coisas deliciosas de todas as partes do mundo, as ondas tragam milhares de homens. Tudo está em movimento, uns meditam, outros procedem, o tumulto é indescritível.
Mas qual é o alvo de tantos esforços? Manter durante um curto espaço de tempo entes efêmeros e atormentados, mantê-los no caso mais favorável em uma miséria suportável e uma ausência de dor relativa que o tédio logo aproveita; depois a reprodução dessa raça e a renovação do seu curso habitual.
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Os esforços sem tréguas para banir o sofrimento só têm o resultado de o fazer mudar de figura. Na origem aparece sob a forma da necessidade, do cuidado pelas coisas materiais da vida.
Conseguindo-se, à custa de penas, expulsar a dor sob esse aspecto, logo se transforma e toma mil formas diferentes, segundo as idades e as circunstâncias; é o instinto sexual, o amor apaixonado, o ciúme, a inveja, o ódio, a ambição, o medo, a avareza, a doença, etc., etc. Se não encontra outro acesso livre, toma o manto triste e pardo do tédio e da sociedade, e então, para a combater, é preciso forjar armas. Logrando-se expulsá-la, não sem combate, volta às suas antigas metamorfoses, e a dança recomeça…
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O que ocupa todos os vivos e os conserva em contínua atividade, é a necessidade de assegurar a existência. Mas feito isto, não sabem que mais hão de fazer. Assim o segundo esforço dos homens é aliviar o peso da vida, torná-lo insensível, matar o tempo, isto é, fugir ao aborrecimento. Vemo-los, logo que se livram de toda a miséria material e moral, logo que sacudiram dos ombros todos os fardos, tomarem sobre eles mesmos o peso da existência, e considerarem como um ganho toda a hora que têm conseguido passar, ainda que no fundo ela seja tirada dessa existência, que se esforçam por prolongar com tanto zelo. O aborrecimento não é um mal para desdenhar: que desespero faz transparecer no rosto! Faz com que os homens, que se amam tão pouco uns aos outros, se procurem com todo o entusiasmo; é a origem do instinto social. O Estado considera-o como uma calamidade pública, e por prudência toma medidas para o combater.
Este flagelo, que não é menor que o seu extremo oposto, a fome, pode impelir os homens a todos os desvarios; o povo precisa panem et circenses. O rude sistema penitenciário de Filadélfia, fundado sobre o isolamento e a inatividade, faz do aborrecimento um instrumento de suplício tão terrível, que mais de um condenado tem recorrido ao suicídio para lhe fugir. Se a miséria é o aguilhão perpétuo para o povo, o tédio é-o igualmente para os ricos. Na vida civil, o domingo representa o aborrecimento, e os seis dias da semana a miséria.
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A vida do homem oscila, como uma pêndula, entre a dor e o tédio, tais são na realidade os seus dois últimos elementos. Os homens tiveram que exprimir esta ideia de um modo singular; depois de haverem feito do inferno o lugar de todos os tormentos e de todos os sofrimentos, que ficou para o céu? justamente o aborrecimento.
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O homem é o mais necessitado de todos os seres: não tem mais do que vontade, desejos encarnados, um composto de mil necessidades. E assim vive na Terra, abandonado a si próprio, incerto de tudo que não seja a miséria e a necessidade que o oprime. Através as exigências imperiosas, todos os dias renovadas, o cuidado da existência preenche a vida humana. Ao mesmo tempo atormenta-o um segundo instinto, o de perpetuar a sua raça. Ameaçado por todos os lados pelos perigos mais diversos, tem que usar de uma prudência sempre vigilante para lhes escapar. Com passo inquieto, lançando em volta olhares cheios de angústia, segue o seu caminho lutando com os acasos e com os inimigos sem número. Assim como caminharia através os desertos selvagens, assim segue em plena vida civilizada; para ele, não existe a segurança:
Qualibus in tenebris vitæ, quantisque periclis
Degitur hocc’ævi, quodcunque est!
(Lucr, II, 15.)
A vida é um mar cheio de escolhos e de turbilhões que o homem só evita à força de prudência e de cuidados, embora saiba que mesmo que consiga escapar-lhes com perícia e esforços, não pode contudo, à medida que avança, retardar o grande, o total, o inevitável naufrágio, a morte que parece correr-lhe ao encontro: é esse o fim supremo de tão laboriosa navegação, para ele infinitamente pior que todos os escolhos a que escapou.
Sentimos a dor, mas não a ausência da dor; sentimos a inquietação, mas não a ausência da inquietação; o temor, mas não a segurança. Sentimos o desejo e o anelo, como sentimos a fome e a sede; mas apenas satisfeitos, tudo acaba, assim como o bocado que, uma vez engolido, deixa de existir para a nossa sensação. Enquanto possuímos os três maiores bens da vida, saúde, mocidade e liberdade, não temos consciência deles, e só os apreciamos depois de os havermos perdido, porque esses também são bens negativos. Só notamos os dias felizes da nossa vida passada depois de darem lugar aos dias de tristeza… — À medida que os nossos prazeres aumentam, tornam-nos cada vez mais insensíveis; o hábito não é já um prazer. Por isso mesmo a nossa faculdade de sofrer é mais viva; todo o hábito suprimido causa um sentimento doloroso. As horas correm tanto mais rápidas quanto mais agradáveis são, tanto mais demoradas quanto mais tristes, porque o gozo não é positivo, mas sim a dor, cuja presença .se faz sentir. O aborrecimento dá-nos a noção do tempo, a distração tira-a. O que prova que a nossa existência é tanto mais feliz quanto menos a sentimos: de onde se segue que mais vale ver-nos livres dela. Não se poderia absolutamente imaginar uma grande e viva alegria, se esta não sucedesse a uma grande miséria porque nada há que possa atingir um estado de alegria serena e durável; o mais que se consegue é distrair, satisfazer a vaidade. É por este motivo que todos os poetas são obrigados a colocar os seus heróis em situações cheias de ansiedades e de tormentos, a fim de os livrarem delas: drama e poesia épica só nos mostram homens que lutam, que sofrem mil torturas, e cada romance oferece-nos em espetáculo os espasmos e as convulsões do pobre coração humano. Voltaire, o feliz Voltaire, que tão favorecido foi pela natureza, pensa como eu, quando diz: “A felicidade não passa de um sonho, só a dor é real”; e acrescenta: “Há oitenta anos que o experimento. Não sei fazer outra coisa senão resignar-me, e dizer a mim mesmo que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas, e os homens para serem devorados pelos pesares.”
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A vida de cada homem, vista de longe e de alto, no seu conjunto e nas fases mais salientes, apresenta-nos sempre um espetáculo trágico; mas se a analisarmos nas suas minúcias, tem o caráter de uma comédia o decurso e o tormento do dia, a incessante inquietação do momento, os desejos e os receios da semana, as desgraças de cada hora, sob a ação do acaso que procura sempre mistificar-nos, são outras tantas cenas de comédia. Mas as aspirações iludidas, os esforços baldados, as esperanças que o destino esmaga implacavelmente, os erros funestos da vida inteira, com os sofrimentos que se acumulam e a morte no último ato, eis a eterna tragédia. Parece que o destino quis juntar a irrisão ao desespero da nossa existência, quando encheu a nossa vida com todos os infortúnios da tragédia, sem que possamos sequer sustentar a dignidade das personagens trágicas. Longe disso, na ampla particularidade da vida, representamos inevitavelmente o mesquinho papel de cômicos.
É verdadeiramente incrível como a existência da maior parte dos homens é insignificante e destituída de interesse vista exteriormente, e como é surda e obscura sentida interiormente. Consta apenas de tormentos, aspirações impossíveis, é o andar cambaleante de um homem que sonha através as quatro épocas da vida até à morte, com um cortejo de pensamentos triviais. Os homens assemelham-se relógios a que se dá corda e trabalham sem saber por que; e sempre que vem um homem a este mundo, o relógio da vida humana recebe corda de novo para repetir mais uma vez o velho e gasto estribilho da eterna caixa de música, frase por frase, compasso por compasso, com variações quase insensíveis.
Cada indivíduo, cada rosto humano e cada existência humana são um sonho, um sonho efêmero do espírito infinito da natureza, da vontade de viver persistente e teimosa, são uma imagem fugitiva que desenha na página infinita do espaço e do tempo, que deixa subsistir alguns instantes de uma rapidez vertiginosa, e que logo apaga para dar lugar a outras. Contudo, e é esse o lado da vida que faz pensar e refletir, urge que a vontade de viver, violenta e impetuosa, pague cada uma dessas imagens fugitivas, cada uma dessas fantasias vãs ao preço de dores profundas e sem número, e de uma morte amarga por muito tempo temida e que afinal chega. Eis por que o aspecto de um cadáver nos torna subitamente sérios.
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Onde iria Dante procurar o modelo e assunto do seu inferno senão no nosso mundo real? E contudo, é um perfeito inferno que ele nos pinta. Ao contrário, quando ele tratou de descobrir o céu e os seus gozos, encontrou-se em frente de uma dificuldade invencível, justamente porque o nosso mundo nada oferece de análogo. Em lugar das alegrias do Paraíso, viu-se reduzido a dar-nos parte das instruções que lhe deram os seus antepassados, a sua Beatriz e diversos santos. Daqui se deduz claramente que espécie de mundo é o nosso.
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O inferno do mundo excede o Inferno de Dante, no ponto em que cada um é o diabo do seu vizinho; há também um arquidiabo superior a todos os outros, é o conquistador que dispõe milhares de homens em frente uns dos outros e lhes brada: “Sofrer, morrer, é o vosso destino; portanto fuzilem-se, canhoneiem-se mutuamente!” e eles assim procedem.
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Se se pudesse pôr diante dos olhos de cada um as dores e os espantosos tormentos aos quais a sua vida se encontra incessantemente exposta, um tal aspecto enchê-lo-ia de medo; e se se quisesse conduzir o otimista mais endurecido aos hospitais, aos lazaretos e aposentos de torturas cirúrgicas, às prisões, aos lugares de suplícios, às pocilgas dos escravos, aos campos de batalha e aos tribunais criminais, se se lhe abrissem todos os antros sombrios onde a miséria se acolhe para fugir aos olhares de uma curiosidade fria, e se por fim o deixassem ver a torre de Ugolino, então, com certeza, também ele acabaria por reconhecer de que espécie é este melhor dos mundos possíveis.
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Este mundo, campo de carnificina onde entes ansiosos e atormentados vivem devorando-se uns aos outros, onde todo o animal carnívoro se torna o túmulo vivo de tantos outros, e passa a vida numa longa série de martírios, onde a capacidade de sofrer aumenta na proporção da inteligência, e atinge portanto no homem o mais elevado grau; este mundo, quiseram os otimistas adaptá-lo ao seu sistema, e apresentá-lo a priori como o melhor dos mundos possíveis. O absurdo é evidente. — Dizem-me para abrir os olhos e fitá-los na beleza do mundo que o Sol ilumina, admirar-lhe as montanhas, os vales, as torrentes, as plantas, os animais, que sei eu! Então o mundo é uma lanterna mágica?
Certamente que o espetáculo é esplêndido à vista, mas representar aí um papel, é outra coisa. — Após o otimista surge o homem das causas finais; esse exalta a sábia ordem que preserva os planetas de se chocarem no seu percurso, que impede a terra e o mar de se confundirem e os mantém devidamente separados, que faz com que o resto não se conserve num gelo eterno, ou seja consumido pelo calor, que, devido à inclinação da eclíptica, não permite à primavera ser eterna e deixa amadurecer os frutos, etc… Mas tudo isso são simples conditiones sine quibus non. Porque se deve existir um mundo, se os seus planetas devem durar, embora, um período igual àquele que o raio de uma estrela fixa e afastada leva para chegar até eles, e se não desapareceu como o filho de Lessing logo após o nascimento, era preciso que as coisas estivessem mal arquitetadas, para que a base fundamental ameaçasse já ruína. Cheguemos agora aos resultados dessa obra tão exaltada, consideremos os atos que se movem nesta cena tão solidamente formada: vemos a dor aparecer ao mesmo temo-o que a sensibilidade, e aumentar à medida aue esta se torna inteligente, vemos o desejo e o sofrimento caminhando par a par, desenvolver-se sem limites, até que por fim a vida humana apenas oferece assunto de tragédias, ter-se-á pouca disposição para entoar a Aleluia dos otimistas.
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Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo esfacelar-me-ia o coração.
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Imaginando-se um demônio criador, ter-se-ia portanto o direito de lhe gritar mostrando-lhe a sua obra: “Como ousaste interromper o repouso sagrado do nada, para fazer surgir uma tal massa de desgraça e de angústias?”
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Considerando a vida sob o aspecto do seu valor objetivo, é pelo menos duvidoso que ela seja preferível ao nada; e eu diria até que se a experiência e a reflexão se pudessem fazer elevariam a voz em favor do nada. Se batêssemos nas pedras dos túmulos para perguntar aos mortos se querem ressuscitar, eles abanariam a cabeça. É também esta a opinião de Sócrates na apologia de Platão, e até o amável e alegre Voltaire não pôde deixar de dizer: “Aprecia-se a vida; mas o nada também tem o seu lado bom”; e ainda: “Não sei o que é a vida eterna, esta, porém, é um mau gracejo.”
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Querer é essencialmente sofrer, e como o viver é querer, toda a existência é essencialmente dor. Quanto mais elevado é o ser, mais sofre… A vida do homem não é mais do que uma luta pela existência com a certeza de ser vencido… A vida é uma caçada incessante onde, ora como caçadores, ora como caça, os entes disputam entre si os restos de uma horrível carnificina; uma história natural da dor que se resume assim: querer sem motivo, sofrer sempre, lutar sempre, depois morrer e assim sucessivamente pelos séculos dos séculos, até que o nosso planeta se faça em bocados.
SCHOPENHAUER, Arthur. Dores do mundo: O Amor — A Morte — A Arte — A Moral — A Religião — A Política — O Homem e a Sociedade. [tradução Albino Forjaz de Sampaio]. Coleção Universidade. Edições de Ouro, 1985.
DA OBRA
Dores do Mundo: Considerada uma das obras clássicas da filosofia alemã, esta obra apresenta uma série de reflexões sobre a existência, propondo uma nova forma de se pensar a dor e a felicidade. Temas como o amor, a morte, a arte, a moral, a religião, a política, o homem e a sociedade ilustram a teoria exposta por Schopenhauer. Indicada para todos os estudiosos e pensadores da conduta humana, quer ligados às áreas da própria filosofia, da sociologia, da religião, como para profissionais de toda e qualquer área em que se faça necessário o entendimento dos meandros que constituem a base do comportamento humano. O filósofo traz reflexões sobre a existência, cuja finalidade, segundo ele, seria a própria dor, constituindo-se o mundo num lugar de expiação. Para Schopenhauer, faz-se necessário refutar as premissas estabelecidas pelos sistemas metafísicos que entendem o mal como algo negativo. Pois, do seu ponto de vista, ao contrário do bem, o mal é que deve ser considerado positivo, uma vez que somente ele se faz, de fato, sentir. O autor tece aqui suas considerações fundamentando-se na teoria de que “O bem, a felicidade, a satisfação são negativos porque não fazem senão suprimir um desejo e terminar um desgosto (…), em geral, achamos as alegrias abaixo da nossa expectativa, ao passo que as dores a excedem sobremaneira”.
Arthur Schopenhauer. nascido em Dazing, em 1788, este importante filósofo alemão influenciou o pensamento do século XIX, e continua a influenciar até os dias de hoje. Seu modo de pensar não se encaixa em nenhum dos grandes sistemas de sua época. Foi ele quem introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e influenciou grandes escritores, como Léon Tolstoi, Kafka e o brasileiro Machado de Assis.
BOTTMANN, Denise. Schopenhauer traduzido no brasil (1887-1969). in blog ‘não gosto de plágio’. 28.6.2015. Disponível no link. (acessado em 24.5.2020).
BOTTMANN, Denise. Arthur Schopenhauer no Brasil (1887-2015). Belas Infiéis, v. 5, n. 1, p. 251-259, 2016. Disponível no link. (acessado em 24.5.2020).
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