O fotógrafo Sebastião Salgado tornou-se, nesta quarta-feira (6), o primeiro brasileiro a integrar a Academia de Belas Artes, instituição que tem origem no século 17 e uma das cinco academias que compõem o Institut de France, templo da excelência francesa nas artes e nas ciências.
Em diversos momentos da cerimônia o fotógrafo não conteve as lágrimas. Ele tomou posse em uma das quatro cadeiras da seção de fotografia da academia, para a qual foi eleito em 2016, no lugar do francês Lucien Clergue, seu amigo, morto em 2014.
Com a mesma elegância com que veste seu colete para percorrer os quatro cantos do planeta, Salgado entrou no plenário do Institut de France vestindo o fardão preto com detalhes bordados em dourado da instituição.
A cerimônia foi aberta com uma mensagem rápida enviada pelo presidente francês Emmanuel Macron, que não esteve presente, mas enviou suas “mais calorosas saudações” ao brasileiro.
Em seu discurso de boas-vindas, o fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, um dos quatro fotógrafos da academia, lembrou a vida e a obra de Salgado, que enxugava as lágrimas enquanto ouvia o nome de seus filhos, Juliano e Rodrigo, e de sua mulher e parceira de vida e trabalho, Lélia.
Os dois chegaram a Paris juntos em 1969, exilados por causa da ditadura militar que perseguia um Sebastião Salgado ainda economista e militante de esquerda.
Nessa época, a fotografia não era nem mesmo um hobby na vida de Salgado. Pouco tempo depois da chegada à França, o casal se mudou para Londres, onde o brasileiro trabalhou por alguns anos na Organização Internacional do Café, mesmo nunca tendo gostado da bebida.
Salgado começou a fotografar por hobby, durante suas viagens a trabalho pela África, com uma câmera emprestada de Lélia. No início da década de 70, largou tudo e passou a se dedicar completamente à fotografia, integrando algumas das agências mais importantes do mundo.
Como manda o protocolo do Institut de France, seu discurso foi dirigido a seu antecessor. Do amigo Clergue, Salgado lembrou a “audácia”, sua amizade com Pablo Picasso e a herança que ele deixou, como Les Rencontre d’Arles, “o mais importante festival de fotografia do mundo”, conforme descreveu o brasileiro.
“Somos quatro fotógrafos na Académie, Lucien. Como os quatro mosqueteiros que vão defender a fotografia. Você é nosso D’Artagnan, Lucien. “, afirmou o brasileiro, ao homenagear o amigo.
Salgado também teve palavras para Lélia, a mulher que o tirou “das trevas” onde se viu, traumatizado por anos fotografando a guerra e a morte de homens, mulheres e crianças. Foi também a ela que dedicou o número musical que encerrou a cerimônia, um duo de piano e soprano que interpretou “Nesta Rua”, o clássico popular de Heitor-Villa Lobos.
Fonte: por Mário Camera colaboração para a Folha, de Paris | Folha Ilustrada
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