O cantor e violonista Renato Braz convidou Nana Caymmi e Cristovão Bastos para dividir com ele uma das faixas do disco “Canário do Reino”, que está gravando em homenagem a Tim Maia e que será lançado em julho. Nana escolheu gravar ‘A Lua e Eu’, de Cassiano e Paulo Zdanowski, para homenagear o compositor carioca
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É a primeira gravação da cantora desde o álbum “Nana, Tom, Vinicius”, lançado em 2020, pelo selo Sesc, com direção artística, violão e arranjos de Dori Caymmi.
O duo foi gravado na casa de Nana no Rio de Janeiro, com participação do pianista, compositor e arranjador Cristovão Bastos, que fez o arranjo e toca piano. Cristovão também participará de outras duas músicas do disco, “Eu e a Brisa” e “Neves e Parques”. Nana Caymmi, que completou 83 anos neste mês, escolheu a canção “A Lua e Eu”, de Cassiano e Paulo Zdanowski. Tim Maia era admirador da obra de Cassiano.
O single traz ainda a citação de versos da belíssima canção de Tim Maia “Azul da cor do mar”, logo no início:
“Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir
Tenho muito pra contar
Dizer que aprendi
E na vida a gente tem que entender
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Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri”
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Nana disse em um depoimento para a divulgação do trabalho que Braz “me encheu o saco o tempo todo”, e deu “graças a Deus” por ele “ser persistente e me dar coragem, e gravei”.
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“Depois que fiz os discos do Tito Madi e do Tom Jobim, eu não gravei mais nada. Eu tive planos e projetos e não fiz”, seguiu a cantora.
No mesmo depoimento, ela lembrou da relação emocional que tem com “A Lua e Eu”, que gravou com seu filho João Gilberto em 1988.
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“A gravação de agora com Renato ficou linda e foi feita na primeira tomada. Foi despretensiosa. Eu dei uma embalada nela boa, com emoção muito forte. Eu gravei aqui em casa, coisa que nunca pensei em fazer. Gravar, para mim, são seis meses de trabalho árduo, orquestração, base. Eu boto voz direto, não boto voz em playback. Sempre cantei direto com os músicos. Por isso que tem outro toque. A emoção é muito grande.”
Já o paulistano Renato Braz diz que considera Nana a maior cantora em atividade no país, e sua maior referência em canto feminino. Ele diz ainda que a estimula a voltar para os estúdios. “O Brasil precisa mais e mais do canto de Nana”.
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Braz enviou um depoimento em que fala de sua mãe, da cantora Ângela Maria e da relação de tudo isso com a “tarde de sonho, de amor incondicional” quando gravou com Nana Caymmi.
“Nana Caymmi, a Lua e Eu”, por Renato Braz
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Ângela Maria era a cantora favorita de minha mãe. Tive duas raras oportunidades de encontrar a Sapoti. A primeira delas num show coletivo em que eu, junto com Mônica Salmaso, Luiz Bastos e Márcia Lopes integrávamos o grupo Notícias D’Um Brasil do Eduardo Gudin. Era um show coletivo no Sesc SP, com vários artistas. Não cantamos juntos, quisera eu, mas fomos parte do mesmo concerto. E no camarim fiquei alguns minutos sentado, emudecido de frente para Ângela, sem coragem de cumprimentá-la.
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Noutra vez, anos depois, no lobby do hotel Pirâmide em Natal (RN), voltando da passagem de som do show que faria no Teatro Alberto Maranhão, avistei Ângela e seu companheiro à espera do táxi. O produtor Zé Dias disse:
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– Ângela Maria, a maior cantora do Brasil! Renato, cante alguma coisa para Ângela Maria.
– Zé Dias, não faça isso com o menino. Não o coloque numa situação dessas, isso é delicado! – advertiu ela, meio envergonhada.
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Ângela ficou super constrangida com o pedido do efusivo produtor potiguar. E eu, sem graça, tirei o violão do estojo e cantei ali, ao pé do seu ouvido, uma canção que ouvi pela primeira vez na voz de Nana Caymmi, no bar Vou Vivendo. Era “Smile”, que gravei no meu primeiro disco.
Minha mãe tinha horror a auto-elogio. Achava indigno e sempre dizia em tom de desaprovação: ‘Meu filho, elogio em boca própria é vitupério’. Isso me impediria de concluir essa história, pois Dona Dulce, a velha Índia, olhando lá de cima, vai querer me matar. Mas guardo esse precioso elogio de uma das maiores cantoras do país:
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– Menino, ouvir você cantar me lembrou o colo de minha mãe.
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Fui chorar no banheiro. E ainda tenho que agradecer àquele insistente produtor –não fosse ele, eu jamais teria vivido esse momento tão feliz.
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Nana está para mim como Ângela estava para minha mãe. Aliás, penso que Nana Caymmi é a mãe de todas as cantoras. Quando decidi tirar da gaveta um projeto de homenagem em disco ao meu ídolo Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, tive a ideia de convidar Nana para participar.
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Já pegamos estrada juntos, fizemos vários shows pelo Brasil (eu, Nana, Dori e Danilo), mas nunca tínhamos gravado juntos. Pronto para iniciar a gravação do disco, liguei para ela e expliquei a ideia. Ela topou sem titubear. ‘Tô contigo nessa’, disse.
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Dia desses finalmente gravamos sua participação no meu disco e foi um dos dias mais emocionantes que vivi na minha vida. Não é exagero dizer isso.
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Que mulher maravilhosa, que cantora sensível, amorosa, precisa e de inteligência aliada a uma bondade. Nana nos recebeu em sua casa com afeto e delicadeza. Eu, Cristovão Bastos e o Mário Gil, que fez a gravação. De quebra, ainda fomos premiados por ela e Cristovão, que tocaram e cantaram mais algumas peças, além da que gravamos pro disco, ‘A Lua e Eu’. Uma tarde de sonho, de amor incondicional por Nana Caymmi.”
SINGLE ‘A LUA E EU’ • Renato Braz, Nana Caymmi e Cristovão Bastos • Selo Independente / Distribuição Tratore • 2024
Canção / compositores
:: A Lua e Eu, de Cassiano e Paulo Zdanowski
— Citação “Azul da cor do mar” (Tim Maia) —
– ficha técnica –
Renato Braz (voz) | Nana Caymmi (voz) | Cristovão Bastos (piano e arranjo) | Produção e gravação: Mário Gil | Mixagem e masterização: Mário Gil – Estúdio Dançapé – São Paulo | Designer: ? | Selo: Independente | Distribuição: Tratore | Formato: Single digital | Ano: 2024 | Lançamento: 29 de abril | ♪Ouça o single: Apple Music | Deezer | Wynk Music | Youtube Music | Amazon Music | Spotify
A Lua e Eu
(Cassiano e Paulo Zdanowski)
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Mais um ano se passou…
E eu nem sequer ouvi falar seu nome…
A Lua e Eu…
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Caminhando pela estrada…
Eu olho em volta e só vejo pegadas…
Mas não são as suas… Eu sei…
O vento faz… Eu lembrar você…
As folhas caem mortas como eu…
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Quando olho no espelho…
Estou ficando velho e acabado…
Procuro encontrar…
Não sei onde está você…
Você…
O vento faz… Eu lembrar você…
As folhas caem mortas como eu…
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* capa da matéria (mosaico -montagem): Cristovão Bastos e Renato Braz – foto de Marcelo Rodolfo / Nana Caymmi – foto de Fábio Motta.
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Série: Discografia da Música Brasileira / Canção / MPB / Single.
Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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