Ilusões de ótica nunca são demais – e podem até servir de instrumento de pesquisas que avaliam o comportamento humano
Veja os desenhos em dois tempos, uma de 1915 (acima) e outra de 1988 (abaixo). O que você enxerga nestas imagens? Uma moça com o rosto virado ou uma senhora com cabelos cobrindo os olhos?
Em 1915, um cartunista britânico chamado William Ely Hill a desenhou para uma revista de humor com o título “My Wife and My Mother-in-Law” (“minha esposa e minha sogra”, em português). A legenda já instigava a ambiguidade: “As duas estão na imagem acima. Tente encontrá-las”.
A primeira aparição desse truque é ainda mais antiga: um cartão postal alemão de 1888 já possuía, com mais detalhes, um desenho que mostrava ora uma jovem, ora uma idosa. 130 anos depois, a figura voltou a dar as caras (com o perdão do trocadilho) em uma pesquisa sobre a percepção de rostos.
O estudo, publicado pela revista Scientific Reports, usou a imagem das duas mulheres em um levantamento para entender se a nossa idade influencia nesse tipo de identificação. E para receber a resposta das 666 pessoas que participaram da pesquisa, os cientistas recorreram a um serviço da Amazon, no mínimo, curioso – O Mechanical Turk.
Sabe quando algum formulário online pede para que você reconheça uma imagem, para provar que não é um robô? Uma das coisas em que (ainda) somos melhores que as máquinas é no reconhecimento de figuras. A ideia do Turk é justamente essa: entrar na plataforma, analisar e classificar uma porção de imagens.
O trabalho repetitivo visa aprimorar tecnologias de inteligências artificiais, mas o Turk é usado também para testes de pesquisas científicas, como as das nossas amigas ali de cima. Os cientistas enviaram um questionário com três etapas. Sem saber que o motivo do teste era analisar as variações nas respostas de acordo com a idade, os participantes, de 18 a 68 anos, olhavam para a figura por apenas meio segundo e respondiam, inicialmente, se elas enxergavam uma pessoa ou um animal.
A quais resultados os cientistas chegaram
Quem respondia a primeira opção avançava para a próxima pergunta, a respeito do gênero da pessoa. Os que falaram que se tratava de uma mulher iam para a derradeira pergunta que iniciou este texto. No geral, o resultado foi que as pessoas mais jovens tinham mais chances de identificar o rosto da moça, enquanto os mais velhos enxergavam a “sogra”.
Os cientistas associaram isso a dois fatores. O primeiro deles é o chamado “viés de idade”: como estamos acostumados a interagir com pessoas da mesma faixa etária, nosso cérebro inconscientemente faz essa associação jovial com maior facilidade. O segundo é a dificuldade em reconhecer rostos mais velhos, o que poderia estar relacionado, de acordo com as conclusões do estudo, às práticas sócio-culturais dos EUA, que não facilitam a inclusão dos idosos.
Fonte: revista Super Interessante.
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