Trechos de livros do ‘velho safado’, Charles Bukowski

Uma seleção de frases/excertos retiradas de diversas obras do ‘velho safado’, Bukowski.
As citações não estão em ordem, isso é, não foram organizadas de forma sequencial conforme a evolução da leitura de cada livro, foram organizadas aleatoriamente.
Além disso, observem que as referências (obra, tradutor e editora) estão negritadas e constam acima do conjunto de citações a que dizem respeito. Então, cuidado ao copiarem as frases e as respectivas referências para não errarem.

Boa leitura, divirtam-se!

Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. tradução Bettina Gertum Becker. L&PM, 2011

“… não se pode esperar um dia 100 por cento. Se conseguir 51, você ganhou. Hoje foi um 97.”

“Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz.”

“Esta é uma dessas noites em que não há nada. Imagine se fosse sempre assim. Vazio. Apático. Sem luz. Sem dança. Nem mesmo insatisfação.”

“Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos.”

“Mas toda a minha vida tem sido uma questão de lutar por uma simples hora para fazer o que eu quero fazer. Tem sempre alguma coisa atrapalhando a minha chegada a mim mesmo.”

“Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais.”

“Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente. Mas a maioria das pessoas fica paralisada de medo. Elas têm tanto medo do fracasso que acabam fracassando. Estão condicionadas demais, acostumadas demais que digam o que devem fazer. Começa com a família, passa pela escola e entra no mundo dos negócios.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. tradução Albino Poli Jr.. L&PM, 2011

“perambulei por ruas cujo nome eu não conhecia. não sabia pra que lado andar. a tristeza era que alguma coisa estava errada. e eu não podia formulá-la. suspensa na minha cabeça como uma bíblia. que merda sem sentido. que jeito de se estrepar. nenhum mapa. nenhuma pessoa. nenhum ruído, apenas vespas. pedras. muros. vento, meu pau e minhas bolas balançando sem sentimento. eu podia berrar qualquer coisa na rua e ninguém ouviria, ninguém daria a mínima. não que eles devessem. eu não estava pedindo por amor. mas tinha alguma coisa muito estranha. os livros nunca falaram sobre isso. mas as aranhas sabiam. foda-se.”

“há uma espécie de verdade aqui que é amarga e falsa para ser disputada e eu não sei o que fazer com ela.”

“eu sabia que tinha alguma coisa de errado comigo mas não me considerava insano. era simplesmente que eu não conseguia compreender como é que outras pessoas tornavam-se tão facilmente irritadas, para em seguida com a mesma facilidade esquecer a sua ira e se tornarem alegres, e como é que eles podiam ser tão interessados por TUDO, quando tudo era tão chato.”

“não sou esnobe; simplesmente não estou interessado no que a maioria das pessoas tem pra dizer, ou no que elas desejam fazer.”

“me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes toda vez que abrem as suas bocas. eu me canso de ficar batalhando por cada espaço de ar para o espírito. é por isso que me afasto das pessoas por tanto tempo, e agora que estou encontrando as pessoas, descubro que preciso voltar pra minha caverna.”

“… não existe coisa que eu mais odeie do que sentimentalismo barato!”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2011

“Nunca gostei de jurar lealdade à bandeira. Era aborrecido e idiota demais. Sempre me senti mais confortável jurando lealdade a mim mesmo…”

“Ele começou a escrever. Escreveu e escreveu e escreveu. Imaginei como ele sabia tanto sobre mim. Eu mesmo não sabia tanto sobre mim.”

“– Cada um de nós está, no final, sozinho.”

“Nenhum sofrimento humano é maior do que o planejado pela natureza.”

“… não consigo deixar de pensar nos anos em quartos solitários, quando as únicas pessoas que batiam à minha porta eram as senhorias cobrando o aluguel atrasado ou o FBI. Vivia com ratos e camundongos e vinho, meu sangue escorria pelas paredes em um mundo que não conseguia compreender e ainda não compreendo. Em vez de levar a vida que eles levavam, eu passava fome. Fugia para dentro de minha própria mente e me escondia. Fechava todas as cortinas e ficava olhando para o teto. Quando saía, era para ir a um bar onde eu mendigava por bebida, andava a esmo, apanhava nos becos de homens bem-alimentados e confiantes, de homens idiotas e com vidas confortáveis. Bem, ganhei algumas lutas, mas só porque era louco. Fiquei anos sem mulher, vivia de manteiga de amendoim e pão amanhecido e batatas cozidas. Eu era o idiota, o estúpido, o louco. Queria escrever, mas a máquina de escrever estava sempre penhorada. Então eu desistia e bebia…”

“– Acho que sem amor, sexo não é nada. As coisas só podem representar alguma coisa quando existe algum sentimento entre os participantes.”

“Não tínhamos, propriamente, amor pela vida, mas, ainda assim, queríamos viver.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Factótum”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2011

“– Por isso que você é assim meio louco. Não teve amor. Todo mundo precisa ser amado. Isso arruinou com você.”

“Ergui-me e tomei o rumo de minha pensão. A lua brilhava. Meus passos ecoavam pela rua vazia, parecendo os passos de um perseguidor. Olhei ao redor. Eu estava enganado. Somente a solidão me acompanhava.”

“Então chegou a festa de Natal. Era 24 de dezembro. Haveria drinques, comida, música, dança. Eu não gostava de festas. Eu não sabia dançar, e as pessoas me assustavam, especialmente as pessoas em festas. Elas tentavam ser atraentes e alegres e espirituosas e, embora esperassem exercer bem todas essas funções, fracassavam. Elas não eram boas nisso. O fato de tentarem com tamanho afinco só piorava as coisas.”

“A solução, decidi, era não pensar. Mas como se faz para parar de pensar?”

“Era cedo da noite e me atacava uma de minhas crises depressivas, o que me fez ir cedo para cama, buscando, de alguma maneira, adormecer.”

“Era verdade que eu não tinha muita ambição, mas devia haver um lugar para pessoas assim, digo, um lugar melhor do que o tradicionalmente reservado. Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Hollywood”. tradução Marcos Santarrita. L&PM, 2011

“Olhei no espelho. Gostava de mim mesmo, mas não no espelho. Não tinha aquela aparência.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Pulp”. tradução Marcos Santarrita. L&PM, 2011

“Afinal de contas, eu tinha feito tudo que me havia proposto na vida. Dera os passos certos. Não dormia na rua. Claro, havia um bocado de gente boa dormindo nas ruas. Não eram idiotas, apenas não se encaixavam na maquinaria necessária no momento. E essas necessidades viviam mudando. Era uma luta desigual, e se a gente dormia na própria cama já era uma preciosa vitória contra as forças. Eu tivera sorte, mas alguns dos passos que dera não os dera inteiramente sem pensar. Em geral, porém, era um mundo horrível, e eu muitas vezes me sentia triste pelos outros.”

“Decidi ficar na cama até o meio-dia. Talvez então a metade do mundo estivesse morta e ele seria metade menos difícil de enfrentar. Talvez quando eu me levantasse de tarde tivesse uma aparência melhor, me sentisse melhor.”

“Frequentemente, os melhores momentos na vida são quando a gente não está fazendo nada, só meditando, ruminando.”

“… a gente pensa que todo o mundo é sem sentido, aí vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência da falta de sentido já é quase um pouco de sentido. Sabe como é? Um otimismo pessimista.”

“Todo mundo estava fodido. Não havia vencedores. Só vencedores aparentes. Todos nós corríamos atrás de nada. Dia após dia. Sobreviver parecia ser a única necessidade. Não parecia bastante. Não com Dona Morte esperando.”

“A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?”

“As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte, por isso desistia.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. tradução Milton Persson. L&PM, 2011

“Todo homem come o pão que o diabo amassou – só que eu, nesse terreno, levo três corpos de vantagem.”

“eu não gostava do mundo, mas em tempos precavidos e tranquilos, dava quase para compreendê-lo.”

“– porque se não me sinto feliz, não sirvo pra nada e eu quero servir pra alguma coisa.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Misto-quente”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2011

“Reunidos ao meu redor estavam os fracos em vez dos fortes, os feios em vez dos belos, os perdedores em vez dos vencedores. Era como se meu destino fosse cruzar a vida em companhia deles. Isto não me incomodava tanto quanto o fato de que para esses cretinos, para esses companheiros idiotas, eu era um cara irresistível. Eu era como um monte de bosta que atraía moscas em vez de ser uma flor desejada por borboletas e abelhas. Eu queria viver sozinho, me sentia melhor assim, mais limpo; no entanto, eu não era esperto o suficiente para me livrar deles. Talvez eles fossem meus mestres: pais de outra maneira. De qualquer forma, era duro aguentá-los ao meu redor enquanto comia meus sanduíches à bolonhesa.”

“Será que eu era a única pessoa que perdia tempo pensando nesse futuro sem perspectivas?”

“– Cada vez mais descobriremos nossas próprias verdades e nosso modo próprio de falar, e essa nova voz estará despojada de velhas histórias, de velhos costumes, de sonhos velhos e inúteis…”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. tradução Reinaldo Moraes. L&PM, 2011

“– Não quero ficar onde não me querem. Não quero ficar onde não gostam de mim.”

“As morais são restritivas, mas são fundadas na experiência humana através dos séculos. Certas morais servem pra encarcerar as pessoas nas fábricas, igrejas e submetê-las ao Estado. Outras fazem sentido. É como um pomar repleto de frutos envenenados e bons frutos. O negócio é saber qual apanhar pra comer, qual evitar.”

“As relações humanas nunca funcionavam mesmo. Só as primeiras duas semanas tinham alguns tchans; a partir daí, os parceiros perdiam o interesse. Caíam as máscaras e as verdadeiras pessoas começavam a aflorar: maníacas, imbecis, dementes, vingativas, sádicas, assassinas. A sociedade moderna tinha criado seres à sua imagem e semelhança e eles se festejavam mutuamente num duelo com a morte, dentro de uma cloaca. Eu já tinha notado que a duração máxima de uma história entre duas pessoas era de dois anos e meio.”

“Às vezes você acha bondade no meio do inferno.”

“Eu estava apaixonado de novo. Estava encrencado…”

“… sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, ideias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não ser. E aceitava isso.”

“Quanto mais rios você atravessa, mais você aprende sobre eles – quer dizer, se você consegue sobreviver à água translúcida e às rochas ocultas. De vez em quando, era um osso duro de roer, a vida.”

“Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante; dava muito trabalho. Eu queria mesmo era um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2011

“‘EU TE AMO!’, ela disse.
‘obrigado’, eu disse.
‘é tudo o que você tem
pra me dizer?’
‘sim.’
‘vá à merda!’ ela disse e
desligou.
o amor se esgota, pensei…”

“e você me inventou
e eu inventei você
e é por isso que nós não
damos
mais certo”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Numa fria”. tradução Marcos Santarrita. L&PM, 2011.

“O que eu odiava era que algum dia tudo se reduziria a nada, os amores, os poemas, os gladíolos. Acabaríamos recheados de terra como um taco barato.”

“A morte era tão chata. Isso era o pior sobre a morte. Era chata. Assim que acontecia, não se podia fazer nada. Não se podia jogar tênis com ela nem transformá-la numa caixa de bombons. Estava ali, como um pneu furado. A morte era estúpida.”

“Em nossa sociedade, os lugares interessantes, em sua maioria, ou são ilegais ou muito caros.”

“Sempre dormia até o meio-dia. Era o segredo de minha bem-sucedida existência.”

“O gênio talento seja a capacidade de dizer coisas profundas de maneira simples.”

“– O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”

“Talvez conseguisse dormir. O sono parecia a morte. Então adormeceu.”

“A vida é tão boa quanto a gente permite.”

“Os pássaros já haviam despertado, cantando, mas ainda estava escuro como breu. Logo as pessoas estariam se dirigindo para as autoestradas. A gente ouviria as autoestradas zumbirem, outros carros sendo ligados por toda parte nas ruas. Enquanto isso, os bêbados das três da manhã do mundo estariam deitados em suas camas, tentando em vão dormir, e merecendo esse repouso, se pudessem encontrá-lo.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “A mulher mais linda da cidade”. tradução Milton Persson. L&PM, 2012

“E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traía sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma joia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Pedaços de um caderno manchado de vinho”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2011.

“Posso ver o dia, o grande dia em que não haverá mais cadeias. Posso ver o dia em que quase todos os homens, sem usar o senso comum, rejeitarão prejudicar/machucar/matar deliberadamente seus semelhantes. Claro, haverá sempre um lobo fora da matilha. Mas este lobo se integrará cada vez mais à medida que a compreensão tomar o lugar do castigo.”

—–*—–*—–*—–

Charles Bukowski, no livro “Cartas na rua”. tradução Pedro Gonzaga. L&PM, 2014.

“— O oceano — eu disse —, veja ele lá, golpeando, arrastando-se para cima e para baixo. E embaixo disso tudo, os peixes, os pobres peixes lutando uns contra os outros, comendo uns aos outros. Nós somos como esses peixes, com a diferença de que estamos aqui em cima. Um movimento mal calculado e você já era. É bom ser um campeão. É bom conhecer os próprios movimentos.”

 ****

Mais sobre Charles Bukowski:
Charles Bukowski – poemas
Bukowski: “há um pássaro azul em meu peito”

© Direitos reservados aos herdeiros

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske

Revista Prosa Verso e Arte

Música - Literatura - Artes - Agenda cultural - Livros - Colunistas - Sociedade - Educação - Entrevistas

Recent Posts

Flor, telefone, moça – um conto de Carlos Drummond de Andrade

Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não…

9 horas ago

‘Primavera ao correr da máquina’ – uma crônica reflexiva de Clarice Lispector

Os primeiros calores da nova estação, tão antigos como um primeiro sopro. E que me…

9 horas ago

Chico Chico faz shows no Bona, em São Paulo

O palco é o habitat natural de Chico Chico. Extremamente visceral, entregue às canções, suas…

9 horas ago

Queremos! Apresenta:  Hermanos Gutiérrez em São Paulo!

Eles estão chegando: em mais uma empreitada do Queremos!, que reafirma seu compromisso em oferecer…

10 horas ago

Márcia Fráguas lança livro ‘It’s a Long Way – O Exílio em Caetano Veloso’

Lançamento It’s a Long Way – O Exílio em Caetano Veloso, livro de Márcia Fráguas…

10 horas ago

Denise Crispun lança o primeiro romance ‘Constelações Hipócritas’

A escritora Denise Crispun faz sua estreia como romancista com "Constelações Hipócritas", que recebeu, em…

10 horas ago