Universidade Estadual do Rio de Janeiro enviou ofício ao governador alertando para as dificuldades da instituição. Segundo o texto, se os salários, bolsas e verbas e custeio não forem pagas, “as atividades ficarão impossibilitadas”
Em carta endereçada ao governador Luiz Fernando Pezão, o Conselho da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) comunicou às autoridades e à população que “as suas atividades ficarão impossibilitadas nas diversas unidades acadêmico-formativas e administrativas”, devido à falta de pagamento, desde novembro, dos salários, bolsas e verbas de custeio. A instituição não anunciou a paralisação das atividades, mas informou no ofício que as condições atuais de trabalho estão prejudicando o funcionamento e podem levar a uma suspensão dos trabalhos.
A posição foi tirada na reunião do Conselho Universitário, na sexta-feira (6), e inclui o Hospital Universitário Pedro Ernesto e a Policlínica Américo Piquet Carneiro. A carta reafirma “a necessidade do pagamento integral de seus servidores (ativos e inativos) e a liberação dos recursos orçamentários necessários ao funcionamento imediato e permanente da Uerj” para “evitar tal situação [uma paralisação total]“.
Segundo a sub-reitora de Graduação, professora Tania Maria de Castro Carvalho, o desgaste e desprestígio com o não recebimento de verbas vem desde 2015, mas agora chegou a uma situação classificada como insustentável. “Desde meados de 2015 isso já começou a se aprofundar. Só que agora chegou numa situação de profunda agudização. Ainda não recebemos as bolsas, nem os salários dos professores e servidores, exceto os técnicos administrativos que são do hospital Pedro Ernesto e trabalham na área de saúde. São os únicos que receberam o salário de novembro” disse.
De acordo com ela, a falta de pagamento chegou a todos os setores, o que impossibilita a universidade de abrir as portas. “A Uerj tem funcionado muito precariamente, às vezes sem luz, sem internet funcionando, o serviço de limpeza pago é com atraso, segurança, restaurante universitário, tudo com atraso. Mas, principalmente, com atraso nas bolsas dos estudantes. São mais de 9 mil cotistas que têm a bolsa-permanência, que é uma verba do governo federal para permanência de quem tem baixa renda comprovada, além dos alunos bolsistas dos projetos da universidade que também estão sem receber desde novembro”.
Ela explica que nunca houve divisão da folha – como ocorreu agora, em que apenas os servidores do hospital receberam – e que a Uerj como um todo luta pelo pagamento integral. “O governo está inviabilizando que nós estejamos com as portas abertas para cumprir a nossa missão com a sociedade”, disse Tânia, destacando que “a Uerj se recusa a participar do desmonte da educação pública e da saúde pública no estado e no país. Essa é a posição inabalável da nossa universidade”.
Sem previsão
O governo do estado não confirma se recebeu o ofício da universidade. A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia informa que assuntos de pagamento são atribuição da Secretaria de Fazenda (Sefaz) que, por sua vez, respondeu à Agência Brasil que “desde o início do agravamento da crise financeira, a prioridade absoluta é o pagamento dos salários dos servidores do Estado”. Sem previsão de data, a Sefaz diz que “os repasses serão regularizados tão logo haja disponibilidade de recursos em caixa”.
Segundo a sub-reitora da Uerj, a folha de pagamento de salário do pessoal docente e técnicos administrativos ativos e inativos é de R$ 80 milhões por mês e a verba para manutenção e custeio de todos os campi da universidade é de R$ 23 milhões.
“Eu imagino que há 20 ou 25 anos não vemos uma crise tão grande na área de ciência e tecnologia no Brasil. Com a falta de investimento e com a necessidade de sustentar o investimento na pesquisa em si e na infraestrutura da universidade”, explicou Rodrigo Brindeiro, diretor do Instituto de Biologia da UFRJ.
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Leia abaixo à carta aberta à sociedade do reitor Ruy Garcia Marques e a reitora em exercício Maria Georgina Muniz Washington, com apoio de ex-reitores da Uerj:
A Uerj e o Futuro do Rio de Janeiro
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ao longo das suas mais de seis décadas de existência, cresceu e firmou-se como uma das principais universidades do País. Atualmente, éa 11ª colocada em qualidade entre as 195 universidades brasileiras, segundo o ranking da Times Higher Education de 2016, e a 20ª entre todas as universidades da América Latina.
Quando se considera o item “inserção de seus alunos no mercado de trabalho”, a Uerj ocupa o 8º lugar e, no item “produção científica”, ela é a 9ª, segundo o ranking das universidades brasileiras da Folha de São Paulo.
São cerca de 35 mil alunos em seus cursos de graduação, nas modalidades presencial e de ensino a distância, mais de 4 mil em cursos de mestrado e doutorado, cerca de 2 mil em cursos de especialização e 1,1 mil nos ensinos fundamental e médio (Instituto de Aplicação – CAp-Uerj). Além do Campus Maracanã, dispõe-se em 13 unidades externas, constituindo seis campi regionais espalhados pelo Estado do Rio de Janeiro, colaborando com seu desenvolvimento regional.
São também da Uerj unidades de saúde, como o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), a Policlínica Piquet Carneiro (PPC) e a Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI), esta última um importante projeto de extensão, com várias premiações internacionais.
O HUPE é um dos maiores e melhores hospitais do Rio, com mais de 500 leitos, 10.000 internações/ano e mais de 180.000 consultas ambulatoriais especializadas/ano. A PPC é responsável por mais de 200.000 consultas/ano e cerca de 8.000 cirurgias ambulatoriais/ano.
Fica clara, portanto, a importância da Uerj no cenário educacional de nosso Estado, bem como seu impacto positivo para a nossa economia, preparando recursos humanos muito qualificados para as áreas da indústria, da tecnologia, do comércio, da educação, da saúde e da pesquisa avançada. Um sem-número de nossos alunos tornam-se inovadores e empreendedores, gerando empregos e riquezas para o Rio de Janeiro.
Todos sabemos que a criação de novas indústrias no Rio de Janeiro é um ambicioso projeto de nossos governantes. Como elas poderão se instalar e continuar a oferecer empregos, sem a geração da mão de obra necessária? Como produzirão renda, sem a capacidade instalada laboratorial necessária para gerar inovação? Como produziremos riqueza, sem o conhecimento?
Não há progresso sem educação! São senhores do tempo aqueles que elegem a educação como prioridade, ninguém mais duvida disso.
Foram tempos difíceis aqueles em que a educação não era considerada um direito. Árduos tempos em que se tenta a efetivação do direito à educação em todos os níveis.
Há anos, um enorme esforço tem sido exigido por nossa sociedade nesse sentido. O esforço de um batalhão de operários da educação, em todos os níveis, tem sido recompensado por instituições educacionais mais pujantes para abraçar os ideais de uma sociedade justa e fraterna.
Entretanto, a Uerj está sendo sucateada, numa absoluta falta de visão estratégica por parte dos governantes do nosso Estado, a quem incumbe o financiamento de uma universidade pública e inclusiva como a nossa.
Desprezar o ensino superior, a pós-graduação e a pesquisa é apostar na miséria, na violência e num futuro sem perspectivas positivas.
Forçar o fechamento da Uerj é não pensar no futuro de nosso estado e de nosso país.
A Uerj e o Estado são perenes, os governantes não.
Ruy Garcia Marques – Reitor
Maria Georgina Muniz Washington – Vice-reitora
Com o apoio de ex-reitores da Uerj: Ivo Barbieri, Hésio Cordeiro, Antonio Celso Alves Pereira, Nilcea Freire, Nival Nunes de Almeida, Ricardo Vieiralves de Castro
Fonte: Agência Brasil| Congresso em Foco | UERJ