MÚSICA

‘Vão’, álbum autoral de José Miguel Wisnik

‘Vão’ o álbum de José Miguel Wisnik busca encaixar lentes de graus variados e múltiplas combinações de cores ao desenho de Brasil.
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VÃO é o mais novo álbum inédito de José Miguel Wisnik
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VÃO tem parcerias inéditas com Arnaldo Antunes, Carlos Rennó, Guilherme Wisnik, Luiz Tatit, Marina Wisnik e Paulo Neves. Participações de Ná Ozzetti, Mônica Salmaso, Marina Wisnik, Zahy Guajajara, Ilessi, Sophia Chablau, Carina Iglecias e Celso Sim.
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O álbum com 11 faixas – dez produzidas por Alê Siqueira e uma por Marcio Arantes – foi gravado entre maio de 2021 e julho de 2022. VÃO tem CD lançado pelo selo CIRCUS.
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Depois de Maquinação do mundo, livro sobre Carlos Drummond de Andrade e a mineração (2018), José Miguel Wisnik se recolheu durante a pandemia para os estúdios de gravação. Junto com Alaíde Costa vieram o álbum e o documentário O ANEL – Alaíde Costa canta José Miguel Wisnik (dezembro de 2020), por ocasião dos 85 anos de Alaíde. Ainda em 2020, lançou A terra plana, single/videoclipe contendo pistas para o que viria a ser o álbum inédito. E agora Wisnik apresenta VÃO, já disponível nas plataformas de streamings.
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As fotos e a arte visual do projeto gráfico ficaram a cargo de Bob Wolfenson e Elaine Ramos. O vão do Masp, a Avenida Paulista e o Parque do Trianon estão ali: o vão na capa, e seu avesso, o jequitibá, na contracapa.
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“O jequitibá”, com letra de Carlos Rennó, abre o álbum. Wisnik canta com Ná Ozzetti, com quem dividiu o disco NÁ E ZÉ (2015). É ele que é aqui celebrado – “o velho, belo e bom jequitibá do Trianon”, árvore centenária de quando “não havia Masp nem seu vão”.
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“O jequitibá” ganha também um videoclipe, dirigido pelo Coletivo Bijari e composto com quase 700 fotos de Bob Wolfenson, que fotografou a Avenida Paulista e o Trianon especialmente para o projeto. O clipe estará no youtube a partir de 19 de agosto.
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A segunda faixa, “Chorou e riu”, é uma “Meditação” sobre o Brasil (aludindo à canção de Tom Jobim e Newton Mendonça). Quem acreditou e viu o encanto do Brasil moderno da Bossa Nova despencar no “vão do horror” dos dias atuais, com insensatez “da hora e vez dos imbecis”? Às vozes de Mônica Salmaso e Zé Miguel soma-se um coro composto pela cantora carioca Ileci e as parceiras de Teatro Oficina, Carina Iglecias e Marina Wisnik.

Cantora, compositora e autora de palíndromos que permeiam o álbum, Marina Wisnik é intérprete e parceira em “Roma” e “Avesso vão“. Além essas, divide a voz com o pai em outras faixas, como “Iara”, feita para a filha de Zé Miguel e irmã de Marina, a estilista Iara Wisnik.
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Guilherme Wisnik trouxe a letra de “Estranha religião”: “Cada minuto produz um produto/ Pra te consumir”. A faixa conta com a participação de Japa System, Seko Bass e Junix, integrantes do Baiana Sound System. Nos vocais destacam-se Sophia Chablau e um surpreendente e arrebatador improviso de Zahy Gajajara falado e cantado em Ze’eng eté, língua do povo Tentehar-Guajajara.
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Parceiros recorrentes estão no álbum: “Sereia”, letra de Arnaldo Antunes sobre a travessia de uma doença mortal; “Deixe eu ir”, trata de um tema recorrente da poética de Luiz Tatit: “Um romance bom/Que escapuliu”; Carlos Rennó extraiu a partir do monólogo de Molly Bloom de James Joyce a letra de “Eu disse sim”, musicada por Wisnik.
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Não poderia faltar Paulo Neves, presente em todos os álbuns de Wisnik. Seu texto “O chamado e a chama” conduz ao encontro com dois cantores máximos cujas vozes são aqui sampleadas e homenageadas: Elza Soares, com quem Wisnik trabalhou em DO CÓCCIX ATÉ O PESCOÇO, e Gilberto Gil, para o qual, como sabemos, “O VERDADEIRO AMOR É VÃO”.
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Nenhuma nota é em vão nesse álbum que tem a marca de Alê Siqueira, produtor musical e parceiro de muitos dos projetos realizados e dirigidos por Wisnik.
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VÃO conversa com nosso tempo, com esse lugar em que nos encontramos, “encalhados no fado”. Revira os nossos nós, descortina o monstro que estava em nós, vê estourarem as bolhas do mundo da mercadoria. O disco todo desemboca em “Terra estrangeira”, releitura de um fado-choro wisnikiano que foi tema do filme homônimo de Walter Salles Jr e Daniela Thomas (1995), recriado aqui na voz de Celso Sim e nos violões conduzidos por João Camarero sob a inspiração de Villa-Lobos.
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Assim se encerra esse VÃO, com a esperança de que o Brasil retome o processo de civilização cuja onda se ergueu na do mar, arrebentou, mas ainda está por vir:
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………… Há um lugar (onde está?)
………… Há um lugar (sei que há)
………… Um lugar que faltei achar
………… Há um lugar (há de vir)
………… Só faltou descobrir
………… Um lugar e ainda quero ir

 

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Capa do álbum ‘Vão’ • José Miguel Wisnik • Selo Circus • 2022 | | foto: ©Bob Wolfenson / Projeto gráfico: ©Elaine Ramos

DISCO ‘VÃO’ • José Miguel Wisnik • CD / Digital • Selo Circus • 2022 
Canções:
1. O Jequitibá (José Miguel Wisnik e Carlos Rennó)
2. Chorou e riu (José Miguel Wisnik)
3. Roma (José Miguel Wisnik e Marina Wisnik)
4. Eu disse sim (José Miguel Wisnik e Carlos Rennó) / a partir do monólogo de Molly Bloom em Ulisses, de James Joyce)
5. Estranha religião (José Miguel Wisnik e Guilherme Wisnik)
6. Iara (José Miguel Wisnik)
7. O chamado e a chama (José Miguel Wisnik e Paulo Neves)
8. Sereia (José Miguel Wisnik e Arnaldo Antunes)
9. Deixe eu ir (José Miguel Wisnik e Luiz Tatit)
10. Avesso vão (José Miguel Wisnik e Marina Wisnik)
11. Terra estrangeira (José Miguel Wisnik)
– ficha técnica –
José Miguel Wisnik (piano – fx. 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 11; voz – fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10; teclado (baixo surdo) – fx. 2; teclado – fx. 3, 4, 5, 6, 7; teclados – fx. 9, 10) | Ná Ozzetti (voz – fx. 1) | Mônica Salmaso (voz – fx. 2) | Marina Wisnik (voz – fx. 3, 6, 7, 10) | Zahy Guajajara (voz – fx. 5) | Celso Sim (voz – fx. 11) | Neymar Dias (viola caipira – fx. 1) | Fabio Tagliaferri (viola – fx. 6) | João Camarero (violão – fx. 2, 11; arranjo para violões – fx. 11) | Gian Correa (violão de 7 cordas – fx. 11) | Vitor Casagrande (violão tenor – fx. 11) | Alexandre Fontanetti (guitarra – fx. 1, 4, 5; guitarras – fx. 3) | Marcio Arantes (guitarras – fx. 2; guitarra – fx. 8; baixo elétrico – fx. 3, 4, 7, 9, 10; contrabaixo acústico – fx. 6; clavinet – fx. 8; baixo synth e programação – fx.8) | Junix (guitarras – fx. 5) | Swami Jr. (baixo elétrico – fx. 1) | SekoBass (baixo elétrico – fx. 5) | Alexandre Ribeiro (clarinetes – fx. 6, 9; clarinete e clarone – fx. 10) | Ricardo Herz (violinos e rabeca – fx. 8) | Sérgio Reze (bateria – fx. 1, 10; gongos melódicos – fx. 1) | Big Rabello (bateria – fx. 3, 4, 7, 9) | Felipe Roseno (percussão: tamborim, garrafinha, shakers e cuícas – fx. 2; cabaça, surdo e shakers – fx. 9) | Japa System (percussão: bacurinhas, congas e torpedo) e beat eletrônico – fx. 5) | Pedro Bandera (percussão: clave, timbales, congas, bongô, maracas, guiro e campana – fx. 6) || Vozes – fx. 5: Marina Wisnik, Sophia Chablau, Carina Iglecias e Celso Sim | Vocais – fx. 2: Carina Iglecias, Ilessi e Marina Wisnik || Faixa 5: Intro sample de “Reza forte” (Russo Passapusso/SekoBass/BNegão). Fonograma gentilmente cedido por Máquina de Louco || Improviso de Zahy Guajajara falado e cantado em Ze’eng eté, língua do povo Tentehar-Guajajara | Faixa 7: Samples “Mulher do fim do mundo” (Romulo Fróes / Alice Coutinho), interpretada por Elza Soares, editada por YB Music. Fonograma cedido por YB Music./“Inverno” (José Miguel Wisnik), interpretada por Elza Soares. Fonograma cedido por Circus Produções./“Realce” e “Toda menina baiana” (Gilberto Gil), interpretadas por Gilberto Gil. Fonogramas gentilmente cedidos por Gege Produções Artísticas. | Faixa 11: Citação “Bachianas Brasileiras nº 5” (H. Villa-Lobos) || Produção musical: Alê Siqueira || Direção artística: José Miguel Wisnik || Faixa 8 produzida por: Marcio Arantes || Gravado de maio de 2021 a julho de 2022 por: — Adonias Filho – Estúdio Arsis (São Paulo) // — Alexandre Fontanetti – Estúdio Space Blues (São Paulo), assistente de gravação: Pedro Luz // — André Mehmari – Estúdio Monteverdi (São Paulo) // — Big Rabello – Estúdio Da pá virada (São Paulo), assistente de gravação: Frederico Pacheco // — Fabiano França – Estúdio Rock It (Rio de Janeiro) // — Japa System – home studio (Salvador) // — Junix – AMNIX studio art (Setúbal, Portugal) // — Marcio Arantes – Estúdio Audiorama (São Paulo) // — Pedro Vinci – José Miguel Wisnik (residência) // — SekoBass – Estúdio SB (Salvador) // — Sérgio Reze – Falando Música Estúdio (São Paulo) || Pré-produção: Pedro Vinci | Edições adicionais: Fernando Rischbieter | Mixagem: Gustavo Lenza | Masterização: Carlos Freitas – Classic Master USA | Projeto: gráfico Elaine Ramos e Julia Paccola | Fotos: Bob Wolfenson || Realização Circus Produções / Direção de produção: Guto Ruocco / Produção executiva: Mariana Dupas / Assistentes de produção: Lolita Beretta e Cristina Maluli / Assessoria jurídica: Caio Mariano Advogados e Young & Young Advogados / Administração: Sergia Percassi – Vinci Wisnik produções || Gravações/ registros por faixa: Faixa 1: Vozes e guitarra gravados no estúdio Space Blues; demais instrumentos gravados no estúdio Monteverdi / Faixa 2: Voz José Miguel Wisnik e violão gravados no estúdio Space Blues; voz Mônica Salmaso e vocais gravados no estúdio Arsis; guitarras gravadas no estúdio Audiorama; percussão gravada no estúdio Da Pá Virada; piano e teclado gravados em José Miguel Wisnik (residência) por Pedro Vinci / Faixa 3: Vozes e guitarras gravadas no estúdio Space Blues; piano gravado no estúdio Monteverdi; baixo elétrico e bateria gravados no estúdio Da Pá Virada; teclado gravado em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 4: Voz e guitarra gravadas no estúdio Space Blues; piano gravado no estúdio Monteverdi; baixo elétrico e bateria gravados no estúdio Da Pá Virada; teclado gravado em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 5: Vozes e guitarra Alexandre Fontanetti gravadas no estúdio Space Blues; voz Zahy Guajajara gravada no estúdio Rock It; baixo elétrico gravado no estúdio SB; guitarras Junix gravadas no AMNIX studio art; percussão e beat eletrônico gravados no home studio de Japa System; teclado gravado em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 6: Vozes, clarinetes, viola, contrabaixo acústico, piano complementar e percussão gravados no estúdio Space Blues; piano principal gravado no estúdio Monteverdi; teclados gravados em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 7: Vozes gravadas no estúdio Space Blues; piano gravado no estúdio Monteverdi; baixo elétrico e bateria gravados no estúdio Da Pá Virada; teclados gravados em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 8: Voz gravada no estúdio Space Blues; piano gravado no estúdio Monteverdi; demais instrumentos gravados no estúdio Audiorama / Faixa 9: Voz e clarinetes gravados no estúdio Space Blues; piano gravado no estúdio Monteverdi; baixo elétrico, bateria e percussão gravados no estúdio Da Pá Virada; teclados gravados em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 10: Vozes, clarinete e clarone gravados no estúdio Space Blues; baixo elétrico gravado no estúdio Da Pá Virada; bateria gravada no estúdio Falando Música; teclados gravados em José Miguel Wisnik (residência) / Faixa 11: Voz, piano e violões gravados no estúdio Space Blues.
#* Ouça o álbum na sua plataforma de música preferida: Spotify | Apple Music | Deezer | Youtube Music | álbum completo/Circus.
** Onde comprar? Clique AQUI.
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BOSCO, Francisco. Disco de Wisnik dá forma e sentido a um Brasil em chamas. In: Folha de S. Paulo, Ilustríssima, agosto/2022. Disponível no link. (acessado em 8.5.2023).

 

José Miguel Wisnik – foto: © Bob Wolfenson

JOSÉ MIGUEL WISNIK
José Miguel Wisnik é músico, ensaísta e professor sênior de literatura brasileira pela Universidade de São Paulo. Como intérprete de suas canções, lançou um primeiro CD que leva seu nome como título (1993), depois São Paulo Rio (2000), Pérolas aos poucos (2003), Indivisível (2011) e Ná e Zé (2015, com a cantora Ná Ozzetti). Fez música para dança, cinema e teatro. Entre as suas principais publicações estão O som e o sentido (1989), Veneno remédio – o futebol e o Brasil (2008) e Maquinação do mundo – Drummond e a mineração (2018). Recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (1978), o Troféu Noel Rosa como compositor-revelação (1989), o prêmio do Festival de Gramado (1989), o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1991, 1993 e 1995), o prêmio do Festival de Cinema do Ceará (2001), o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional (2019). Atuou como conferencista convidado em diversas Universidades do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos, como professor visitante na Universidade da California, em Berkeley (2006) e na Universidade de Chicago (2012).
>> José Wisnik na Rede: Site | Instagram | Facebook | Youtube/Circus.
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> Imagem (capa da matéria): José Miguel Wisnik – foto: © Bob Wolfenson
Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Samba / Canção.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

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