‘Vento Brando’ é o segundo álbum do violonista e compositor paulista João Camarero. O disco reúne composições de Radamés Gnattali, Garoto, Cristovão Bastos, Agustín Barrios, Canhoto da Paraíba, João Lyra, Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro.
“O primeiro ídolo de Camarero foi o violonista Dino 7 Cordas, que, ao lado de Jacob do Bandolim, integrou o lendário conjunto Época de Ouro. Com o tempo, Camarero seguiu outros caminhos. Ao contrário de Dino, que se manteve como músico acompanhante, tornou-se solista e começou “a puxar um fio que não acaba nunca”, agregando à sua formação referências da música erudita, como os impressionistas Maurice Ravel e Claude Debussy, sem se esquecer do brasileiro Heitor Villa-Lobos. “É uma amálgama de influências”, avalia.
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Foi justamente a “busca por ficar no limiar entre erudito e popular” que resultou no álbum “Vento Brando”. Além da beleza poética, o título do disco contém uma sutil cutucada. “Acho que virtuose é quem tem muitas virtudes, e a velocidade é apenas uma delas. Procuro colocar a música na frente do meu violão. Não é preciso quebradeira para alcançar a excelência”, opina.” [– trecho da entrevista de Camarero a Raphael Vidigal/ In: O Tempo, 4.7.2019].
João Camarero – Vento Brando
– por Lucas Nobile
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Certa vez, em uma conversa com o grande violonista, compositor e produtor João de Aquino, ele soltou a seguinte frase, que nunca mais me saiu da cabeça: “O Brasil é como uma árvore gigante; se você chacoalhar, não para de cair violonista bom”. Nesta sorte de infindáveis “espécies”, o que dizer desse solo fértil que já nos deu Garoto, Baden, Dino, Meira, Raphael, Dilermando, Pernambuco, Guinga, Turíbio, Rosinha e João Gilberto?
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Provando mais uma vez de seu poder de renovação inesgotável, aquela mesma árvore nos brindou, de uns anos para cá, com outro fenômeno: João Camarero, que desde seu primeiro disco já não era uma promessa, mas uma bem-vinda e confirmada realidade.
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Neste seu segundo álbum, Camarero des- ponta novamente irretocável. Basicamente, por combinar duas valências cruciais. A primeira delas vem para mostrar o intérprete de imensa personalidade que é João Camarero. E ele o faz diante de um repertório nada fácil de encarar, em composições dos gigantes Radamés Gnattali (“Tocata em Ritmo de Samba” e “Choro”) e Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (“Inspiração” e “Enigma”), de Barrios (“Valsa no3”), de Canhoto da Paraíba (“Quadradinho”),de Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro (“Camará”) e de João Lyra, que engrandece o disco com participação na sua “Makarasu”. É de impressionar a propriedade com que o violonista interpreta esses temas.
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A segunda virtude de Camarero é a de não se furtar em apresentar suas composições. E elas são ótimas; sejam criadas individualmente, como “O Maestro na farra”, ou sejam elas em parceria, como “Paulistano”, feita com Rafael Mallmith, e “Vento Brando”, com o excepcional Cristovão Bastos.
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Desde Raphael Rabello (no sete cordas) e Marcus Tardelli (no seis), não havia aparecido ninguém que tocasse combinando tanta pressão e limpidez em absolutamente todas as notas, em todas as frases, em todas as levadas.
É como se os grandes mestres do passado tivessem desbravado e aberto clarões em um canavial musical desconhecido. De nada adiantaria um violonista de hoje apenas retrilhar os passos de seus antecessores e ficar perdido, sem saber para onde ir neste “canavial descampado”. João Camarero já encontrou o seu caminho.
DISCO ‘VENTO BRANDO’ • João Camarero • GuitarCoop • 2019
Músicas / compositores
1. Tocata em ritmo de samba (Radamés Gnattali)
2. Choro [da Brasiliana nº 13].. (Radamés Gnattali)
3. Valsa nº 3 (Augustín Barrios)
4. Inspiração (Aníbal Augusto Sardinha ‘Garoto’)
5. Enigma (Aníbal Augusto Sardinha ‘Garoto’)
6. Paulistano (Rafael Mallmith e João Camarero)
7. Vento brando (João Camarero e Cristovão Bastos)
8. Makarasu (João Lyra) | Participação especial: João Lyra
9. Quadradinho (Canhoto da Paraíba) | Participação especial: de João Lyra e Lucas Arantes
10. O maestro na Farra (João Camarero)
11. Camará (Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro)
– ficha técnica –
João Camarero (violão – fx. 1-11) | Participação especial: João Lyra (violão – fx. 8 e 9); Lucas Arantes (cavaquinho – fx. 9) || Produção: Ricardo Dias | Idealização: GuitarCoop | Engenheiro de som: Gil Costa / Estúdio Bagual – Rio de Janeiro/RJ | Edição: Gil Costa | Mixagem: Ricardo Marui | Masterização: Ricardo Marui | Textos (encarte): Ricardo Dias e Lucas Nobile | Design gráfico: Marcela Bartz | Fotos: Daniel Capu | {Violões: Ricardo Dias 2005 and Obana Shigeo 2015 / Cordas: Augustine Regal/Blue / Microfones: Sennheiser EMI 184 / Sistema de Gravação: Universal Audio Apollo 16 / Pré-amplificador: Neve 1073 dpx e Cabos: Mogami} | Gravado no Estúdio Bagual, Rio de Janeiro, Brazil, em março de 2018 || Selo: GuitarCoop | Cat.: GC03JOC-18 | Distribuição: Tratore | Formato: CD / Digital | Ano: 2019 | #* Ouça o álbum: Spotify | Deezer | Apple Music | Youtube Music.
Leia também:
:: Álbum ‘Gentil Assombro’ do violonista e compositor João Camarero.
:: Álbum ‘Divina Dádiva-Dívida’, de Celso Sim e João Camarero.
:: ‘João Camarero’, primeiro álbum do violonista e compositor, selo Acari Records.
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Série: Discografia da Música Brasileira / Música Instrumental / MPB.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
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