Após mostra em Nova York, trabalhos do artista plástico deverão ser expostos no ano que vem no Rio
Cinzas do Museu Nacional viraram matéria-prima para uma série de novas obras do artista plástico Vik Muniz. Os trabalhos, que foram apresentados em Nova York no mês passado, deverão fazer parte de uma exposição prevista para março de 2020 no Centro Cultural Casa da Moeda, no Centro.
Localizado na Quinta da Boa Vista, o Museu Nacional abrigava um dos maiores acervos da América Latina até ser destruído por um incêndio provocado por um curto-circuito, no dia 2 de setembro de 2018.
— Era um dos meus museus preferidos. Passei horas lá na minha primeira visita. Tinha uma aura de mistério que fazia com que você quisesse descobrir o que não sabia — afirma Vik. — Lembro, por exemplo, de várias conversas que tive com meu filho sobre a múmia de um gato.
A peça em questão era um felino mumificado no Egito do século I A.C. e foi reproduzida em 3D pelo artista. Vik ainda usou cinzas para recriar uma estatueta de Amun Menkheperrê (filho e irmão de faraós) esculpida por volta de mil anos antes de Cristo e o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil.
— Ficamos contentes com a atenção recebida, que certamente vai contribuir para a reconstrução do Museu Nacional — diz o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner. — Estamos esperançosos que, por meio da exposição de Vik Muniz, muitas pessoas passem a ter um sentimento de pertencimento à instituição. O Museu Nacional é de todos.
A mostra de Vik em Nova York, montada na galeria Sikkema Jenkins & Co., contou com as três reproduções e com 11 fotos de desenhos feitos a partir de cinzas do museu. Uma dessas imagens reproduz a fachada do prédio. O artista plástico também recriou borboletas Lepidoptera Nymphalidae que faziam parte da coleção de mais de 5 milhões de itens da área de entomologia (que trata de insetos) e o esqueleto de um titanossauro.
Vik produziu as obras nos últimos seis meses, e parte de seus trabalhos não chegou a ser exposta nos Estados Unidos. Uma reprodução do caixão da cantora-sacerdotisa Sha-amun-em-su, datado de 750 A.C. e dado de presente pelo vice-rei egípcio Ismail a Dom Pedro II, está entre as peças inéditas.
— Fiquei muito surpreso com a repercussão internacional da mostra. Quase todos que iam à exposição em Nova York sabiam do incêndio e manifestaram um carinho muito grande pelo museu — conta Vik.
A ideia do artista é colocar as peças à venda e fazer com que o dinheiro arrecadado seja destinado às equipes que tentam recuperar tesouros do museu. Ele espera que o dinheiro viabilize a aquisição de equipamentos e a produção de um livro com as histórias das pessoas envolvidas nos trabalhos de resgate.
Vik lembra que, no dia do incêndio, fazia uma instalação formada por 65 mil dálias no quintal da casa onde o pintor Van Gogh nasceu, em Zundert, na Holanda.
— Quando soube da tragédia, fiquei uma noite toda sem dormir. Foi um choque saber que aquele lugar tinha deixado de existir. Foi como se um buraco enorme tivesse se aberto na minha cabeça. Não senti raiva. Senti vergonha. Os culpados fomos todos nós — afirma Vik.
Fonte: O Globo.
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